Capítulo 4

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Andaram cerca de vinte minutos em silêncio. Artur estava perdido em pensamentos quando Lydia cutucou o braço dele.

- Acorda, tem algo acontecendo.

Imediatamente Artur começou a olhar para frente e para trás do carro. Não via nada além da escuridão. Não viu mais nenhum carro na estrada.

- Não estou vendo nada.

- Exatamente, já faz quase cinco minutos que não vejo nenhum carro e essa é uma das rodovias mais movimentadas do país. Além disso estou indo bem acima do limite de velocidade. Já deveríamos ter visto alguém.

- O que acha que está acontecendo.

- Ora, você é esperto. O que você acha que está acontecendo, Artur?

Ele pensou por alguns momentos antes de responder – Acho que eu faria um bloqueio atrás de nós e prepararia uma barricada na frente.

- Muito bem, foi provavelmente o que aconteceu. Fique preparado, tem uma série de curvas no próximo quilômetro, mas depois tem uma grande reta de cerca de dois quilômetros. Seria o melhor lugar.

Artur verificou o seu cinto de segurança e deixou a espingarda entre a porta e o banco, certificando-se que estava bem firme e o cano apontado para baixo.

Ficaram em silêncio por mais um tempo, diversos cenários passaram na cabeça de Artur. Podia sentir o corpo sendo jogado para os lados pela velocidade que estavam.

Talvez colocassem vários carros bloqueando o caminho. Se for assim, a Lydia provavelmente tentaria desviar, mesmo que passando por fora da estrada. Nesse caso ele só poderia se segurar.

Por outro lado, poderiam ter armas pesadas, se Lydia conseguiu uma mala de armas, qual seria a dificuldade para outros fazerem o mesmo. Além disso, não podia esquecer que tinha sido atacado por homens com fuzis em pleno centro da cidade. Por mais que armas sejam proibidas e o carro blindado, não é incomum ler nos jornais que um carro-forte foi assaltado com pessoas com armas que atravessam blindagem. Mas o que Artur poderia fazer nesse caso seria também confiar na Lydia na direção e segurar firme.

Se eles escaparem do bloqueio, os inimigos podem sair em perseguição em carros ou motos. Seria como nos filmes. Nesse caso talvez Artur possa ajudar com a arma, embora tivesse quase certeza não seria capaz de muito, ficaria feliz se não se matasse com a espingarda.

Os vários cenários ficavam se alternando na sua mente, ao mesmo tempo que tentava olhar tudo o que estava ao seu redor. Observava as coisas com uma riqueza de detalhes trazida pelo medo do que estava para acontecer. Mediu mentalmente a distância das árvores até a estrada, tentando calcular se um carro poderia passar por fora do acostamento.

- Muito bem, é agora... se prepare.

Viraram a última curva e Artur conseguiu ver o longo trecho de estrada. Mas em toda a extensão só via a escuridão quebrada pelos postes de luz.

- Onde estão eles?

- Não sei... e isso pode ser até pior do que imaginei...

Lydia acelerou ainda mais, Artur podia ver o velocímetro chegando nos cento e sessenta quilômetros por hora. Voltou os olhos para a estrada e viu um viaduto chegando. Por sorte, conseguiu ver algo em cima.

- Em cima do viaduto! Tem um homem lá!

Estavam se aproximando rapidamente e o homem subiu na mureta de proteção. Ele parecia enorme, usava um sobretudo negro e de longe parecia que seus olhos eram vermelhos. O viaduto deveria ter cerca de dez metros de altura, mas o homem simplesmente saltou para a estrada para cair bem na frente do carro.

Para Dentro da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora