O Funeral

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Vovó me fez falar com todos presentes no funeral de meus pais, eu queria sair de lá e fugir. Minutos pareciam horas é todas as aquelas pessoas a maioria delas não falavam com a gente a meses e até mesmo anos, mas estavam lá para ver meus pais uma última vez.

Mamãe estava linda com seus cabelos castanhos avermelhados, parecia dormir e por muitas vezes quis tentar acorda-la numa tentativa em vão, eu escolhi seu melhor vestido branco com girassóis bordados para passar a eternidade junto com meu pai, mamae amava girassóis pois apesar de tudo eles buscam a luz. Papai era um homem gentil mas elegante então para ele pedi que colocasse um terno marrom claro com uma blusa social branca, seus cabelos loiros estavam arrumados como sempre.

Após a missa houve o sepultamento e nada me doeu mais do que ver os dois sendo colocados em um buraco no chão frio no qual passariam a morar. Imaginar eles apodrecendo ali foi o cúmulo não pude mais segurar as lágrimas e coloquei para fora tudo o que sentia.

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A chuva batia na janela, o ar estava pesado, carros continuavam a chegar na casa da vovó e parecia que aquilo não teria fim, a porta de casa estava aberta. Aos poucos a chuva foi passando até se tornar uma fina chuva de inverno.

Subi ao quarto que vovó preparou pra mim me deitei na cama e o pensamento que tive dentro do carro pouco antes do acidente me passou pela mente novamente, tal impossível possibilidade só me fez chorar mais e aquela dor que eu sentia se intensificou. Meus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta era vovó.

-Sofia há alguém aqui que quer conhece-lá -ela disse num tom hesitante.

Por um momento achei que seria novamente alguém para me dar os pêsames e condolências mas não.

-Essa é sua tia avó Minerva.

-Tia Minerva? Não me lembro dela.

-Não lembraria mesmo, não me conhecia. -Disse tia Minerva após aparecer ao lado da vovó.

Ela era alta, cabelos grisalhos, sua coluna estava totalmente reta imaginei que ela devia ser assim sempre. Ela vestia uma saia preta meio justa e uma blusa de manga longa preta, usava um óculos e seu cabelo estava preso para cima como em um coque.

-Deixe me a sós com a menina - senti um arrepio na coluna naquele momento.

-Claro estarei lá embaixo caso precise, iremos começar a reunião.- Vovó tentou dar um sorriso.

Vovó saiu do quarto e o clima entre eu e tia Minerva ficou pesado mais ela pareceu não se incomodar, ela apenas me fitava com os olhos fiquei imaginando que tipo de pessoa ela era, mais então meus pensamentos foram interrompidos por ela.

-No mundo da lua igual a sua mãe - E continuou me olhando depois de um longo momento de silêncio ela disse - levante-se.

Levantei meio hesitante e tentei ficar com a coluna reta igual a ela, coloquei as mãos cruzadas na frente do meu corpo na altura do meu umbigo. Ela deu um pequeno sorriso.

-Ande.

Na mesma posição que eu estava parada comecei a andar com a cabeça reta tentei imitar ao máximo o livro que eu havia lido sobre etiqueta, não entendi porque ela estava fazendo aquilo mais por alguma razão ela me trazia a sensação de segurança, não como se nada podesse me abalar mais como se o mundo fosse apenas uma cachoeira a qual eu podia pular em suas águas que nada me aconteceria.

-Sua mãe pagou aulas de boas maneiras para você Safira?

- Não senhora. - Respondi hesitante e ainda mais hesitante respondi - Meu nome é Sofia.

- Sua mãe lhe deu aulas em casa?

- Não senhora.

Ela franziu o cenho e foi até a porta mas antes de sair disse com um pequeno sorriso.

-Prefiro Safira.

As Chaves De SofiaOnde histórias criam vida. Descubra agora