Kings

V.

"Boa sorte lidando com esse cabeça dura pelo resto da vida." Ouvi uma voz desconhecida atrás de mim ecoar no quarto e me virei rapidamente, assustado. Ao virar, me deparei com uma versão adolescente de Daniel.

"Perdão, eu te assustei. Acho que não fomos formalmente apresentados. Sou Adrian James Howell, mas pode me chamar de Ade. Acho que meio que sou seu cunhado." O rapaz estendeu a mão e eu o cumprimentei. Por mais que eu não tivesse interesse romântico algum por Daniel, eu era obrigado a admitir que os Howell tinham sim um punhado de genes abençoados. Todos eram extremamente parecidos e belos, tinham traços delicados e cabelos castanhos macios.

"Philip Michael Lester. Pode me chamar de Phil... É um prazer te conhecer."

"Idem."

"Desculpa pela invasão." Eu ri. "Estava a caminho do quarto e ouvi um pouco mais do que devia e..."

"Não se preocupe. Pode usar meu quarto como refúgio sempre que quiser." Ele riu. "Vivendo com Dan, você vai precisar."

"Obrigado." Ri. "Tens quantos anos?"

"Quinze."

"Pareces muito com seu irmão."

"Só que mais bonito" O garoto complementou.

"Isso eu não sou capaz julgar." Ri. "Não foi prometido a ninguém?"

"Ainda não. Acho que não serei. Espero não ser."

"Nada contra seu irmão, ele parece ser legal, mas ser prometido não estava nos meus planos."

"Eu espero não ser prometido... Pelo menos queria ter essa vantagem, já que não sou herdeiro do trono."

"Infelizmente não tive essa sorte. Obrigada, de qualquer forma, Ade. Foi um prazer te conhecer. Te vejo depois."

"Au revoir, Phil!"

Saí do quarto e olhei para a porta do meu quarto. Eu teria que encarar a fera.

Caminhei lentamente em direção à porta, e ao entrar, dei de cara com Daniel deitado no chão, de barriga pra baixo, com a cara atolada no carpete branco. De repente, "a fera" era a personificação de um saco de batatas. Ele se deitava imóvel, se não prestasse atenção no seu corpo eventualmente subindo e descendo levemente decorrente da respiração, eu teria dúvidas quanto a ele estar vivo ou não.

Sentei-me ao seu lado e, por um segundo, me questionei se eu estava fazendo a coisa certa. Ficamos em silêncio durante alguns segundos até eu decidir quebrar o gelo.

"Eae?" Repeti as primeiras palavras que ele havia direcionado a mim e o garoto riu com a lembrança.

Ele se sentou no chão ao meu lado e limpou o resquício de lágrimas em seus olhos.
"Oi." Ele disse e eu sorri compreensivo. "Ah, eu não estava chorando, eu só... Sou alérgico ao carpete e..." Eu o interrompi.

"Tá tudo bem. Mesmo. Fica tranquilo." Eu dei um tapinha amigável em seu ombro, a fim de confortá-lo.

"Me desculpe. Eu tenho certeza que você deve ser um cara legal, mas eu... Eu sou apaixonado por ela desde sempre."

"Tá tudo bem. Não é como se eu estivesse super feliz com a ideia do casamento arranjado."

"Não está?"

"Pois é, vossa alteza, nem tudo gira ao seu redor." Eu disse, brincando. "Não, na verdade, antes de ser prometido eu tinha grandes planos com um certo motorista."

"Ah, a realeza e sua mania de se envolver com serventes." Daniel completou.

"Realmente." Ri. "Deve ser algum tipo de praga."

Ele riu.

"Eu acho que ela está certa, sabe? Talvez eu realmente tenha ficado louco. Fugir provavelmente me traria muitos problemas."

"Se teus pais descobrissem que fugistes com ela, com certeza arranjariam cavalaria o suficiente para achá-los, trariam-os de volta ao palácio e a demitiriam." Disse. "Então não acho que seja uma boa ideia."

"Philip, existe algo que possamos fazer?"

"Bem... Por mais que eu queira distância daquele reino neste momento, em Gelasia, nós não desistimos do que realmente queremos."

Daniel sorriu e eu correspondi.

"Por onde começamos?" Daniel perguntou.