Capítulo 1

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Três segundos foi todo o tempo necessário para que Artur Ventura chegasse a conclusão de que o homem se aproximando estava armado.

Artur estava parado no meio de um grupo de cerca de quarenta pessoas, na frente do recém-inaugurado cineteatro Ouro Verde. Todos aguardando para assistir à primeira peça depois da abertura. Apesar de estar no meio da multidão, estava sozinho, pois ainda faltava meia hora para o início e seus três amigos sempre chegavam atrasados.

Como sempre fazia nessas situações, deixava os olhos e a mente correrem soltos sobre todas as pessoas ao redor, criando cenários e situações com elas, buscando imaginar quem eram e como seriam suas vidas.

Viu o homem de meia idade se aproximando rapidamente da multidão, ele tinha a pele bem bronzeada, como se passasse a maior parte dos dias no sol. Tinha os olhos nervosos, tentando ver tudo ao mesmo tempo. Mas o que chamou a atenção de Artur foi o fato de estar vestindo um sobretudo grande e pesado, mesmo com a temperatura na casa dos trinta graus.

Artur sempre foi bom em identificar padrões e o que foge deles, mas não foi preciso nenhum esforço para que este homem disparasse seus alarmes mentais. Observou com cuidado e notou o jeito que andava, ombros duros e braços parados, estava segurando algo do lado direito. O casaco estava desabotoado, mas ele o mantinha fechado com as mãos. Quando se aproximou de um dos postes de luz do calçadão, Artur pode ver a ponta de algo de metal aparecendo em uma das partes que estava aberto.

O homem estava a vinte metros da multidão quando seus olhos se cruzaram. Ele percebeu que Artur sabia que ele estava armado. Ele abriu seu casaco jogando para o lado e começou a levantar sua arma. Artur reconheceu a arma de vários jogos como sendo um fuzil parecido com o AK-47. Não tinha muito tempo e gritou – Ele está armado! – e saiu correndo para trás das grossas colunas de concreto da entrada do teatro.

Mal se escondeu quando ouviu a primeira rajada de balas, bem mais alta do que sempre imaginou. A multidão ainda não tinha começado a gritar, provavelmente muitos ainda nem tinham percebido o que estava acontecendo.

O coração de Artur estava disparado e não conseguia ouvir nada além das balas atingindo a sua coluna e as portas de vidro atrás dele. Começou a olhar por todos os lados, tentando encontrar um local para onde correr e se esconder, mas tudo o que via era vidro. Xingou o arquiteto que decidiu criar um salão de entrada todo aberto para o teatro.

As rajadas eram tão altas que mal percebeu quando pararam. De repente o mundo ficou em silêncio total. Depois do que pareceu uma eternidade começou a ouvir os gritos da multidão, arriscou uma olhada rápida, escolhendo se abaixar e olhar pelo lado contrário do que entrou atrás da coluna. Viu cerca de dez pessoas feridas na frente da coluna na qual estava escondido. Todos pareciam vivos, mas tinha sangue por todos os lados.

O homem estava suando e tremendo, no momento estava olhando para sua arma e trocando o pente. Estava sem munição. Algum lugar da mente de Artur informou que desde que o homem começou a disparar não deviam ter se passado mais do que alguns poucos segundos, sabia que essas armas automáticas quando disparadas constantemente ficam vazias bem rápido, ao contrário dos filmes.

Ele pegou um outro pente e depois de errar o local duas vezes, conseguiu colocar na arma e puxar o ferrolho. Estando pronto, levantou a arma e mirou na coluna de Artur, ignorando todas as outras pessoas ao redor. Quando viu o rosto atrás de coluna, virou a arma e voltou a disparar.

Artur voltou a se esconder, não tinha ideia do que aquele louco tinha contra ele, mas não iria perder tempo tentando descobrir. Eventualmente iria perceber que precisava apenas se movimentar para o lado e encontrar uma linha de tiro. Então tudo estaria acabado para Artur. Precisava fazer algo. Fugir era impossível, restava apenas ataque. Será que havia algo que poderia fazer?

Para Dentro da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora