Kings

II.

"O que? Prometido pra quem?"

"Para o príncipe de Alphenor." A mãe de Philip disse, afagando os negros cabelos do filho desolado. "Nosso reino está em decadência e você sabe disso, Philip. Esse casamento trará muitos benefícios ao nosso reino!"

"Nosso reino? Esse reino nunca foi meu, eu não sou ninguém aqui. E pelo amor de Deus, você não se escuta? Vocês estão me vendendo, mãe! Por que Martin não pode casar-se no meu lugar? Pensei que, já que não sou o  sucessor, eu pelo menos escolheria com quem me casar!"

"Martin é o sucessor do trono. Sucessores não se casam com outros sucessores, se não um dos reinos se perde. Além disso, seu irmão também está prometido."

"Eu fui prometido a um sucessor? Magnífico! Além de minha querida família tentar me vender, vou ser obrigado a passar o resto de minha vida casado com um rei mimado que cresceu sendo ensinado que ele era a criatura mais preciosa e maravilhosa desse mundo."

"Philly, você nem o conhece, não o julgue antes de conhecê-lo."

"Eu o julgo de acordo com o que eu vejo vocês fazerem com Martin. Por favor, vocês rodeiam ele por um mundo perfeito. Um bom rei não conhece um mundo perfeito, ele tem que conhecer todas as partes de seu reino, não só a boa, e é por isso que essa desgraça de reino está em decadência, porque vocês estão imprimindo em Martin tudo o que o pai viveu."

"Philip, o reino precisa de você."

"É mais que óbvio que esse reino precisa de mim" Ele riu. "mas infelizmente ele não me quer."

"Enfim..." Ela se levantou. "Isso foi um aviso, não uma discussão. Você se casará em menos de um mês e então se mudará para Alphenor e será rei."

"Talvez em Alphenor alguém me dê ouvidos." Ele jogou o convite de seu próprio casamento no chão e saiu, batendo o pé forte no chão.

Ao sair da sala de reuniões, se deparou com seu irmão.

"Não pude deixar de ouvir o que pensas de mim. Tenho que dizer que estás muito enganado, irmãozinho." Martin disse, de braços cruzados. "Eu sei de muitas coisas que você nem imagina, muito mais coisas que você."

"Me poupa! Você ainda acha que o pai vai viajar quando você assumir o trono! Sim, Martin, ele vai viajar para o desconhecido, sombrio e inevitável mundo da morte." Phil jogou as verdades na cara de seu irmão mais velho. "Não que eu ache que isso te preocupe, afinal, só você importa na porra desse reino. Oh! Sim! Eu não usei linguagem apropriada! Que lástima." Phil levantou seu dedo médio na direção do irmão.

"Isso é mentira! Pare com isso, Phil! Mais respeito com o nosso palácio!" Martin repreendeu e Phil riu.

"O mundo não é o que você aprendeu, irmãozão.  Boa sorte comandando esse reino, você irá precisar. E quando você descobrir que não consegue comandar sozinho, vai ser tarde demais, porque assim que eu me casar, todos vocês morrem para mim."

"Então será assim?"

"Sim."

"Certo. Boa sorte em Alphenor, vossa majestade." Martin disse, ironicamente, fazendo com que Phil quisesse o agredir.

"Escuta aqui, seu engomadinho de merda." Phil puxou seu irmão pelo colar da camisa social. "Eu to a um triz de explodir, e o fato de você ser o sucessor não vai me impedir de dar um soco nessa sua cara metida. Muito menos o fato de você ser meu irmão, porque sinceramente, só somos relacionados por sangue. Então cala a porra da boca e vê se não me irrita. Você não vai querer aparecer no casamento do seu irmãozinho com um olho roxo." Phil sorriu sarcasticamente, o soltou e caminhou apressadamente até a vila onde os serventes do palácio viviam, em busca do conforto de seus melhores amigos, Anne e Keith, que trabalhavam respectivamente com arrumação dos quartos e criação de cavalos.

Como o rei e a rainha sempre estiveram muito ocupados ensinando Martin a ser perfeito, Phil foi esquecido e pôde viver a vida imperfeita, como ela devia ser. Ele fez amigos, ele cuidou de cavalos, ele chorou, ele riu, ele se machucou, ele se magoou, ele superou, ele foi humano, ele viveu. E ele estava prestes a abandonar toda aquela vida para ser um dos reis de Alphenor.

"Anne, Keith!" Phil gritou, ao entrar na casinha de madeira. 

"Keith está trabalhando. O que foi?" Anne perguntou assustada.

"Eu vou me mudar pra Alphenor."

"O QUE? POR QUE?"

"Eu fui prometido ao príncipe deles."

"Eu... Sempre achei que você terminaria junto com Jesse, o motorista."

"Eu também."

"Mas como nós ficaremos? Você vai poder vir nos visitar?"

"Você ta brincando comigo? Eu não saio desse reino sem vocês."

Anne sorriu. 

"Eu realmente espero que você seja feliz."

"Eu realmente não me importo de perder minha família de sangue, mas eu me recuso a perder você e Keith."

"Nunca nos perderá, Phil. Não importa se você está em Gelasia, em Alphenor ou em Marte. Nós sempre seremos irmãos."

Phil abraçou Anne e permaneceu naquela posição por algum tempo. Era absurdamente confortável.