I.

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-Hey!

Eu conhecia aquela voz, era Daniel, merda, talvez se eu fingir que não percebi que foi para mim e começar a andar mais rápido ele não me volte a chamar.

-Hey!-Ele gritou mais alto.

Estávamos a cerca de um metro e meio do outro, mas ele fez questão de gritar para todos olharem para nós.

Eu me virei com nojo, mas com uma cara falsa de anjo e forcei um pequeno sorriso.

-Estava a ver que não me ouvias.- Ele disse quando me alcançou com um sorriso.

Realmente era difícil de te ouvir.

-Eu ouvi, mas simplesmente quando as pessoas chamam outras eu não costumo ser uma delas, por isso ignorei.

Ele fez uma cara de confusão a tentar processar o meu comentário.

-Sempre tão brincalhona.- disse em meio a risos.

Daniel era o tipo de rapaz super modelo que todas suspiram quando ele passa, mas não eu, muito menos eu, e ele parecia gostar disso.

Simplesmente porque eu consigo perceber que ele é um convencido, e se ele não percebe comentários daqueles é porque não é minimamente inteligente.

-E então, tu, eu, amanhã às oito.

Que mania é esta dos jogadores de futebol americano dizerem "tu, eu" se eles tivessem minimamente atentos às aulas de português eles percebiam que a junção de "tu e eu" fica nada mais nada menos que "nós".

Mania irritante.

-Tenho planos.-respondi com uma cara de quem não está para ninguém.

Sair com um rapaz que joga futebol americano e que tem uma lista de quem já fodeu ou deixou de foder, não é algo que eu gosto muito de fazer, mas sendo mais simples, sair com homens não faz parte dos meus planos.

-Anda lá, já te pedi três vezes para saíres comigo, dizes sempre que estás ocupada mas eu sei que isso não acontece, por favor, se saíres, eu nunca mais te chateio.

Nunca mais? Nunca mais é muito tempo, Daniel.

-Ok, eu saio.

Cruzei os braços em protesto.

-Apanho-te amanhã às oito, trás alguma coisa sexy.- E com isso ele saiu.

Porque é que eu aceitei afinal?

Continuei o meu caminho até o parque de estacionamento da escola e montei na minha mota, mas antes de dar gás e ir embora observei as pessoas a meu redor.

Almas perdidas, violadores insaciáveis, drogados compulsivos, pessoas com desejos, pessoas sem desejos, pessoas sem objetivos de vida, pessoas que sonham com a fama, ladrões, assaltantes, pessoas que estudam para mais tarde obter um emprego e conseguir sustentar a família ou simplesmente para pagar os remédios da mãe, adolescentes grávidas, gays, lésbicas, sociais da internet, caras lindas sem conteúdo, almas gémeas, interior perfeito mas exterior imperfeito, nerds.

Tudo à nossa volta é visível e palpável, nem tudo, muitas vezes as pessoas guardam os seus segredos bem no fundo do seu interior de forma a nunca ninguém descobrir os seus segredos mais maléficos, sombrios e tristes, nunca ninguém sabe tudo a cerca de uma determinada pessoa, há sempre algo que alguém esconde, mesmo sendo a pessoa que conheces desde nascença, até essa tem os seus segredos.

Mas o que todos eles têm em comum?

São todos "mortais andantes".

E porque esse nome? Toda a gente morre um dia, mas esse dia pode estar longe, ou perto, nunca se sabe quando se morre, pode ser de qualquer coisa, doença, acidente, ataques, qualquer coisa!

O mais interessante da vida é que tu podes morrer de coisas insignificantes, estás sempre posto à prova.

E que sobreviva o mais forte.

(...)

-Qual é a cor que queres para as unhas?- Perguntou a Nair, a minha melhor amiga, em relação a que cor de verniz eu queria para aquela semana.

Ela pinta-me sempre as unhas, não que eu goste ou algo do tipo, mas ela gosta, então eu aceito.

-Preto.

-Para variar.- disse com um lindo sorriso.

Depois de ela me pintar as unhas e me arranjar os excessos de verniz começamos a falar do nosso dia.

-Quatro vezes que ele te pediu para sair.-Ela olha para o teto deitada no chão e completa.-Quem me dera!

-Por favor diz-me que nao queres foder com ele.

Estava a tentar tirar esse pensamento da cabeça quando ela completa.

-Colson, ele é podre de bom, é rico, é lindo, tem um corpo fabuloso, eu sei que ele é um desgraçado e filho da puta, mas vale a pena experimentar o conteúdo!-Ela disse mordendo o lábio.

-Que nojo!- resunguei em protesto numa expressão divertida.

Hoje iria dormir em casa dela, jantamos, fizemos as nossas palhaçadas, falamos e fomos dormir quatro horas antes de termos que nos levantar para ir para a escola.

Para variar claro.

ColsonOnde histórias criam vida. Descubra agora