americanismo

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americanismo
substantivo
admiração, mania ou imitação das coisas e do estilo de vida das Américas, especialmente dos EUA.
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"Não fale muito ok, baby?" Foi o que Harry recomendou assim que saímos da moto, naquela noite ventosa de outubro

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"Não fale muito ok, baby?" Foi o que Harry recomendou assim que saímos da moto, naquela noite ventosa de outubro. Ele tinha acabado de tirar o capacete, os cabelos encaracolados curtos ao vento, mas o semblante sério não combinava com a tranquilidade dos ventos.

"Por quê?" Harry me pegou pela cintura, me ajudando a sair da moto.

Nunca achei que falasse muito. Na verdade, achava que todas as pessoas ou falavam tanto quanto eu ou eram extremamente caladas. Ao longo da minha vida que aprendi que falava muito e, não só isso, que era ruim falar muito. Ninguém gostava de tagarelas (principalmente homens, como minhas tias gostavam de adicionar). É um paralelo estranho de se fazer, mas também ocorria o mesmo com o meu peso. Sempre me intitularam de gorda, e eu estava bem com isso, até eu perceber que deveria me sentir ofendida, que aquilo era um xingamento.

Antigamente, quando falavam que eu era tagarela ou gorda, eu ficava miúda, calada, envergonhada, mas aos poucos fui mudando essa atitude e comecei a questionar, bater de frente. Cheguei à conclusão que deveria ter chegado na primeira vez que alguém me chamou de tagarela ou gorducha: quem mandava na minha boca era eu, fosse pra falar, fosse pra comer.

"Eles são..." Harry largou minha cintura e se afastou. Ele parecia extremamente estressado, como se estivesse repensando se realmente deveria ter me trazido àquela rua de um bairro underground de Londres. "Meus amigos são exóticos. A maior parte é da minha antiga vizinhança." Concordei com a cabeça, mas franzi a testa, ainda não compreendendo o que isso tinha a ver com eu falar pouco ou muito. Harry suspirou fundo, passando as mãos no cabelo. "Desculpa por dizer pra você não falar muito, pode faltar  o quanto te fizer bem, eu só estou nervoso..."

Cheguei mais perto dele, e toquei em seu rosto carinhosamente, para que ele pudesse me olhar no olhos. "Nervoso por que, Harry? Vai dar tudo certo." Eu estava estranhamente calma até aquele momento. Não entendia como, era uma das primeiras vezes em que Harry estava nervoso, e eu relaxada. "Pode fazer uma recapitulação de quem é quem mesmo?"

Seguimos para dentro de um prédio pixado, sem porteiro. Eu apertei um botão e esperamos o elevador.

"Você já sabe sobre a Natasha e o Pierre."

Natasha e Pierre eram simplesmente os melhores amigos de Harry. Eles sempre se falavam por mensagem (acho até que já mandei diversos áudios pelo celular de Harry pedindo para conhecê-los) e se encontravam toda semana. Harry amava muito os dois, mesmo depois de ter se mudado da vizinhança.

"Sim, óbvio que eu sei, bobinho." Eu ri e peguei no nariz de Harry de brincadeira. Ele me lançou um sorriso rápido, nervoso, que foi pior que ficar sem sorriso.

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