Capítulo 2

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Artur descobriu que foi realmente bem simples embarcar no avião em Londrina com sua identidade falsa. Seu novo nome era Augusto dos Anjos e o rosto no passaporte era seu. Quando perguntou para Lydia como tinha conseguido uma foto dele, ela deu com os ombros e disse – Estava seguindo você a algumas semanas, foi fácil...

O avião já tinha começado a ser embarcado quando chegaram no aeroporto, então Artur teve que segurar suas perguntas. Talvez pelo estado confuso na qual sua mente estava, ou talvez a adrenalina que estava sumindo do corpo, tudo parecia meio irreal para ele. Mal podia acreditar que menos de meia hora atrás alguém tinha atirado nele. Não apenas isso, mas tinha corrido em direção ao homem armado e atacado ele. E agora estava sentado num avião com uma garota estranha e indo sabe-se lá para onde...

- Ainda bem que conseguimos pegar o avião, é melhor aproveitar para dormir um pouco. Não sabemos o que vai acontecer quando pousarmos.

- Como eu poderia dormir depois de tudo o que aconteceu?

- Tem razão. Bom, no bolso do banco da frente tem a revista de bordo da companhia aérea. Pode tentar ler para ver se dá sono. Mas eu vou dormir – disse ela, já fechando os olhos.

Artur ficou sozinho com seus pensamentos. O avião já estava indo para a pista para decolar. As luzes se apagaram e o ruído dos motores aumentou. Tudo estava acontecendo tão rápido, não conseguia ordenar os pensamentos. Qual seria a história da garota? Ela com certeza era bonita e parecia saber se virar bem. De alguma forma sentia que podia confiar nela. Não que tivesse outra escolha, aparentemente. Afinal cinco malditos homens armados com fuzis acabaram de tentar matar ele.

O avião estava parado, aguardando o sinal para decolar. Artur fechou os olhos, sentindo a vibração. Sem nenhum aviso, o avião começou a acelerar e ele foi pressionado contra o banco, sentia que algo ficava para trás, não conseguindo acompanhar a aceleração.

Por alguns momentos Artur ficou sem pensar em nada, apenas sentindo a decolagem. Já fazia alguns anos desde que tinha viajado de avião e essa parte sempre fazia com que ele se sentisse como criança.

Quando abriu os olhos novamente, o avião já estava na altitude de cruzeiro e as luzes de apertar os cintos tinham sido apagadas. Lydia estava dormindo fundo e com a boca aberta, o barulho mascarava um pouco, mas ele achava que ela estava roncando levemente.

Decidiu ir até a parte de trás e pedir um pouco de água. Se levantou e foi andando no meio dos bancos. Todos os outros passageiros estavam dormindo. O final do corredor tinha uma cortina fechada, assim que a abriu entrou na cozinha da sua casa. Foi até a pia e pegou um copo de água. Assim que bebeu o copo, pôde sentir a água descer pela garganta e ir refrescando todo o corpo.

Depois disso ouviu um miado e olhou para o gato em cima da sua pia, era a gata malhada do seu amigo Thomas, a Rei. Ela veio ronronando e se esfregando na sua mão. Ficou alguns minutos apenas brincando com ela. Quando a gata teve o bastante, pulou da pia e foi para a porta aberta do apartamento. A Rei parou e olhou para ele, quando viu que não estava seguindo deu um miado longo.

Artur sorriu, sempre soube que essa gatinha era esperta. Foi seguindo até o elevador e apertou o botão. Enquanto esperavam a gata ficava se enrolando nas suas pernas. As portas se abriram com um sino e a escada em espiral subia até se perder de vista. Rei foi logo subindo, de vez em quando parando e dando o mesmo miado longo para que Artur a seguisse.

Subiram através da noite, por entre as estrelas. A lua cheia deixava a escada prateada. Quando chegaram perto dela e Rei pulou da escada para pousar no chão lunar distante. Se virou para ele, deu mais um miado e foi trotando em direção ao enorme castelo dos gatos, parando para cumprimentar alguns amigos no caminho.

Para Dentro da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora