Capítulo 3

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Cheguei em casa eufórica. Os Testes de Resistência seriam nos próximos dias e algo me dizia que a parte mais difícil ainda estava por vir.

- Mamãe? - disse ao entrar no quarto.

- Sim filha. Como foi o passeio? - ela estava deitada, ouvindo ao rádio.

Eu havia mentido para ela sobre o dia de hoje, mas agora que minha inscrição estava feita, ela precisava saber. Talvez a parte mais difícil fosse aquela.

- Preciso conversar com você. - me sentei na cama, ao seu lado.

Ela me olhou preocupada e desligou o rádio.

- O que houve querida? - ela pousou a mão em meu braço.

Como eu iria dizer aquilo? Ah mamãe, é que decidi não ir para a melhor escola do país, por que me alistei no Exército e vou colocar minha vida em risco, ao lado dos Privilegiados, para salvar o meu pai. Se eu morrer, por favor tente continuar bem.

Isso era ridículo.

Mas ela precisava saber.

Peguei a ficha de inscrição e a entreguei.

- Decidi me alistar e ser recrutada pelos Privilegiados. - expliquei enquanto ela corria os olhos pela carta.

- Você está brincando comigo, não é Louise Margharet Palecy? - ela se sentou aflita.

- Não, nunca falei tão sério em toda a minha vida. - respondi com firmeza, olhando em seus olhos.

Mamãe ficou em silêncio, então continuei.

- Eu vou salvar o meu pai, mamãe. - expliquei e coloquei a mão em seu braço. - Ele precisa de ajuda e você sabe disso.

Ela tentou segurar as lágrimas e fez uma leve careta para isso.

- Não sei se vou conseguir perder mais alguém. - ela começou a chorar. - Você é maluca Louise.

Peguei em sua mão e a apertei com força.

- Você não vai me perder, não vai. Ouviu mamãe? Não vai. - comecei a chorar também. Joguei meu corpo para cima da cama e a abracei.

- Minha filhinha. - ela passou a mão em meu cabelo. - Eu sempre soube que você era mais que vencedora!

Suas palavras me surpreenderam. E eu gostei do que acabara de ouvir.

No dia seguinte, fui na loja de roupas da cidade, onde aquela mulher estava. Meu Teste de Resistência, era mais tarde, e eu precisava estar vestida de acordo.

- Bom dia senhorita. - a vendedora perguntou - Em que posso ajuda-la?

A loja era estranha. Não haviam vestidos, nem ternos. Somente roupas extremamente radicais - botas, cintos e até pequenas armas.

Me senti perdida, eu não sabia o que vestir ao certo, tinha uma leve noção, tão leve que podia me deixar tão ou mais ridícula do que eu já era.

- Vou ser recrutada pelos Privilegiados... - expliquei a situação. A vendedora era negra e alta. Seu cabelo era trançado e chamativo. - Preciso de uma roupa mais... mais de acordo com minha nova vida.

- Hum. - ela me analisou. - Venha comigo.

Andamos até o fundo da loja. Uma variedade de acessórios estava pendurada na parede. Meus olhos brilharam, aquilo era extraordinário.

Passei os dedos nas botas pretas no chão. Era algo parecido com coro, mas era mais resistente, mais forte.

- Boa escolha, essas são as mais compradas aqui. - a vendedora disse. - Isso aqui vai completar a vestimenta. - ela puxou uma calça e uma blusa dos cabides e jogou em meus braços. - Pode experimentar ali.

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