Antes do nascer do sol

Cap.2-O meu suporte

-Embry!- chamava enquanto percorria o longo corredor. Atrevi-me a contemplar o sorriso do Ruben uma vez mais e sorri-lhe de volta até me aperceber que ele torcia o nariz.

-Não é por nada...- o seu riso característico interrompeu a frase.- mas cheira-me a queimado...

Após uma breve respiração mais profunda também eu senti a amargura do aroma queimado a percorrer o meu olfacto:

-Oh meu Deus!- corri para a cozinha, onde encontrei o meu irmão a sacudir atrapalhadamente uma nuvem negra proveniente de uma forma de bolo, apercebi-me de imediato que o meu bolo de anos estava arruinado mas não liguei a isso naquele momento, só não queria que a casa pegasse fogo!

Sem conseguir conter e esconder a vontade incontrolável de rir, olhei para a cara do meu irmão e, tentando ignorar o óbvio, proferi:

-O Ruben veio!

O Embry olhou de relance para o Ruben e com um meio sorriso disse:

-Ah! Olá desaparecido! Não te posso cumprimentar agora, como podes ver...-O Ruben sorriu-lhe.

-É o bolo?- perguntei-lhe.

-Era.- Embry fez uma cara triste.- Desculpa.

Cheguei ao pé dele e dei-lhe um beijo na bochecha:

-Não te preocupes, hoje nada me deixa triste. Nós fazemos outro rápido, uma hora e está pronto. Okay?

-Oh, mas as pessoas já se começam a ir embora!

-Embry, não te preocupes com isso, já te disse... Acontece. Depois preciso de falar contigo.- Na minha cabeça só conseguia rever a face de William, tinha de falar com ele o mais rápido possível.

O meu irmão acenou a cabeça e enquanto me despenteava os caracóis, deu-me um longo beijo na testa.

Finalmente o Ruben e ele cumprimentaram-se e logo de seguida, eu puxei o Ruben para a saída, enquanto ele me dizia:

-Não me lembrava da amizade assim tão próxima com o teu irmão.

-Só há pouco tempo é que nós descobrimos que era possível.- ri-me.

Na entrada de casa o Seth sentava-se ao lado de William e Jacob na escada mais próxima da relva, e quando sentiu a porta a abrir-se e percebeu que era eu com o Ruben lançou-nos uns olhares matadores, como só ele conseguia fazer. Aquele olhar transmitia-me sempre aquela repressão mental de "já fizeste asneiras, outra vez". O Jacob levantou-se e perguntou:

-Está tudo bem?

-Sim, o Embry só queimou o bolo. Já está a fazer outro, daqui a pouco vou ver se está tudo bem.- sorri.

Senti os olhos de William percorrerem o meu corpo, olhei de volta e os nossos olhares cruzaram-se durante uns valentes embaraçosos segundos, que me deixaram com um sentimento inconfortável, mas que o seu sorriso rapidamente confortou, os seus olhos brilhante acendiam uma fogueira no meio do meu peito que aquecia o meu corpo todo, dando-me a sensação que estava ainda mais quente do que o meu normal. Era um calor agradável, parecido aquele que senti quando toda a alcateia uivou as minhas boas-vindas.

Quando a ideia da alcateia me passou a correr pela cabeça, lembrei-me como é que era suposto eu e o Embry justificarmos as noites fora, na alcateia, ao Ruben. Claro que não tínhamos de lhe justificar nada, mas ele não era uma pessoa desconhecida e muito menos uma pessoa pouco inteligente, e com certeza ele ia estranhar tudo aquilo... 

Decidi apagar aqueles pensamentos da minha mente naquele momento, mais tarde, provavelmente à noite iria revê-los e, mais uma vez, não conseguir dormir quase nada. Ultimamente, cada vez que conseguia adormecer, acordava logo de seguida devido aos pesadelos cada vez mais frequentes... Durante algum tempo, o espanta-pesadelos do Seth ainda funcionou, mas nas últimas duas semanas os sonhos sem qualquer sentido tinham voltado.

-Bem, eu vou lá dentro ver como está o Embry e as coisas. Até já.- disse enquanto observava o Ruben sentar-se ao pé dos outros.

O Embry estava encostado à bancada observando  o forno e mal me sentiu, correu para mim e beijou-me novamente:

-Então maninha? Que me queres contar?

Respirei fundo e disse:

-Achoquemarqueialguém.

-Fala devagar! Não percebi nada.

Suspirei.

-Acho que marquei alguém.

Mal proferi estas palavras o meu irmão olhou-me com os seus olhos abertos o máximo possível e passado algum tempo e depois de engolir em seco disse, sem parar:

-Como? Quem? O Seth? O Ruben?

-O William...- baixei a cabeça.

-Quem é o Wi...-parou a frase e olhou-me de boca aberta.- Nah. Não pode  ser. Não brinques.

-Estou a falar a sério! E não sei que fazer!- enterrei a cara nas minhas mãos e senti os meus olhos a ficarem molhados.

Senti os braços fortes de Embry agarrando-me e sussurrou-me ao ouvido:

-Não chores. Não te preocupes. Nós vamos resolver isso, tal como o bolo. Okay?

Comecei a chorar, não me consegui conter.

-Shhh, Ylva.- disse enquanto me fazia carícias na cabeça.-Eu não sou só teu irmão para algumas coisas, eu sou teu irmão para tudo e vamos resolver isto...