Vamos ter um bebê!

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Sou acordada com um empurrão repentino. Um Dean inquieto se remexe a meu lado, seu rosto exibindo uma expressão sombria, atormentada.
Delicadamente me aproximo.
– Dean? – falo, afastando uma mecha de cabelo de seus olhos. Ele parece se acalmar ao som de minha voz – Shh, está tudo bem, você está bem – sussurro – Tudo não passa de um pesadelo.
– Não é apenas um pesadelo – sua voz me assusta, nunca o ouvi assim. A luz da lua invade a janela e é apenas o suficiente para que eu veja seu semblante assombrado. Meu coração se parte em mil pedaços ao vê-lo assim pálido. Engolindo em seco, pergunto:
– Você quer conversar?
Sorrindo fracamente ele nega. Talvez seja egoísta dizer que sinto certo alívio em não ter que ouvi-lo sobre o que quer que o atormenta. Será ainda mais difícil ter de deixá-lo ir depois de ter permitido que ele se aproximasse ao ponto de me deixar vê-lo por inteiro. Tenho medo do que podsso encontrar se olhar fundo o bastante, tenho medo do que esta descoberta poderia fazer a mim e a meus sentimentos. Tenho medo de mergulhar na escuridão de meu garoto problema e nunca ser capaz de deixá-lo novamente.
Então apenas permito que ele me abrace e adormeço com a lembrança de seus olhos tristes e sombrios.

~~
Acordo com um aroma embriagante fazendo cócegas em meu nariz, é um cheiro que eu conheço bem, o cheiro que me atormenta a todo momento, o cheiro dele. Dean ainda adormecido, calorosamente cobre meu corpo com o seu. Sua cabeça descansando perigosamente entre meus seios enquanto seus braços me apertam e suas pernas se engancham as minhas. Uma posição um tanto curiosa, peculiarmente maravilhosa, mesmo com todas as camadas de roupas que nos separam. Fechei os olhos mesmo tendo consciência de que raios de sol invadem minha janela e pássaros já cantam anunciando um belo dia ensolarado...

A voz dele invade meu sonho sobre bebês e cachorros assassinos.
Dean está cantando? E que cheiro maravilhoso é esse?
Levantando da cama, caminho lenta e cuidadosamente para não o assustar.
Usando apenas um jeans perigosamente baixo que deixa muito pouco para minha imaginação lá está ele, cantando na minha cozinha enquanto segura uma frigideira.
Poderia ter anunciado minha presença, mas a cena que se desenrola a minha frente é curiosamente mágica. Ainda não havia me acostumado a este novo Dean Hunt que mais parecia ser o gêmeo bom de meu marido. Este Dean que sorria, cantava e até mesmo era um cavalheiro. Por um momento me vi presa a uma bolha de felicidade que não sabia descrever e nem ao menos entendia. Tentando não fazer barulho vou até o banheiro.


Minutos depois caminho sem jeito para a cozinha. Seus olhos me saúdam e não consigo evitar pensar em seu pesadelo e em como ele parecia quebrado. Silenciosamente começo a ajudá-lo e logo temos uma mesa de café da manhã muito digna se assim posso dizer. Juntos preparamos ovos, bacon, waffles, algumas panquecas e suco de laranja. Ele trabalhava em minha cozinha como se fosse o dono do lugar, Dean a dominava com todo seu tamanho e me peguei sorrindo, imaginando como as coisas poderiam ser...
Mas então minha pequena bolha se vai quando a lembrança dele e Megan se força para dentro de minha cabeça, trazendo com ela um sabor amargo de decepção e derrota. Meus dedos apertam com força o garfo e o sabor doce da panqueca vira cinzas em minha boca. Estou comendo com meu inimigo, dormi com ele, cozinhei com ele e...

– Algo errado? O suco está muito doce? – pergunta ele.

– Você precisa ir embora – falo, desviando meu olhar de seus olhos. Evitar qualquer tipo de contato é o mais sensato a se fazer.
– O que quis dizer com isso? – sua voz sai baixa e rouca. A alegria que a pouco o movimentava pelo cômodo sumira.
– Isso - começo, o fitando novamente, gesticulando entre nós dois – , nunca irá acontecer. Eu não quero que tenha falsas esperanças de uma família feliz de uma casa com cercas brancas e toda essa baboseira que vemos em filmes – eu forçava as palavras para fora sem nem ao menos entender por que precisava ser tão cruel com ele e comigo mesma –, você e eu sabemos muito bem que pessoas como nós não devem ficar juntas e antes que diga que não acredita nisso eu preciso que pense com clareza. Eu ainda não decidi se quero essa criança ou não e...
– Não faça isso. Não seja uma vadia egoísta não combina com você Emma. Você pode me dizer que me quer fora de sua vida quantas vezes quiser, pode continuar mentindo pra você ao negar que não me ama. Mas em momento algum pense que vou deixá-la se referir ao nosso bebê dessa maneira. Essa criança é tão sua quanto minha e você não vai decidir nada. Nós teremos esse filho, juntos ou não..
Ele parece pronto para continuar dizendo algo mais, porém seu celular vibra.
– Tenho que ir, Ellie precisa de mim.
Então ele se levanta, calça suas botas, veste sua camiseta e jaqueta e sai sem mais uma palavra, me deixando lá, me sentindo mais vazia do que nunca.


~~

Passo o dia repassando em minha cabeça cada um dos momentos que me levaram até onde me encontro hoje. O amor de minha família, todas as academias de dança, as apresentações, as tardes com Vovô Steve na oficina, a paixão pelos livros. Essa era a essência de minha vida. Afinal o que seria de mim sem eles, quem eu seria? E o mais importante, estaria eu preparada para ser mãe? Preparada para repassar tudo aquilo que me foi ensinado a um pequenino ser que mudaria minha vida completamente? Um pequeno ser que me prenderia para sempre a Dean Hunt.
Já cansada de tanto encarar o teto de meu quarto e decidida sobre o que fazer disco o número de um restaurante italiano mais uma vez, peço comida para quatro pessoas e vou preparar a banheira.
Agora dentro dela eu seguro meu celular pensando em como falar com ele.

~~
Uma hora depois a mesa está pronta e um James carrancudo e uma Sophie curiosa estão sentados à minha frente esperando nosso convidado de honra.
A tensão na sala de jantar é palpável, me faz duvidar um pouco de minha decisão impulsiva, quando a campainha toca e agradeço mentalmente. A confiança que tinha a pouco havia se esvaído de meu corpo e ao caminhar para a porta penso em como essa ideia soa estupida agora. Tremendo um pouco alcanço a maçaneta e abro a porta para encontrar Dean, vestido de preto como de costume me encarando, intrigado pelo convite inesperado e sem explicações.
"Preciso que venha ao meu apartamento as 20h,
E."
E lá estava ele pontualmente.
– Entre – ele obedece sem demoras e juntos vamos para a mesa.
Espero até que ele se sente ao meu lado.
– Aproveitem – e então começo a comer, esperando que eles me acompanhem, esperando que ninguém note o quão tremulas minhas mãos estão ao segurar o garfo e a faca.
– Emma... – Começa James, mas o corto.
– Por favor, vamos apenas aproveitar o jantar e então lhes contarei o motivo dele.
Relutante ele se volta para seu prato embora sempre lance olhares irritados para mim e Dean que come em silêncio.
Quando todos acabam, me levanto e Sophie me ajuda com os pratos. Evito olhar em seus olhos e por um segundo me pergunto se ela já não sabia o motivo deste jantar. Acabamos de colocar os pratos no lava-louças quando ela me abraça. Não são necessárias palavras a mensagem é clara, ela estará comigo e me apoiará sempre.
Quando voltamos para sala de jantar fico feliz em constatar que ambos ainda permanecem vivos.

Com uma pequena ajuda do vinho que tomara durante a refeição mais tensa de minha vida, mesmo que Dean silenciosamente tenha protestado, caminho até eles e me sento mais uma vez.
– Dean e eu vamos ter um bebê...
O rosto vermelho de James é a última coisa que vejo antes que a mesa seja atirada pelos ares...

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