CAPITULO 03 - O ACORDO

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SARA

Entro no escritório e a primeira coisa que reparo é que o homem da minha frente parece irritado, e que sua camisa não está mais manchada de café. Ele me encara e dá um arrepio.

– Sente-se. Então você é a Sara? – diz para mim e eu obedeço, sento em uma cadeira em sua frente, que por sinal é muito confortável, e apenas concordo com a cabeça. – Vou direto ao ponto, eu preciso de uma babá para viajar para os Estados Unidos, mas não sei se você seria alguém competente pelo que me ocorreu mais cedo.

Ergo as sobrancelhas, como ele pode julgar minha competência de trabalho com o que aconteceu mais cedo na cafeteria e decido que meu orgulho está em jogo.

– Eu não sei quem é você, e sei que você não precisa de emprego, provavelmente nunca passou necessidade. Mas julgando por mim que precisa trabalhar para ajudar a família, com certeza faria um ótimo trabalho, o que acontece fora não influencia em nada. – Ele me olha assustado, mas logo esse semblante desaparece e o frio retorna.

– Se precisasse mesmo de trabalho não estaria falando assim com um suposto futuro patrão em uma entrevista não acha. – Ergue a sobrancelha como se me desafiasse e eu respiro fundo, porque ele me conhece e nunca vai conhecer.

– Ok, já que você acha que eu não preciso estou indo embora. –Grito e saio batendo a porta.

Nunca fiquei tão irritada com uma pessoa assim em minha vida,ainda mais uma que eu não conhecia, como todos diziam eu sempre era um doce, um amor em pessoa que nunca gritaria com ninguém.

Quando vou descer as escadas, escuto um choro vindo em um dos quartos, um choro baixo e abafado. E como se fosse por impulso sigo até o local, como se toda minha raiva tivesse ido embora. Chego a frente da porta entreaberta e observo um menino sentado em sua cama, com a cabeça abaixada e os cabelos loiros caídos em seu rosto.

– Oi, está tudo bem? – Digo e ele me olha com curiosidade e medo ao mesmo tempo. – Eu me chamo Sara, posso entrar?

– Papai me disse para não falar com estranhos. – ele diz enxugando as lágrimas em seu rosto.

– Mas você já está falando. – Digo sorrindo. – O que aconteceu, porque está chorando?

– Eu só estou triste. – diz fungando, sem querer ultrapassar algum limite sento ao seu lado na cama.

– Você quer falar sobre isso comigo? – digo oferecendo minha mão.

– Você parece legal, vou falar. – Respira fundo. – Eu não tenho minha mamãe desde que Gabe nasceu, eu fico triste porque eu queria muito ela, papai não fala muito sobre isso comigo, ele acha que eu não entendo. – Fico triste ao saber sobre isso e meu coração aperta.

– Sabe? Minha mãe e meu pai, também foram morar com as estrelinhas, mas eles estão lá olhando pra mim, a sua também ta lá cuidando de você, ela está com você aqui. – Digo encostando-se a seu peito. – Às vezes eu também não gosto de falar sobre isso, e também fico muito triste. É normal sabia, a gente sente falta das pessoas que amamos tanto. – Digo tentando segurar uma lágrima que escorre em meu rosto. – E seu pai deve sentir o mesmo e não gosta de falar pra não ficar triste e nem deixar vocês tristes.

– Não chora tia. – ele diz e eu sorrio. – Se nossas mamães estão cuidando da gente então estamos bem? – ele diz meio confuso.

– Estamos sim. E ficar triste é normal, mas ficar feliz ao lembrar-se deles é muito bom. – olho para o lado e vejo um porta retrato, com uma mulher grávida sorrindo com o menino ao lado. – Sua mãe? – ele concorda com a cabeça. – Ela parece você, muito linda. – ele sorri e sem eu esperar me abraça.

A porta se abre e eu engulo em seco.

– Papai. – ele corre e abraça seu pai. – Esse é tia Sara. O senhor já conhece ela? – ele diz olhando pra cima.

– Sim filho. – ele me olha curioso. – Você gostaria que ela fosse sua babá? – diz se abaixando e ficando de sua altura, continuando a me encarar e o seu olhar era bastante profundo.

– Ela é muito legal, ela conversou comigo sobre a mamãe, porque eu tava triste.

– Sim filho eu ouvi, estava na porta. – ele diz sorrindo para o filho,que por sinal que sorriso lindo ele tem, balanço a cabeça tentando espantar os pensamentos.

– Podemos conversar em meu escritório? – ele olha diretamente para mim, só que dessa vez muito sério, eu concordo e o sigo até o escritório me despedindo da criança.

Entramos em total silencio e me sento novamente na cadeira em frente á ele.

– Porque entrou no quarto do meu filho? – ele diz olhando para mim.

– Eu escutei um barulho e fui ver o que era.

– Isso não deveria ser da sua conta, não acha? – além de tentar ajudar me trata mal. – Mas meu filho gostou de você isso que importa, ele não fala com mulheres assim como falou com você desde quando tudo aconteceu. – diz engolindo em seco. E eu percebo que ele não gosta desse assunto. – Então nós poderíamos fazer um acordo?

– Não sei se consigo depois de como você me julgou. – digo apenas.

– Você também não foi nada educada comigo, começando pelo café.

– Eu pedi desculpas lá mesmo, mas você ficou falando no telefone com sua namorada e nem se quer respondeu. De onde eu venho isso que se chama falta de educação. – novamente eu estava ficando irritada com um desconhecido.

– Às vezes as pessoas só não estão em um dia bom. – ele diz olhando para cima, se encostando à cadeira. – Mas nós podemos entrar em um acordo?

– Eu preciso do emprego e você precisa de uma babá, e eu sou ótima com crianças. – também me encosto à cadeira. – Acho que podemos ficar em acordo.

Ele parece respirar aliviado, parecia que eu era a única que podia trabalhar ali, talvez eu fosse a julgar que o filho dele não falava com ninguém e na primeira vez falou comigo como se me conhecesse a muito tempo.

Ele me explicou que a viagem não tinha data ainda, e que só precisaria de uma babá nessa viagem, e que talvez contratasse para trabalho fixo. Isso me deu uma pequena fonte de esperança, mas não sei se é isso que quero da minha vida. Por enquanto bastava.

– Tem um problema. – digo e ele pede para continuar. – Eu preciso falar com minha irmã e minha tia primeiro, pois moro com elas.

– Tudo bem, você pode ligar para elas. – diz me entregando o seu celular, que se colocasse o meu perto seria uma vergonha se eu me importasse com isso. Mas na me importo.

Pego seu telefone e na tela aparece uma foto sua sem camisa, e eu tenho certeza que fiquei corada no mesmo instante. Espero que ele não tenha percebido e digito o número de minha tia, sendo observada por ele.

Depois de explicar toda situação a ela, ela me diz que seria bom a Luiza ficar, pois assim ela não se sentiria sozinha e que seria uma viagem rápida, ela não via problema nenhum.

Conversamos mais um pouco e digo á ela que preciso desligar.

– Ok acordo fechado. – digo ao entregar o celular para ele e dando um aperto de mãos, onde um pequeno choque passa pelo meu corpo. 

Uma Doce BabáOnde histórias criam vida. Descubra agora