No caminho de volta para casa, eu não conseguia acreditar que havia sido recrutada. Eu dava passos curtos e lentos para casa, mamãe estava me esperando. Iriamos nos despedir.
Ela me abraçou com força quando atravessei a porta.
Tia Trênia estava com um gato na mão e me olhava ainda sem entender o que estava acontecendo. Provavelmente estava estranhando minhas roupas.
– Você está tão linda. – mamãe disse chorando, segurando em meus braços e me olhando de cima a baixo.
– Espere só mais alguns meses e venho te buscar. – eu disse enquanto a abraçava.
Eu ainda estava triste por ter que deixá-la, mas era o único jeito.
Peguei minhas malas já prontas e atravessei a sala, mamãe já havia arrumado tudo.
– Te amo. – disse diante da porta entreaberta.
– Também te amo querida. – ela me olhou com orgulho, pela primeira vez.
Ao abrir a porta totalmente, olhei para trás pela ultima vez.
Mamãe tentava conter as lagrimas e segurava as mãos próximas ao peito.
Dei-lhe um sorriso terno e fiz de todo o meu corpo uma pedra de gelo. Eu não podia chorar, não podia.
— Prometo que vou trazer meu pai de volta. — disse enfim e bati a porta atrás de mim.
Um taxi me levou ao porto.
O grande navio estava lá. Uma grande quantidade de gente o cercavam, famílias se despedindo e muitas pessoas chorando.
O navio iria levar os novos recrutas a Graymish, lá seriamos treinados pelos Privilegiados e logo então enviados para a guerra.
Conforme eu me aproximava daquela grande embarcação, meu coração martelava cada vez mais forte em meu peito. Minhas pernas pareciam ficar bambas e eu tive medo de não conseguir partir.
De todas aquelas pessoas que estavam comigo no dia dos testes, apenas metade havia passado e Piter e as duas garotas estavam entre elas. Me perguntei como a garota de vestido havia passado nas provas, eu tinha certeza que ela não conseguiria.
– Bem vindos recrutas. – a mulher que havia feito minha entrevista começou a falar quando embarcamos no navio. – Sou a Tenente Duprê, e vou ficar responsável por leva-los a Graymish.
Ela me fitou e sorriu.
– Vejo que já se adaptou a nova vida Soldado Palecy. – ela disse carinhosamente.
– Nunca me senti tão livre, como estou agora. – respondi, ainda com receio se estava certa do que acabara de dizer.
Ficamos nos olhando por um instante.
Algo me dizia que seriamos grandes amigas, apesar de sermos bem diferentes. Ela tinha algo que eu não tinha, algo que eu estava buscando há muito tempo. Coragem.
Iriamos ficar a bordo daquele navio por duas semanas.
O caminho até Graymish era longo.Pelo oceano e pelo ar eram as únicas formas de chegar lá. Isso explica a quantidade de navios que os Privilegiados tinham. Eles defendiam o condado pelo oceano, pois poucos aviões eram fabricados e todos estavam em poder deles.
Um avião, por mais pequeno que fosse nas mãos dos Inquisidores, seria o Apocalipse Militar.
Mais tarde no navio, dividi a cabine com a garota de cabelo curto. Cada cabine só tinha espaço para duas pessoas.
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Privilegiada
Science FictionLouise se encontra perdida em meio a uma guerra civil que abala o seu país. Sua vida muda completamente quando seu pai é sequestrado e ela decide entrar para o exército local na intenção de encontrá-lo. O que ela não imaginava, é que a morte sempre...