ELE HAVIA SIDO O LUKE.
Sempre o Luke. Ás vezes, Lukey. Tinha 14 anos e quando sorria iluminava um raio de cinco quilômetros ao seu redor com a luz e o calor de mil sóis.
Provavelmente, fora o mais normal de todos que já atravessaram a linha do trem. O mais rápido também. Talvez por prática, uma vez que tinha morado dentro de uma estação no centro da cidade desde bem pequeno. Ninguém nunca ouviu uma palavra sobre sua história, ou sobre qualquer outra coisa. Ele não sabia falar. Custava até ter certeza de que ele entendia algo.
Pra qualquer coisa que você dissesse ele apenas ia sorrir e assentir alegremente e por incrível que pareça, ao invés dessa ser uma atitude irritante, acalmava. Você falaria "hoje tive o pior dos dias da minha vida. Acha que eu devo só tomar alguns compridos e whiskey e morrer?" e ele responderia balançando a cabeça loira. Então você se sentiria tocado porque aquela criança com grandes olhos azuis prestava tanto atenção em cada detalhe do mundo e não entendia uma coisa sequer, mas ainda se incomodava em assentir e sorrir, e tudo era tão engraçado que chegava a ser aconchegante.
Gostavam dele de verdade e o encarregavam de várias tarefas sem sentido para fazê-lo se sentir útil e feliz, o que não era muito difícil. Particularmente, eu não sinto que até hoje eu tenha adquirido o mínimo do senso apreciativo das virtudes ou beleza que me rodeiam, mas talvez por Luke nunca ter tido uma consciência dos meus defeitos, tenha sido exceção deles. Eu o admirava muito. Por cada detalhe que ele não fazia ideia que possuía e por todas as oportunidades que perdi de conscientizá-lo sobre isso. Por tudo que manti tão distante dele — sentimentos profundos, Missisippi, café — por medo de estragar sua frágil visão do mundo e conservá-lo bem. Na época, me pareceu o melhor a ser feito. Hoje não tenho tanta certeza assim.
De qualquer maneira, o menino não ficou por muito tempo. Um dia começou a tossir muito, e no outro não conseguiu se levantar. A pele pálida ficou ainda mais branca e os olhos claros não brilhavam mais. Em uma noite de outubro, ele se foi. Lembro-me de ter olhado pro seu montinho de terra úmida e falar em alto e bom tom para que todos ouvissem:
"Eu nunca vou viver o bastante para ter tanta vida quanto você teve."
E, bom, isso é tudo o que eu tenho a dizer sobre ele.
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HEATHENS 》5sos
Fanfictionnão pense duas vezes, não olhe para baixo; não faça movimentos bruscos, não pense que está a salvo.