Por Eduardo
I feel your touch when I'm alone at night, but it's just me who's holding tight.
And this life don't feel like you.
There's nothing left but these I love you's
Rafaela me traiu.
Não, não me refiro àquele verão.
Também não me refiro ao tipo de traição que envolve outro homem e minha mulher.
Foi traição emocional.
Envolveu outro homem e minha mulher também, mas essa não foi a pior de todas. O pior foi a confiança. Foi o sentimento que me assolou logo após ter que colocar Rafaela para fora de casa, após ter sido feito de trouxa mais uma vez.
Foi sentir falta da Lu. Foi perceber que eu estava depositando minhas esperanças, minha felicidade no lugar errado. Rafaela nunca foi minha felicidade e eu deveria ter percebido isso naquele dia, no estacionamento. Eu deveria ter percebido antes, na verdade, mas não sou muito bom em enxergar meus erros. Enquanto eu chorava como uma adolescente em um filme hollywoodiano, enrolado na minha cama e sentindo a falta de Luiza, eu percebi que deveria mudar algumas coisas na minha vida.
A primeira delas – e a mais difícil – é deixar de ser trouxa. Cansei de deixar Rafaela fazer o que quiser com meu coração e sabotar outros relacionamentos, como eu fiz com a Lu.
A segunda delas é parar de ser um babaca, o que também era difícil, mas eu ia melhorar. Luiza não merecia nada do que eu fiz com ela. A garota tinha uma vida boa, era feliz sem mim, então eu apareci e baguncei tudo. E não soube olhar só para ela quando alguém do passado apareceu. Eu precisava ser alguém melhor para a Lu, mesmo que ela não quisesse mais nada comigo. Eu queria que ela olhasse para trás e não me visse como uma total decepção.
Minha terceira mudança não era bem uma mudança. Só se você considerar que eu precisava deixar de ser um covarde e dizer duas coisas para Luiza: 1) ela estava certa, eu estava errado; 2) eu sempre a amaria.
Durante todo o trajeto até a casa dela, eu queria dar meia volta e desistir. Era mais fácil. Era menos doloroso. Só que eu estava propondo três mudanças na minha vida e dar meia volta era sinônimo de quebrar duas delas: eu não diria o que precisava à Luiza e continuaria sendo um babaca. Então tomei vergonha na cara e fui.
Bati uma. Duas. Três vezes. Longos intervalos para que ela tenha tempo de chegar e nada. Decidi esperar. Sentei na escada e peguei o celular. Meia hora e nada. Quarenta minutos. 20% de bateria. Uma hora e sete minutos e um estalar no corredor. O elevador parou no andar e, do meu lugar, quem saía dele não poderia me ver. Então eu vi quando um cara alto de boné saiu do elevador com o braço nos ombros dela. É claro, eu a vi, mas só conseguia enxergar aquele braço ali, meu coração em pedaços. O único som que eu podia ouvir no momento era a risada dela, alta, ecoando no corredor. Acho que foi por isso que não notei meu celular caindo no chão, chocado demais com a presença do cara ali, mas não passou despercebido pelo casal. Os dois olharam na minha direção na hora e Luiza era a única que eu podia ver.
– Edu?
Respirei fundo. A última coisa que eu queria no momento era ter sido notado. Eu não podia dizer tudo o que eu precisava dizer a ela com aquele cara ali. Não depois de vê-la feliz com ele. Eu já tinha estragado a felicidade dela uma vez, não faria isso de novo.
– Desculpa, nêga. Não queria atrapalhar. – Dei meia volta e desci as escadas.
Baby, I love you
O maldito do ciúme me corroía, se espalhava em todo o meu corpo. Eu sabia que havia sido fraco, que deveria ter me desculpado mesmo assim. Cansado de ser um covarde, subi as escadas novamente. Não tinha avançado muito de qualquer jeito e nem Luiza nem o cara tinham se movido. Ele, na verdade, deixava seu olhar vagar entre nós dois.
– Eu sei que não tenho direito a dizer nada e nem espero que isso mude alguma coisa entre a gente, porque eu simplesmente não mereço e só quero te ver feliz, Lu. Eu nem mereço seu perdão. Só queria dizer que eu sinto muito. Você estava certa e eu estava errado. – Respirei fundo, porque ela não esboçara nenhuma reação. Eu esperava que ela tivesse reação, qualquer que fosse. – Se cuida, Lu. Seja feliz. Eu te amo e sempre vou amar.
Feliz por ter dito o que precisava, dei meia volta novamente e desci as escadas dessa vez. Eu precisava sair, precisava chegar à minha casa. Precisava deixar aquele prédio para poder chorar em paz, afinal, quem disse que homem não chora mentiu. E mentiu feio.
– Espera, Edu! – A voz dela flutuou até mim, passos escoando na escada. – Du. – Eu parei e olhei novamente na direção dela. – Eu também te amo. – Um pequeno sorriso surgiu nos lábios dela. – Se você me ama, me faz acreditar nisso.
Ô, nega, eu quis dizer a ela, é pra já.
Even if the tears fall and my heart hates me, baby, I love you.
– Você não vai se arrepender disso, nêga. – Eu disse, no lugar. – Obrigado.
– Se você estragar tudo, dessa vez vai lidar com o meu irmão. Sabe disso, não sabe?
– Ele voltou?
O irmão dela estava morando em São Paulo desde que começou a graduação de medicina, nove anos atrás. Estava retornando agora, mas não tinha uma data exata.
– Quem você acha que era o bonitão lá em cima?
Respirei aliviado, juro. Não era nenhum namorado.
Corri até o degrau que ela tinha parado, segurei sua cintura e beijei seu rosto. Não iria mais longe sem ela permitir.
– Vou fazer você acreditar em mim, Lu. Vou te mostrar o quanto eu te amo e fazer você me amar de novo. – Beijei seu rosto de novo e voltei a descer as escadas.
Ganhei uma segunda chance. Nem a pau que eu ia desperdiçar dessa vez.
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Fria Como Pedra
RomanceHistória dividida em cinco capítulos. Início das postagens: 19/6 xx Sinopse: Estávamos felizes. Meus amigos adoravam meu namorado. Eu adorava os amigos dele. Dessa vez, ele estava com os amigos. Então ela chegou. Linda, deixou meu namorado petrifica...