-Gigio! Giooooo- Vem cá meu protetor. Gio a mamãe vai sair quero que tome conta da casa e do papai para mim.
Gigio pulou repentinamente para o colo da minha avó e o acariciar lento e afanoso que ela concebia para o bichano era quase impossível para o meu entender. Um gatinho preto franzino de olhos esbulhados que me apavora quase toda madrugada. No meio da noite acordo e deparo com ele vigiando meu sono, meu corpo se arrepia só de pensar naquele olhar seco. Enfim, minha avó se separa do seu amado bichano bizzaro, o deixando em cima da cama dela no lado em que meu avô dormia para ser mais exata.
Com o frio que quase 3 graus me apressei em ir para o quarto de solteira da minha mãe e pegar um agasalho extra para levar para ela, embora, eu sei que ela tem cobertores de sobra no hospital psiquiátrico , sei que ela irá gostar de sentir o cheiro de casa ( ou não).
Acelerei meus passos, me afastei do quarto da minha avó segui pelo corredor empoeirado , minhas pernas pareciam não entender que eu queria correr, todo o meu corpo se paralisou pelo comando dos meus olhos que se fixaram nos quadros estranhos pendurados nas paredes. As figuras disformes contavam estórias, algum tipo de estória que eu não faço ideia do que seja. Inclino minha cabeça para esquerda para direita e nada, repeti esse gesto por algumas vezes minha mente borbulha de ideias ,mas meu raciocínio lento foi interrompido pelo som... o som que geralmente eu escuto á meia noite. Sim somente eu escuto o som que interrompe meu sono todas as noites desde que eu vim para cá há dois meses.
Destravei... meus curtos passos tornavam-se gigantescos e em menos de um minuto cheguei no quarto da minha mãe, quarto esse que não me permito entrar não por proibição da avó, mas pelo simples fato de que lá sinto presença de alguém, parece que sempre que entro lá sou observada, não pelo gato preto franzino, mas por alguém que me vigia... vigia meus passos, meus atos sinto que invadem meus pensamentos....
Abri o armário cor de marfim, os casacos ficavam pendurados por ordem de tamanho, arranquei as pressas o casacão de lã que minha mãe mais gostava , o casaco lembrava um ponche peruano colorido. Já com o casaco nos braços, corri de volta para a sala de estar mantive e meus olhos travados ao correr pelo corredor.
Mesmo estado com meu casaco, coloquei o da minha mãe por cima olhei pela janela e avistei Juno e Ticia meus dois novos colegas, me perguntei ; como conseguiam ficar fora de casa com tão pouco agasalho, só de olhar eu congelei, foi quando coloquei minhas mãos no bolso do casaco de minha mãe, e encontrei algo no bolso. Era um envelope pardo com duas tiras coloridas que o mantinha amarrado, não contive minha curiosidade e o abri. Uma partitura, a mais complicada partitura que já vi na vida, mesmo eu sabendo ler partitura desde os meus nove anos, não consegui ler aquela. Porém havia outra e essa sim eu conseguia entender... a cantarolei no pensamentos...
-Alicia! Venha menina se apresse! Fala em visitar sua mãe durante a semana toda, e na hora de ir se atrasa! Ahhh menina! Venha o táxi já está nos esperando.
Segui por todo o trajeto da casa da minha avó até o hospital psiquiátrico com a melodia na minha cabeça... Um trajeto de quase duas horas....
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A violinista - O som da meia-noite
Mystery / ThrillerLembrei-me saudosa da minha velha infância, onde tinha comigo meus pais, minha casa a minha verdadeira vida. Permiti que lágrimas brotassem mais não as deixei cair. Apertei o passo, pois senti que ela me olhava, Eu sei, sinto que seu olhar e de repr...