A árvore deu novos botões no fim do dia, e de noite foi abrindo uma fortuna de pétalas, e de
manhã elas secaram ao sol, caíram com a brisa. Ia passando uma mulher, viu uma nota, pisou
em cima; aí botou as mãos nas cadeiras, como se sentisse a dor de lavar roupa todo santo dia,
ou a dor de carregar filho enganchado na cintura, e assim, curvada de dor, tirou o pé de cima e
viu que era a mais graúda das notas do país!
Então agachou para arrumar a sandália, catou a nota e enfiou depressa nos peitos, levantou e
foi para casa andando reta sem olhar para os lados.
Conforme ia chegando ia flutuando. Entrou em casa voando, passou o trinco e encostou as
costas na porta, suspirando igual em novela de televisão; mas naquele tempo a televisão ainda
não tinha chegado à Felicidade, encravada no meio dos morros: era preciso antenas tão altas
que ninguém tinha tanto dinheiro.
Mas ali, suspirando atrás da porta e olhando os móveis de presente de casamento, séculos
atrás, ela se prometeu que ia ter uma televisão, com antena tão alta como torre de petróleo.
Guardou a nota debaixo da lata de farinha e saiu para contar ao marido, tão animada que pisou
em outra nota e não viu; mas viu que a rua estava movimentada: um assanhamento de gente
andando para lá e para cá como não se via há muito tempo.
Mas alguma coisa não estava certa: ninguém falava com ninguém, todo mundo de mãos nas
costas e olho no chão, como se de repente amanhecessem filósofos e andassem pensando.
Pensando nisso, ela também olhou o chão e achou outra nota. O
coração quase saiu pela boca; agachou, catou, enfiou nos peitos e não foi atrás do marido,
virou filósofa também.
Quem não sabia, via pela janela e pensava que Felicidade ia ficando doida: velhos e
mulheres, moças e rapazes andavam pela rua sem se olhar e sem tirar os olhos do chão.
Mas logo alguém agachava e catava alguma coisa; então mais alguém saía de casa para ver
o que andavam achando, e logo começava a procurar também, de modo que mais e mais gente
zanzava trombando uns nos outros, andando em círculos, baratas tontas, agachando rápido e
catando, e se afastando depressa como se fosse alguma coisa suja e vergonhosa.
Nessa hora o açougueiro saía de caminhonete, buzinando para a molecada, com uma lista de
encomendas de carne para buscar na cidade vizinha. Depois voltava, entregava tudo e pegava
a vara de pescar, uma lata de minhocas e uma garrafa de vinho.
Antes do meio-dia já estaria a caminho do rio, para sentar no barranco e tirar fieiras de
lambaris.
No caminho para o rio, mulheres sempre punham a cara na janela, perguntavam se ele ia
pescar. Sempre tinha vontade de responder que não, que estava levando as minhocas para
tomar banho e a vara para tomar sol, mas respondia sempre que sim, estava indo pescar.
— A senhora precisa de alguma coisa?
— Um punhadinho de lambaris, se o senhor puder.
— Se Deus quiser eu trago — ele dizia sempre; e assim, quando chegava no rio, já tinha
meia dúzia de encomendas.
Quando o sol ficava bem no meio do céu, ele tirava um sanduíche do embornal, comia
devagar, depois ficava de pé e urinava no rio, com respeito; tornava a sentar no barranco e
não levantava mais até encher fieiras de lambaris. Voltava parando de casa em casa, bebendo
numa um dedo de pinga, noutra um copo de vinho em troca dos lambaris.
Chegava em casa com um pé andando para cá e outro pé andando para lá; de modo que ele
ia se equilibrando até sentar, aí a mulher começava com a ladainha: — Onde já se viu
açougueiro dar peixe de graça todo santo dia, e...
Ele ouvia com sorriso na cara, mastigando arroz com feijão e peixe.
Depois se espreguiçava e ia dormir; mas antes sempre achava bom dizer alguma coisa à
mulher, então parava na porta do quarto, pensava, pensava e dizia sempre:
— Amanhã vai ser outro dia.
— Decerto que vai — ela continuava falando para as paredes: — Ele vai pegar a vara e
encher a cara de vinho no rio como faz todo santo dia.
Então ele arrotava dizendo amém, e caía na cama.
Mas naquele dia tudo começou diferente. Saiu cedinho de caminhonete, e viu metade da
cidade andando na rua de mãos nas costas, todo mundo sério como numa procissão
desencontrada.
Parou numa moça: — Que que estão procurando?
— Procurando? Quem que está procurando?
— Todo mundo. Não está todo mundo procurando?
— Eu não — disse a moça, e continuou procurando.
O açougueiro rodou com a caminhonete caindo aos pedaços, parou num velho: — Que
procuram tanto?
O velho piscou, tornou a piscar: — Perguntou alguma coisa?
— Perguntei o que todo mundo tanto procura.
O velho botou a mão no ouvido: — O quê?
— O que, pergunto eu; não sabia que o senhor estava ficando surdo.
E gritou: — Que que estão procurando tanto?!
— Procurando? Ninguém está procurando nada — disse o velho, e continuou procurando.
O açougueiro jogou os ombros para cima e eles caíram de volta no mesmo lugar, que é um
gesto que não custa nada e resolve tudo: decerto estavam todos ficando loucos — mas
pareciam estar se sentindo muito bem, então que procurassem até gastar a rua, e fim. Ele
também não tinha mania de pescar todo dia feito louco manso? Então.
Viu a mulher na janela, resmungou entrando na caminhonete: — Quem dera ela ficasse um
pouco louca também; quem sabe parasse de ver loucura em mim.
E partiu; no primeiro buraco, um pára-choque caiu: — Cato na volta.
Um dia, quando tivesse dinheiro, ia ter uma caminhonete nova. Agora tinha pressa:
precisava trazer carne a tempo de a mulherada fazer o almoço. Então acelerou, levantando
poeira e notas de dinheiro.
Quando cruzou a ponte de volta, ouviu um clamor como se a cidade estivesse em festa, ou
como se o rio de repente tivesse uma cachoeira. E, conforme foi passando pelas primeiras
casas, estranhou não ver ninguém nos quintais nem nas janelas, nem na rua: ninguém. Era uma
cidade deserta com um tropel, uma revolução lá adiante na praça.
Na praça, parou a caminhonete e desceu esquecendo de desligar o motor, sentou no estribo
e ficou olhando de boca aberta.
A praça estava tomada por uma multidão, turbas que se juntavam e tornavam a se apertar em
tropel, na lei de cada-um-por-si: gente se arranhava, rastejava, brigava; corriam, pulavam,
gritavam disputando galhos de árvores! O padre tinha ajoelhado na escadaria da igreja e
rezava olhando para o céu com um ramo da árvore na mão, ao lado de um coroinha olhando
tudo tão arregalado que os olhos quase engoliam a boca.
Velhos e moças, crianças e mulheres, até as grávidas, todas se engalfinhavam disputando
pedaços de galhos, puxando para cá e para lá, arrastando, cortando à faca e a canivete,
torcendo, mordendo, até que cada galho ia sumindo aos pedaços. Cada um que conseguia seu
pedaço, por mais fino que fosse, corria para casa — e logo voltava correndo. A praça rugia.
O bêbado de Felicidade encostou na caminhonete: — Capaz de chover, hem.
— Capaz.
— Então me paga uma pinga.
— Minha mulher diz que você vai morrer de tanto beber.
O homem estava com pés de elefante, os olhos mal abriam na cara inchada, mas ainda
conseguia piscar com malícia: — Quem dá, dá se quiser. Quem recebe, gasta no que quiser.
O açougueiro pensou um pouco, enfiou a mão no bolso, deu dinheiro.
Uma nota rolou no vento entre eles, e não viram. O bêbado afastou tropeçando, o
açougueiro olhou a praça: agora só restava o tronco enraizado da árvore, e logo foram
surgindo pás, picaretas e enxadões.
Os homens começaram a cavucar com as mulheres em volta, e conforme cavavam elas
arrepanhavam os vestidos no meio das pernas, prontas para se apinchar no primeiro pedaço de
raiz, enquanto os homens gritavam que tinha gente demais em volta, que alguém ainda acabava
levando uma picaretada, e se ensopavam de suor cavando com fúria como se o toco fosse fugir chão abaixo.
O toco foi estraçalhado. Depois começaram a estraçalhar as raízes, puxadas da terra como
mandioca; e de novo se formaram turbas rolando pela praça atrás de cada pedaço. Alguém
agarrava um pedaço no peito e fugia aos trambolhões, o povo correndo atrás com unhas e
dentes, até que o pedaço de raiz se espedaçava mais, de modo que até crianças corriam com
seus pedaços, perseguidas por outras crianças entre cachorros assustados, enquanto mulheres
e homens cavucavam, agora com as mãos, até as raízes mais finas, das pontas, das pontas das
pontas. Depois começaram a peneirar a terra, até o último pedaço, até que foram todos para
casa cuidar das feridas e plantar as raízes e galhos da árvore que deu dinheiro.
Então o açougueiro rodou até o açougue, descarregou as carnes, abriu a porta e não
apareceu ninguém. Todos cavucavam valas nos quintais, ou recolhiam esterco nos pastos para
adubar a terra, e no fim da tarde ainda regavam as mudas plantadas, olhavam contra a
claridade as notas achadas de manhã: eram todas verdadeiras, com número de série,
assinatura do ministro e as Armas da República em marca-d'água. Sim senhor, eram
verdadeiras; eram sim — ou a própria vida seria de repente um sonho? Olhavam de novo, era
realidade: uma árvore tinha dado dinheiro em Felicidade!
Trombavam zanzando pelos quartos, pegando e largando coisas como se fossem partir de
viagem sem saber para onde. Cada família combinava como erguer mais a cerca ou cimentar
cacos de vidro no muro para proteger as árvores que dariam dinheiro.
Casais brigavam: — Não rega mais que eu já reguei.
— Água, melhor sobrar do que faltar.
— Vai afogar a muda, mulher!
— De planta, eu entendo! Tira a mão!!
Outros faziam promessa: — Se der dinheiro, prometo as três primeiras notas para Nossa
Senhora da Aparecida.
— E se der só três?
O açougueiro pegou a vara de pescar e pescou o dia inteiro. De noitinha voltou para casa, a
mulher picava alguma coisa na tábua de carne.
— Que é isso?
— Palha de milho e casca de banana.
— Nunca vi cozinhar isso.
Ela parou olhando bem para ele: — Tá louco? Onde já se viu cozinhar palha?
— Nem comer nem cortar — ele falou procurando a janta no fogão: não tinha janta.
— Você não sabe o que está acontecendo, homem de Deus?
— Desconfio: está todo mundo ficando louco.
— Ninguém está ficando louco, homem de Deus! Nós vamos é ficar ricos, isto sim!
Ela falou saindo para o quintal, foi despejar a palha e as cascas nas covas.
— Pra adubar — explicou suspirando e olhando cada cova, como se olhar também
adubasse.
Aí tirou do decote metade duma nota e mostrou ao marido. Ele pegou, olhou.
— Onde você conseguiu?
Ela olhou para ele como se fosse a primeira vez na vida que via aquele homem. — Então você não sabe que a árvore da praça deu dinheiro?
Ele fuçava no forno procurando comida, falou sem se virar: — E você acreditou nisso?
Ela quase esfregou a nota na cara dele: — E isto aqui o que é?
Ele achou batata-doce assada, falou com a boca cheia: — Se estava dando dinheiro, por
que acabaram com ela?
A mulher falou como se enfiasse as palavras na cabeça dele: — Pra plantar, homem de
Deus!
Então ele disse que ia fritar uns ovos, precisava comer e dormir: — Amanhã vai ser um
novo dia.
Eles que plantassem árvores à vontade, inclusive as que davam dinheiro: — Quanto mais
árvores no mundo, melhor.
Nessa hora todos que já tinham tirado as roupas melecadas de terra e suor, tinham tomado
banho e agora arriscavam botar a cara na rua com roupas limpas e boas-noites. Olhavam os
arranhões uns dos outros e baixavam a cabeça, não falavam nada. Olhavam a cratera na praça
como se fosse feita por um disco voador, como se cada um achasse que só ele tinha visto e que
ninguém ia acreditar na história.
Um menino começou a falar — Eu que descobri que a árvore dava dinheiro — mas levou
logo um tapa na cabeça — Cala a boca, infeliz! — e não se falou mais no assunto.
Na noite seguinte as crianças brincavam de novo na rua, os velhos botaram cadeiras na
calçada e as mulheres batiam palmas no açougueiro para encomendar carne.
Assim, um dia depois do outro e uma noite no meio, o tempo foi passando; ou melhor: as
árvores foram crescendo.
Todas elas.
Nenhuma muda morreu, todas brotaram em menos de uma semana, e um bosque começou a
crescer nos quintais.
Marido e mulher deram de afastar os pratos depois da janta, para rabiscar planos e contas
na madeira da mesa: tinham plantado tantas árvores e, se cada uma desse uma média de tantos
cruzeiros em um ano, eles derrubariam a casa cômodo por cômodo, ano a ano, construindo
pouco a pouco uma casa nova.
— Com azulejo do chão até o teto, na cozinha — dizia a mulher olhando o futuro através
das velhas paredes.
— E no banheiro também — dizia o marido.
— No banheiro não, nos banheiros. Que custa um banheiro a mais? Eu sempre quis uma
casa com dois banheiros... mas minha opinião nunca valeu nada.
— Então tá bom, dois banheiros. É que eu queria uma garagem...
— Pra quê? A gente não tem carro!
— Estou pensando em comprar um, usado.
— Meu pai sempre disse que carro usado é bom pra quem gosta de oficina.
— Então a gente compra um novo, pronto.
— Por falar em comprar coisa nova...
A mulher corria o olhar pelos móveis.
— ... que você acha de trocar essa velharia?
Mas o marido nem ouvia, estava também com o olhar perdido no futuro; de repente voltava
com os olhos brilhando: — Quer saber duma coisa? Bobagem construir a casa nova aos
poucos; melhor é derrubar tudo duma vez e construir depressa com o dinheiro na mão.
A mulher piscava assustada com a idéia: — Mas onde a gente vai dormir enquanto isso?
O marido abanava a cabeça desacorçoado: ela precisava entender que com o dinheiro na
mão era tudo diferente: — A gente sai de viagem. Vamos conhecer o país todo...
— ... ou o mundo todo, de avião!
E assim os casais viajavam nas casas depois da janta; os moços pediam pelo Correio
catálogos de excursões pelos sete mares; e as moças pediam revistas de modas, folhetos de
perfumes e de jóias. Velhos olhavam um canto da sala e apontavam o dedo rugoso:
— A televisão vai ficar bem ali.
O motorista do táxi encheu o tanque, foi até a capital ver carros novos para comprar. E nos
sábados e domingos o ônibus deu de correr lotado: os felicenses iam ver preços e vitrinas nas
outras cidades. No caminho iam perguntando uns aos outros, como quem não quer nada, que
preço o compadre queria na chácara perto do rio; e, se fosse vender um dia, quanto a comadre
ia pedir pela geladeira usada; ao que a comadre respondia que, dependendo de uns negócios
em vista, quem sabe até desse de presente a geladeira velha...
O motorista do ônibus morava em outra cidade e ia ouvindo, sempre com um sorrisinho; e
às vezes falava para si mesmo: — Só se a cidade toda ganhar na loteria...
Na outra cidade, felicenses perguntavam o preço de tudo, comparavam marcas e
planejavam casas em papéis de cigarro, em guardanapos de bar e depois em papéis cada vez
maiores: as casas começavam com dois quartos, terminavam mansões.
Enquanto isso, choveu uma semana, depois saiu um sol de cozinhar miolo; as árvores
cresciam furiosamente.
Dava até medo ver como cresciam: hoje três folhas, amanhã mais cinco, doze depois de
amanhã; e cada folha virava galho com mais folhas, enquanto os troncos engrossavam com
uma casca cada dia mais rugosa.
Gente começou a faltar no emprego.
Um belo dia, um bar amanheceu de porta fechada.
Depois, a sapataria.
Um dos armazéns.
Nos quintais, as árvores já se roçavam; e na sombra delas foram murchando laranjeiras e
limoeiros, hortas e caramanchões.
Outro bar amanheceu de portas fechadas; o dono preferiu botar uma cadeira no quintal e
ficar vendo os galhos: na ponta de um deles abriria a primeira flor, e então ele queria estar
bem ali.
Depois outro armazém fechou as portas, mas o dono não foi esperar sentado; foi
encomendar caixas de bacalhau, sacas de feijão e arroz, açúcar, chocolates, mantas de carne-
seca, latarias e guloseimas como nunca tinham visto mesmo no tempo dos tropeiros. O dono
do outro armazém viu um caminhão descarregando as encomendas, pensou um pouco e logo foi
ele também fazer compras: tudo que o outro trouxe, e mais cerejas em calda, azeitonas
recheadas, vinhos, patês, vidros de cogumelos, conservas e cremes, e toda miudagem de
comer e de vestir que ocupasse pouco espaço nas prateleiras.
Depois que descarregou e arrumou tudo, ficou olhando o estoque na penumbra, esfregando
as mãos. Tinha se endividado até a alma, mas as árvores logo dariam dinheiro e... Estendeu no
chão uma faixa de pano e escreveu com capricho letras enormes. No dia em que começasse a
correr dinheiro em Felicidade, ia levantar as portas com alto-falante tocando música e
estender a faixa lá fora: Grande estoque de ”Novidades”!
E, esperando novidades, quem estava noivo achou melhor esperar mais uns tempos antes de
casar.
Quem estava doente esqueceu a doença, porque logo poderia se tratar.
Quem tinha inveja esqueceu, porque logo ia ter tudo que quisesse; e quem tinha ódio
começou a perdoar: não tinham mais tempo nem para odiar.
Era preciso escrever rol de roupas para comprar, listas de preços de móveis; e colecionar
propagandas de automóveis, liquidificadores, batedeiras de bolo, aspiradores de pó, rádios,
toca-fitas, exaustores, espremedores de laranja, escovas de dente elétricas e tudo que as
revistas anunciavam.
— Quem nunca teve nada... — disse o bêbado ao açougueiro — quem nunca teve nada
compra até desentortador de banana.
E, com medo de o povo ir gastar nas outras cidades, agora todos os comerciantes faziam
estoques, para pagar a prazo. Mas até lá... esfregavam as mãos, faziam faixas de propaganda:
A árvore dá dinheiro nós damos “Desconto”!
Meninos espiavam pelas frestas, iam contar aos pais a propaganda dos concorrentes.
Quem vê preço não vê qualidade!
A portas fechadas, os comerciantes trabalhavam com fúria: as árvores já estavam abrindo
botões! O açougueiro foi comprar um fósforo no bar, estava fechado, o outro bar também, e no
outro o dono estranhou: — Só fósforo?
E nem quis cobrar, fechou o bar e foi para o quintal olhar as árvores, roendo as unhas.
Metade de Felicidade rezava, metade roía as unhas. No meio das duas metades, o bêbado
batia de bar em bar. O açougueiro consolou: — Deixa pra beber amanhã.
O bêbado: — Amanhã é outro dia.
E foi a pé até a outra cidade, resmungando; era bêbado mas tinha princípios: — Hoje não
pode ficar pra amanhã.
Em Felicidade, todos olhavam as árvores: amanhã...
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A Árvore que Dava Dinheiro - Domingos Pellegrini
DiversosQuem disse que dinheiro não cresce em árvores? Os habitantes de Felicidade herdaram de um velho sovina uma semente mágica. Nasceu uma árvore de onde as notas brotavam em grande quantidade! A euforia foi geral! Já pensou? Enriquecer de repente, depoi...