Minha visão ficou falha e perdi o equilíbrio do meu corpo, que em questão de segundos estava no chão.
Vozes começaram a ecoar na minha cabeça, rostos sumiam e apareciam rapidamente.
- Você ESTÁ... bem? - o rosto da Tenente Duprê apareceu e então sumiu, como todos os outros. - Consegue... me OUVIR?
Pisquei os olhos e senti uma forte dor na cabeça. Vi sangue escorrer entre meus dedos e senti como se não existisse.
Fechei os olhos e respirei fundo. Ouvi todas as vozes se misturarem e então me concentrei.
- Eu estou bem. - abri os olhos e tudo estava mesmo bem.
Giulia estava ao meu lado, com um pano, limpando o sangue da minha testa. O recruta descontrolado estava no chão, inconsciente.
- Escute aqui Soldado Palecy. - a Tenente Duprê se aproximou abruptamente. Me encolhi nos braços de Giulia, com medo de levar mais um chute. - Quando eu der uma ordem, me obedeça, entendido? - ela me olhou nos olhos, com ódio e nervosismo.
- Entendido. - respondi apavorada e senti todo meu corpo doer.
- Leve-a daqui soldado. - ela olhou para Giulia.
Giulia me levantou e juntas andamos para nossa cabine. Apoiei minha mão em seus ombros e tentei respirar, ainda com dificuldade.
- Você é maluca. - Giulia disse enquanto estavamos andando.
- Eu sei, minha mãe me disse isso quando me alistei no Exército. - respondi ainda gemendo de dor.
Giulia sorriu.
Entramos na cabine e ela me ajudou a deitar na cama.
- Vou buscar um quite de primeiros socorros. - ela disse.
Observei-a sair da cabine e tirei o pano da cabeça. Ele estava vermelho de sangue.
- Ótimo! - esbravejei impaciente e o levei de volta aonde estava.
Giulia voltou em seguida e deu os pontos em minha testa, limpando o ferimento e colocando um curativo.
Fiquei o resto do dia na cabine, descansando.
À noite, a Tenente Duprê entrou no quarto.
- Como ela está. - ela perguntou a Giulia com rigidez.
- Está melhorando. - Giulia respondeu, nervosa. Todos tinham medo da Tenente Duprê, inclusive eu.
Fingi que estava dormindo, e abri só um pouquinho o olho direito para observar a situação.
- Estejam prontas amanhã cedo para o segundo dia de treinamento. - ela anunciou e saiu.
Me revirei na cama.
- Ela já foi? - perguntei baixinho a Giulia, mesmo sabendo que Duprê já havia ido.
- Sim. - Giulia sorriu. - Você vai vê-la de qualquer forma amanhã, então é bom ir se preparando.
Cerrei os dentes e senti a cabeça doer.
O dia seguinte seria cansativo.
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- Vejo que já está melhor Soldado Palecy! - o Tenente Causton disse ao me ver chegando com Giulia. Coloquei uma mecha de cabelo por cima do curativo e ignorei a dor.
Fiz que sim com a cabeça, ainda envergonhada por tudo que houve no dia anterior.
O garoto descontrolado se aproximou, já calmo e menos nervoso.
- Desculpe por isso. - ele olhou para minha testa. - Não foi minha intenção machucá-la.
- Acho que foi sim. - Giulia disse ao meu lado.
A fitei e repreendi suas palavras com um olhar firme. O garoto estava pedindo desculpas, e eu precisava desculpa-lo. Essa foi a educação que tive em casa.
- Está tudo bem. - admiti.
Ficamos em silêncio, ele me olhou intensamente e então começou a falar:
- Minha mãe e meus dois irmãos morreram ontem, eles moravam no Condado de Sotburn.
Giulia e eu nos olhamos, desoladas.
- Eu não sabia... eu. - uma tristeza me abateu. - Sinto muito.
- Está tudo bem. - ele abaixou a cabeça.
Me senti na obrigação de abraçá-lo e consolá-lo, mas sei que esse comportamento aqui é visto como fraco e emotivo.
- Recrutas. - o Tenente Causton começou a falar. - Vamos prosseguir com o treinamento.
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Privilegiada
Science FictionLouise se encontra perdida em meio a uma guerra civil que abala o seu país. Sua vida muda completamente quando seu pai é sequestrado e ela decide entrar para o exército local na intenção de encontrá-lo. O que ela não imaginava, é que a morte sempre...