Capítulo 18 - Uma madrugada lasciva

89 5 0
                                    

Risoleta não dormiu direito aquela noite. Tivera sonhos mais aterradores que antes, e mais lascivos também. Sonhava com Aristóbulo como lobisomem, possuindo-a sobre a forte luz da Lua Cheia, uivando ao chegar próximo do orgasmo, com aquelas mãos peludas que ela tanto desejava sentir passeando pesadamente pelo seu corpo suado, deixando marcas avermelhadas... E a cicatriz sangrando como antes... – Professor Aristóbulo! – Risoleta acordou gritando o nome dele, e molhada por conta do sonho erótico e mortal. Deu um suspiro pesado, e passou os dedos pela cicatriz no peito, sentindo-a quente e também molhada. Deitou-se novamente, abraçada a um travesseiro, e não conseguiu mais dormir. Ansiava por estar com Aristóbulo logo, e seu amor e desejo por ele só cresciam dentro de si. Depois de tudo que a enfermeira lhe contara, Risoleta estava esclarecida sobre muitas coisas, especialmente pelo fato de pertencer a ele a partir de agora, e para sempre. Fechou os olhos, tocando novamente na cicatriz que ele lhe deixara, e pedia para que descobrisse logo tudo o que aconteceu com Adélia, pois o fato dela não possuir nenhum tipo de marca, nenhum arranhão, e ser noite de quinta para sexta-feira estava deixando Risoleta estarrecida de curiosidade para entender como realmente ocorreu a morte da ex-noiva do seu amado professor. Falando nele, o bem cotado presidente do Centro Cívico, que estava lendo um livro na sala, junto à mãe e ao pai, sentiu uma pontada no peito, como um chamado. Era Risoleta que havia chamado por ele ainda em sonho, Aristóbulo sentia claramente isso. Começou o seu perneamento noturno compulsório mais cedo, apenasmente para passar na frente da pensão dela e observar seu quarto às escuras, sonhando com o dia que a possuiria em cima da cama de boneca que ela tinha. A dona da pensão, na cidade ao lado, só conseguiu dormir um pouco ao amanhecer.

Dentro de poucas horas e um banho para tentar revigorar as energias e forças, Risoleta foi ao encontro do médico de Adélia, o doutor Theodoro. Assim que chegou ao hospital, a enfermeira Mirtes já a esperava e a acompanhou até a sala do médico, que anteriormente já havia sido explicado a respeito das dúvidas da mulher – A senhora não dormiu bem essa noite, não foi, dona Risoleta? – A enfermeira tocou-lhe suavemente o ombro, preocupada – Eu vou dormir bem quando descobrir o que de fato aconteceu com Adélia, enfermeira Mirtes – A mulher sorriu para Risoleta, e percebeu o quanto ela deveria ser uma mulher forte, e certamente o quanto amava aquele homem, por estar lutando tanto assim por aquele amor. Após ser apresentada para o doutor Theodoro, Risoleta partiu logo para sanar suas dúvidas – Dr. Theodoro, eu gostaria de saber como Adélia chegou ao hospital, e do que, de fato, ela morreu... Eu tinha uma hipótese, mas depois da conversa de ontem com a enfermeira Mirtes, as minhas dúvidas aumentaram... – O médico era um homem já velho, assim como a enfermeira. Cabelos brancos, e olhos de um azul turquesa muito mais vivos do que poderia se julgar pela sua idade, e também que lhe passava muita doçura, sabedoria e calma – Serei bem sincero com a senhora, dona Risoleta, mas apenas porque percebo a sua preocupação e compreendi o motivo de estar aqui. Eu fui médico de Adélia desde pequena, pois logo quando nasceu, sofria de um sério problema de coração. Ela fazia consultas mensais aqui comigo, e assim que entrou na puberdade, as consultas passaram a ser semanais... Ela me contava do seu noivo, Aristóbulo. De como tinham conhecido as pequenas sutilezas da vida juntos, e de como eles se amavam, de que iam se casar. Todas as famílias torciam e apoiavam o casal... – Risoleta ruborizou-se de ciúmes. Ouvir o quanto Aristóbulo a amava, mesmo ela tendo desvivido, a incomodara muito, e era muito difícil de evitar esse ciúme, mesmo bobo – E quando Adélia se tornou adolescente, o seu problema no coração se agravara. Naquela semana do seu falecimento, Adélia faltara à consulta. Eu estava tentando convence-la de contar para o noivo sobre seu sério problema de saúde, mas ela se recusava, achava que ele iria deixá-la por possuir uma saúde frágil, por certamente não viver muito... Apenas sei lhe dizer que na madrugada de quinta para sexta-feira, a tia de Adélia já chegou com ela aqui morta. A enfermeira Mirtes me falou sobre suas perguntas, se ela havia chegado com algum tipo de "marca", ferimento no corpo, mas não, dona Risoleta... O corpo de Adélia, como bem disse Mirtes, estava de fato, intacto. Pode parecer bobagem, mas, o que matou Adélia foi algo que a assustou, ou a deixou nervosa demais. Ela não poderia passar por emoções muito fortes, e talvez a ideia do casamento tenha sido uma emoção muito forte para ela, alguma surpresa, quem sabe... O coração de Adélia parou, foi isso que a matou. Nada mais ou nada além. Eu realmente acredito que as surpresas e os preparativos com o casamento tenham sido emoções muito fortes para ela, e por isso, não aguentou. Adélia tinha pouquíssimo tempo de vida, dona Risoleta. Ela estava, infelizmente, fadada a morrer. A senhora tem mais alguma dúvida? – Novamente, como no dia anterior, Risoleta estava pálida. Finalmente entenderá como Adélia tinha morrido. O professor Aristóbulo Camargo não a matou, graças a Santo Dias! Era noite de quinta para sexta-feira. Aristóbulo certamente decidiu partilhar da sua natureza para a futura esposa, e Adélia, com o coração fraco para emoções fortes e sem revelar isso para Aristóbulo, literalmente morreu de susto ao vê-lo transformado na fera. Foi isso que a matou. Não aguentou ver Aristóbulo como lobisomem, e seu coração parou. "Adélia estava fadada a morrer", o coração dela era fraco, e ela tinha pouco tempo de vida. Essa era a verdade, a verdade que, por medo, Adélia nunca revelou para Aristóbulo. Um suspiro de alívio foi dado por Risoleta, e ela deixou seu corpo cair pesado sobre a cadeira. Era isso! Após a mente ficar confusa e ela juntar as peças, a dona da pensão sorriu, aliviada, após tanto tempo. E após seu alivio, a única coisa que imaginara era ver esse mesmo sorriso de alívio e paz no rosto do seu amado – Muito obrigada, doutor Theodoro! O senhor não sabe o peso que tirou da minha cabeça, e principalmente, da alma do homem que eu amo. Muito obrigada, pelo seu tempo, pela sua disposição, por tudo! – Risoleta sorriu e despediu-se rapidamente do médico, deixando a sala dele. O doutor ficou parado, intrigado com aquela mulher. Assim que Risoleta saiu do consultório, encontrou com a enfermeira Mirtes – Vejo pelo brilho nos seus olhos que a senhora está mais aliviada, dona Risoleta – Ela sorria – Desejo que a senhora seja feliz, com esse homem tão singular que a senhora encontrou... – A enfermeira piscou para ela, e Risoleta entendeu o significado de "singular" que ela se referia – Muito obrigada à senhora também, enfermeira Mirtes. E eu serei sim, muito feliz, e com a fera que eu amo! – A dona da pensão saiu do hospital sem olhar para trás, apressada para arrumar sua mala e conseguir uma passagem naquela manhã mesmo para Saramandaia (Que, após o plebiscito, havia se tornado agora Saramandaia e não mais Bole-Bole, como antes). Assim que a noite caía, Risoleta acabara de chegar à cidade, com a felicidade estampada no rosto, pensando na melhor maneira de contar a verdade para seu amado professor, que finalmente se livraria de todo o sentimento de culpa, e também deixaria o espírito de Adélia descansar em paz. Não via a hora de beijá-lo com paixão e lhe contar tudo o que descobrira. E mais do que isso, aguardava ansiosa o momento de consumar o amor que sentiam um pelo outro, após tanto tempo.

Beauty and the BeastOnde histórias criam vida. Descubra agora