Cap. 02 - A casa de n° 72

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O sorriso largo em seu rosto mostrava a felicidade de me ver novamente. Não havia mais sardas em seu rosto. As marias chiquinhas deram lugar a um cabelo longo e solto, os óculos ainda estavam ali, continuava baixinha e havia abandonado os vestidos que amava na infância. Usava uma calça jeans e uma blusa branca que combinavam com o All Star xadrez vermelho.

- Chaves - dizia ela em meio a um sorriso - Ha quanto tempo.

- Sim. Alguns - coço minha cabeça - Então Maria Chiquinha Francisca Valdez Madruga quais são as novidades?

- Só não é mais besta porque chegou atrasado na distribuição de cérebro.

Começamos a rir.

- Sabe que pode me chamar de Chiquinha.

Rio sem graça.

- Estou tao acostumado com as formalidades que esqueço que não preciso ser sempre tão impecável.

Ela riu.

- Esta falando engraçado também... Não precisa agir dessa forma.

Chiquinha caminhou ate a velha escada onde ficávamos sentados em nossa infância em divertidas partidas de xadrez ou apenas ali observando o céu. O barril no qual eu vivera continuava ali. Caminho ate ele e o olho. Minhas mãos passeiam pela velha borda de madeira.

- Não era perfeito e nunca tivemos muito, mas de certa forma eramos felizes.

Caminho ate o seu lado e me sento, meus braços a envolvem em um abraço.

- Você nem ao menos se despediu. - disse ela tristonha.

- Eu não tive muito tempo. Tudo foi tao rápido.

- E mesmo assim você não pode dizer adeus a todos nos, a não ser ao...

- Frederico. - completei sua frase.

- Ele foi o único que conseguiu dizer adeus a você.

- Eu sinto muito.

- Tudo bem... - disse ela por fim - O.importante é que você voltou. Não é?

Havia duvida em seu rosto. Um desconforto em dizer aquilo. Como se eu fosse novamente.

Abandona-los.

A palavra pesou em minha mente e me senti mal por ter ido embora daquela forma.

- Chiquinha! - a voz dele ecoou pelo patio quando ele abriu a porta.

Nos levantamos rapidamente. Os olhos deles piscaram e pareciam não acreditar no que estavam vendo.

- Chaves é você?

Dou um largo sorriso e coço a cabeça.

- Oi seu Madruga tudo bem?

Don Ramon não havia mudado muito. As rugas lhe eram mais visíveis. O cabelo estava esbranquiçado. Continuava usando o velho e surrado chapéu azul, a camisa azul marinho que se confundia com o preto e a calça jeans velha. Ele parecia fraco. Chiquinha correu ate ele e serviu de apoio ao seu pai.

- Esta tudo bem? - perguntei preocupado.

Ele riu esforçadamente.

- Estou. Não é nada Chavinho.

Disse ao se aproximar de mim e colocar a mão em meu ombro.

- Você cresceu Chaves. Não parece mais o garoto que vivia naquele barril.

Eu o abracei e as lagrimas começaram a rolar do meu rosto. Meus olhos ardiam enquanto ele carinhosamente dizia tentando me acalmar.

- Esta tudo bem Chavinho. Nos vamos ficar bem. Que bom que voltou para casa.

As lagrimas ainda estavam la. Chiquinha também chorava. E eu sabia que algumas coisas não tinham mudado.

- Chiquinha traga seu Madruga ate meu carro.

- Você tem um carro? - perguntou surpresa.

- Chiquinha! - falou seu Madruga a repreendendo.

- Depois explico. Vamos.

A velha vila não mudara de verdade. Eu ainda podia ver todos nos brincando pelo patio. Fazendo bolinhos de lama, jogando xadrez na velha escada ou no dia em que fui embora desta vila, deixando a todos que eu considerava a minha família.

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Era branco e o cheiro me incomodava. Nunca gostei daquele ambiente, mas não era eu que necessitava de cuidados médicos. Eu estava preocupado com a saúde do Seu Madruga. Chiquinha parecia preocupada quando saio do quarto e me fitou.

- Chaves. Eu não tenho dinheiro. E os remédios são caros. - as lagrimas brotavam dos seus olhos.

- Calma Chiquinha. - disse em meio a um sorriso. - Eu pagarei tudo.

- Mas...

- Amanha eu explico. Deixei tudo resolvido. Qualquer coisa - entrei a ela um papel com meu numero - ligue pra mim.

- Esta bem.

- Tenho que ir. Meus pais devem esta me esperando.

Não houve tempo para que ela fizesse mais perguntas, me virei e caminhei em direção a saída.

- Chaves! - ela gritou.

Chiquinha veio ao meu encontro e me beijou, e logo em seguida correu para o quarto do pai e me deixando ali estático no meio do corredor.

A Velha Vizinhança | Fanfic BL do ChavesOnde histórias criam vida. Descubra agora