Meu nome é Louise Palecy, e nesse exato momento, enquanto ouço gritos e tento não olhar para o sangue ao meu lado, eu tenho certeza sobre três coisas, apenas três coisas.
A primeira é que estou sozinha, meus pais foram mortos numa câmara de gás. Eu gritei desesperadamente, mas meus lamentos pareciam ser inaudíveis diante de tanta maldade. Minha mãe me olhou firmemente enquanto era arrastada pelos soldados. Seus olhos calmos e brilhantes, tentavam esconder a dor que todos sentiam.
A segunda coisa que tenho certeza, é que todos os meus sonhos e planos foram embora como a água da chuva num dia quente de verão. Sempre fui uma garota sonhadora, cheia de vida e em busca de mais, cada vez mais aventuras. Foi numa dessas buscas que acabei aqui, e trouxe todos que eu amava comigo.
E a terceira, bem, a terceira coisa que tenho absoluta certeza, é que vou morrer. Estou trancada na minha cela há três dias, à espera de comida, água ou morte. Acredito que a morte vencerá, ela tenta ser mais esperta que eu há muito tempo... Mas para que vocês entendam como vim parar aqui, e para que minha vida não seja apenas uma banal existência, vou contar a minha história.
DOIS ANOS ANTES
— Loise Margharet Palecy
Escrevo-lhe representando todo o Conselho da Escola Laster, do Condado de Graymish. Queremos informá-la que a pedido do seu pai, o Sr. Palecy, decidimos aceitá-la em nossa instituição, Esteja pronta para vir no começo do próximo mês.
Estamos a sua espera.
Atenciosamente, Sra. Chalies
Mamãe entrou gritando em meu quarto com a carta nas mãos. Sua alegria era nítida. Ter sua filha mais nova aceita numa das melhores escolas para garotas da cidade, era um alivio para qualquer mãe.
Já eu, só queria gritar e sair correndo.
A ideia de ficar longe da minha família não entrava em minha cabeça, por mais que meus pais tenham me explicado diversas vezes que era minha única chance de ter uma vida melhor, diferente da deles.
Minhas irmãs mais velhas foram todas vendidas.
Vendidas como mercadorias para seus maridos. Estávamos enfrentando uma guerra civil, onde todos eram causadores. O caos havia se alastrado em nossa pequena grande cidade. Todos os condados estavam envolvidos. Estávamos nos matando.
Sair dali era o que qualquer pessoa em sua sã consciência escolheria, se tivesse esse direito, é claro. Mas eu não, eu gostava daquele lugar. Por mais miserável e perigoso que fosse, foi ali que cresci, que tive momentos marcantes e que passei os melhores anos da minha vida.
Meus pais só tinham a mim, e eu só tinha a eles. Essa era nossa realidade, mas eles se achavam no dever de me salvar, mesmo me contrariando totalmente.
Depois que mamãe saiu do quarto e deixou a carta em minha cama, fui em direção a janela. Enquanto olhava a imensidão do céu e me martirizava por ter que fugir e deixar as pessoas que mais amava para trás, assustei-me ao ver alguns soldados se aproximando de nossa casa. Eles estavam armados e as expressões em seus rostos não eram das melhores. Ao observar bem, notei que nossa rua estava cheia deles. Eles estavam invadindo todas as casas.
Virei-me rapidamente na intensão de correr para avisar meus pais o que estava por vir, mas quando me aproximei da porta e estiquei o braço para abri-la, mamãe irrompeu quarto a dentro.
– Louise, filha. Precisamos sair daqui. – ela colocou as mãos em meus ombros e apertou com força.
Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, os tiros começaram em algum lugar dentro de nossa casa. Papai entrara em combate com os oficiais, ele queria nos dar tempo para fugir, esse era o combinado. Não era primeira vez que passávamos por isso.
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Privilegiada
Science FictionLouise se encontra perdida em meio a uma guerra civil que abala o seu país. Sua vida muda completamente quando seu pai é sequestrado e ela decide entrar para o exército local na intenção de encontrá-lo. O que ela não imaginava, é que a morte sempre...