Demoro mais um pouco antes de voltar para casa. Fico um tempo a mais lendo a ficha da garota. Não tem como descrever o que se passou na minha cabeça no momento em que li as primeiras páginas. Discórdia? Pode até ser. Arrependimento? Não chega a tanto.
Dentro do carro fico tão imerso nos meus pensamentos e ideias que nem percebo que o rádio está desligado. Sinto-me melhor assim que saio da cidade nebulosa de Santis Lorde para uma claridade sem fim que é a cidade onde moro.
Suas árvores são de um verde claro, seus trocos marrons, há pássaros que cantam nas ruas, pessoas andando ou caminhando correndo ou pedalando. É completamente o oposto daquela cidade. Eu não quis dar ouvidos aos comentários, mas eu não vi ninguém além dos funcionários do manicômio nas ruas.
Chego em casa por volta de uma da tarde, decido correr um pouco para tirar algumas suposições que se formaram na minha cabeça. Visto um short e uma regata e dessa vez lembro de pegar meus fones e acoplá-los no celular para ouvir música.
Minha casa é muito grande para apenas uma pessoa morar nela. Acho que minha mãe estava pensando que fugi de casa porque engravidei alguém. E eu não estou exagerando, além dos outros quartos tem um que é completamente mobiliado para uma criança recém-nascida. Ele é muito bonito, mas eu não sabia o que fazer com ele quando vi, então mantenho ele trancado.
A entrada da casa leva a um corredor; na primeira porta à direita é a cozinha; à esquerda é a sala; seguindo reto ainda à direita há uma sala onde seria o meu consultório que não posso usar por enquanto; depois dessa porta há a escada que leva ao andar de cima. Têm três quartos, dois banheiros e o quarto para criança.
A cozinha por mais que não precisasse é muito mobiliada, com uma geladeira de aço inoxidável de duas portas, micro-ondas branco e preto, um liquidificador preto. O balcão é de mármore branco que faz um contorno em formato de L assim que entra na cozinha; há uma mesa de vidro com 4 cadeiras e um fogão preto.
Na sala de estar tem no centro de dois sofás de veludo preto um tapete cinza aveludado; uma mesa retangular de madeira escura ao lado do sofá menor; uma lareira e acima da lareira tem a televisão; atrás do sofá maior há uma mesa de madeira que consegue ocupar 8 pessoas com um vaso de flor vazio em cima; atrás da mesa há as estantes de livros.
Meu quarto também é quase todo preto apenas o sofá que há ao lado da cama que é cinza e o tapete que também é da mesma cor.
Termino de correr e volto para casa para tomar banho. Um banho pensativo, e é o primeiro que eu demoro tanto. Olho-me no espelho e a menina do Hospício aparece na minha mente, de todos os meus pensamentos ela já fazia parte. A pequena brecha que pude ver do seu rosto me permitiu criar diversas hipóteses.
Não que eu tenha me interessado por ela, mas ela não me pareceu estar amedrontada por estar em um manicômio como os outros. Ela parecia feliz com aquilo. É como se ela estivesse tentando fugir de algo que estivesse fora dali.
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A Garota Silenciosa (DEGUSTAÇÃO)
Paranormal"Ela me assustava. Era sombria, silenciosa e me dava arrepios. Mas apesar de tudo esses eram os motivos que havia para querer conhecê-la". Ian Price a procura de uma especialização, após se formar, encontra-se em uma situação estranhamente pertu...