Capítulo 3

70 5 4
                                    

No dia seguinte cheguei exatamente às mesmas horas à escola. Sentei-me nas mesmas escadas e retirei da mochila o livro que eu trazia sempre, no caso de estar aborrecida. Estava quase no capítulo 17 quando o Tiago chegou. Ele sentou-se ao meu lado e perguntou o que eu estava a ler.

- Chama-se "A escolha".

- Deduzo que seja um daqueles livros lamechas que as raparigas lêem.- disse.

- E tu o que lês?

- Poesia principalmente.

Continuámos a conversa até o toque de entrada soar e fomos para a aula de português. Eu adoro completamente esta professora. Pode falar pelos cotovelos mas consegue tornar qualquer coisa interessante e digna de ter a atenção de todos os elementos da sala. Era a única aula em que eu conseguia estar 20 minutos completamente atenta sem problema nenhum.

No final das aulas fui para um parque perto de minha casa para desenhar. Adorava gastar assim o meu tempo. Não há nada tão relaxante como estar rodeada pela natureza a ouvir os pássaros a cantar enquanto desenhas a paisagem fantástica que está à tua frente. Era assim que eu passava o tempo quando não tinha de me preocupar com nada, vinha com a minha avó para aqui e sentávamos neste mesmo banco. Ela dava pão aos pombos enquanto eu estava ali, a desenhar. Tenho saudades dela. Ela é que é e sempre será a minha mãe.

Faltavam dez minutos para as oito da noite e eu perdi a noção das horas. Já devia estar em casa e provavelmente tenho o telemóvel cheio de chamadas não atendidas da minha mãe. Liguei-lhe e disse que estava a chegar (ainda não tinha saído do parque mas é relativamente perto). 

Abri a porta e já sentia o cheiro da comida. Cheguei à cozinha e a minha mãe já não estava lá, o prato dela já estava a ser retirado da mesa pela empregada. Sentei-me e jantei. Enquanto jantava, recebi uma chamada de um número que eu não conhecia. Atendi na mesma.

- Alexia?- interpelou.

- Sou eu.

- É o Tiago, queria te perguntar se queres ir dar uma volta.

- Agora?

- Sim.

- Dar uma volta por onde?

- Pela cidade.

- Posso ir mas ainda estou a jantar.

- Vou te buscar daqui a meia hora.

- E tu sabes onde moro?

- Sim.- isto é um pouco preocupante.

- Está bem então, até já.

- Até já.

AsfixiaOnde histórias criam vida. Descubra agora