Da mesma forma que fez em Londrina, Lydia parou o carro no estacionamento e o deixou destrancado, levando apenas a mala com as armas. A dor de cabeça de Artur tinha diminuído consideravelmente, mas o zumbido continuava alto. Pelo menos estava conseguindo andar em uma linha mais ou menos reta. Definitivamente não era assim que mostravam nos filmes.
Podia sentir um vento frio batendo forte. Sentia os braços ficando arrepiados. Precisaria encontrar um agasalho. Como será o tempo em Frankfurt? Se é que estavam mesmo indo para lá. Não se surpreenderia se a Lydia dissesse que na verdade estavam indo para o polo sul...
Artur parou alguns momentos para olhar melhor o saguão do aeroporto, tudo estava bem diferente desde a última vez que tinha passado por aqui. Claro que isso tinha sido quase dez anos atrás, quando participou de uma excursão de férias com colegas de classe para a Disney. Ainda se lembrava da emoção de finalmente estar no aeroporto, prestes a entrar no avião. Lembrava principalmente da Patrícia, o que será que ela está fazendo hoje em dia?
Tudo estava abafado, podia ver os lábios das pessoas se movendo, mas não entendia nada. Lydia puxou sua manga, fazendo sinal para seguir ela. Foram até o local dos armários no piso superior. A garota tirou uma chave da bolsa de armas e retirou uma mala de viagem grande e uma bolsa pequena. Depois colocou algumas moedas no lugar certo e trancou a mala de armas dentro.
Vendo isso, Artur começou a pensar quantos carros em estacionamentos de aeroportos do mundo tinham sido deixados lá da mesma forma que deixaram o deles. E quantos desses armários também continham itens como armas e identidades falsas. Talvez todos eles, afinal de contas quem mais usa esse tipo de armário?
Saindo da área dos armários, foram correndo até o guichê da Latam. Lydia foi até um dos totens eletrônicos e pegou as passagens. Depois seguiram até a entrevista de segurança antes de despachar a mala. O funcionário da empresa tinha um cabelo loiro e usava óculos. Parecia cansado e só um pouco mais velho do que Artur. Como não conseguia ouvir nada, apenas sorriu e deixou Lydia falar. Podia ver os lábios dela se movendo rapidamente. Ela provavelmente estava falando muito para não dar motivos para o homem se perguntar o motivo de Artur não falar nada. Bom, ele sempre poderia se fingir de surdo...
Olhou no painel eletrônico e viu que estavam em cima da hora. O avião iria decolar em apenas vinte minutos, e ainda teriam que atravessar as várias checagens de segurança e correr até o portão de embarque. Claro que aviões não decolam exatamente no horário, especialmente se existem pessoas atrasadas que já fizeram o checkin, mas ainda assim seria apertado.
Lydia puxou a mão de Artur e o levou adiante para o despacho da mala. Depois saíram correndo pelos corredores. Podia ver que apesar de correndo, a cabeça da garota se virava levemente para os lados, tinha quase certeza de que ela estava olhando e avaliando todos ao redor para ver se alguém reconhecia eles ou seria uma ameaça. Ele por outro lado não se arriscava a fazer isso, a corrida fez sua dor de cabeça piorar e sua visão começou a afunilar. Respirou fundo e focou nos sapatos de Lydia. Cada passo que ela dava, ele fazia o mesmo.
Como já era mais de dez horas, o aeroporto não estava muito lotado e a maior parte das lojas já tinha fechado, então conseguiram passar pela segurança em pouco mais de dez minutos. Artur não tinha ideia do nome que estava no passaporte que Lydia mostrou nos pontos de checagem. Não que fizesse alguma diferença.
Artur já estava começando a ouvir algumas coisas, era como se estivesse perto do mar, com as ondas indo e vindo. Conseguia entender uma palavra ou outra, mas as conversas eram engolidas. Achava engraçado que em nenhum momento sentiu preocupação que sua surdez pudesse ser definitiva. Já tinha lido sobre pessoas e atores que ficaram surdos ao disparar uma arma, de verdade ou não, muito perto do ouvido. Mas era uma coisa que sentia que não podia acontecer com ele. Talvez estivesse apenas sentindo uma desconexão com tudo que estava acontecendo. Era tudo tão bizarro que parecia um sonho, ou um filme.
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Para Dentro da Escuridão
AdventureEsta é a história de Artur Ventura, que numa noite comum se vê arrastado para um lado do mundo que não tinha ideia que existia. Capítulos novos nas sextas-feiras.