Capítulo 1 - Reencontro

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Durante muito tempo, Risoleta observara aquele homem de longe, assim como ele a observara. Da janela da pensão, percebia a sombra sinistra dele, e às vezes o percebia olhando da rua fixamente para a janela do seu quarto. "Mas como diabos esse homem sabe que esse é meu quarto, minha gente?" - Risoleta falava sozinha, após vê-lo pela janela. De repente, uma rápida ideia lhe paira a mente "Pelo seu cheiro". Risoleta assusta-se com o pensamento e por um instante fica confusa, pensando se aquilo lhe foi plantado na cabeça ou foi dela própria. Infelizmente, o sono a levou para um outro mundo. E nesse mundo, ela sonhou por mais uma noite seguida com seu desejado professor.

Risoleta estava voltando para a pensão, já estava quase na hora de começar os preparativos para mais uma noite de folia. Caminhava pela praça no centro da cidade, e o vento da noite que chegava delineava o seu jeito suave de caminhar. Ela quase flutuava de tanta graça ao andar. Parou em súbito, hipnotizada com aquele homem que lhe salvara alguns dias atrás. Depois de um salvamento digno de herói, de uma recusa de ir até sua pensão, um pedido de desculpas e finalmente dois beijos seguidos, o primeiro em uma cova e o segundo após o despertar no consultório do Dr. Rochina, aquelas palavras "Obrigado por despertar meu coração", não saiam de sua mente. Provocante e atraente como sempre, caminhou até Professor Aristóbulo - Boa noite, Professor... Estava mesmo numa nervosura só de falar com o senhor - Aristóbulo era um homem extremamente reservado e recatado, até mesmo tímido de início. Mas todos aqueles sentimentos que aquela mulher despertara nele era algo totalmente diferente. Ela o provocava, brincava com ele como num jogo de gato-e-rato, e se utilizava de sua visível sedução para empurrá-lo sem piedade nesses joguinhos carregados de malicia, e que no fundo ele adorava. Aquele sorriso cheio de segundas intenções que ela dava sempre que olhava pra ele era como um pedido para que a devorasse apenasmente com os olhos, deixando-o louco - Boa noite, dona Risoleta. O que a senhora deseja falar comigo? - A mulher se aproxima dele, e aproveita a escuridão da noite para colar o mais perto possível o seu corpo ao do professor.

Aristóbulo sente seu perfume, sente o calor do seu corpo. Ele a possuiria ali mesmo, se não fosse a sua própria atenção de olhar para os dois lados como estava fazendo agora - Professor... Há tempos vejo o senhor olhando justamente para a janela do meu quarto... Mas o engraçado é que, o senhor nunca entrou na minha pensão antes. Como sabe então que justamente aquele é o meu quarto? - O jeito dela era mortal para ele. Irresistível, é a palavra certa. O professor de latim se pergunta em como deve ser o sabor daquela mulher... - Apenasmente uma questão de lógica, dona Risoleta. Do lado de fora, aquele parece ser o maior quarto da pensão, logo, deve ser o local que a senhora repousa. E mais... O perfume que exala daquele lugar poderia ser sentido a quilômetros de distância, pelo menos por mim - Ele dá um sorriso suave e Risoleta, esperta, aproveita a "deixa" do amado para aproximar seu pescoço dos seus lábios, fazendo-o inalar ainda mais aquele doce perfume. Aquilo era mais que um convite de boas-vindas, era um pedido. Aristóbulo tentava se controlar para não levar as mãos à cintura dela e apertá-la contra si - Dona Risoleta... Por favor... - Aristóbulo se afasta, mas Risoleta joga a isca - Já que sabe qual é o meu quarto, venha me visitar uma noite dessas, professor. Garanto que sentirá muito mais do que o meu perfume... - A mulher pisca para ele e com um sorriso que não negava seus desejos vai embora, com a certeza de que noite a mais, noite a menos, ele iria parar de visitá-la nos sonhos, e passar ao menos uma noite ao seu lado.


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