Mia
É de conhecimento popular que eu odeio pedir favores a alguém. Mas, é absolutamente pavoroso, que esse alguém seja a minha amada mãe. Parece estranho, porém, nada em minha vida é como deveria ser. Eu não tenho alguém que seja constante, aquele único alguém com quem eu possa sempre contar, não importa em que circunstância. Todo mundo tem; eu não.
É fácil conviver com isso, quando percebemos que essa será a nossa realidade de vida. Entretanto, agora é um momento de desespero, preciso estar no trabalho em duas horas e não faço ideia do que fazer com a Chloe. Isso me faz desejar ardentemente ter alguém com quem possa contar. É uma emergência, afinal.
Hoje foi o segundo dia em que a levei comigo à livraria e não tivemos nenhum problema, ela ama os livros com figuras e pode passar muito tempo quieta. Às vezes tempo demais, confesso. Além do mais, lhe comprei lápis de cor e revistas para colorir, e ela adorou. Tive a sensação de que ela nunca ganhou algo assim, tamanha era a sua felicidade diante de uma coisa tão simples. Isso me fez sorrir.
Acho que deveria pensar em mandá-la para a escola. Crianças de três anos vão para a escola? Não sei; preciso descobrir. Preciso descobrir tanta coisa, minha mente nunca esteve tão tumultuada.
Estamos em minha pequena sala, Chloe está assistindo Frozen pela quarta vez, desde que eu comprei o DVD para ela ontem à noite. E eu? Eu estou olhando para o meu celular, pensando em todas as razões pelas quais devo passar por cima do meu orgulho, e pedir a ajuda da minha mãe. Ao final, não encontro razões suficientes para isso, mas ela é a única pessoa na minha lista do desespero. Preciso ligar...
Soltando um suspiro imenso de frustração, começa a discar seu número e espero pacientemente ela atender.
— Alô! — sua voz rouca estala em meu ouvido, quando ela atende no terceiro toque.
— Mãe, sou eu, — digo com uma risada nervosa, contendo o impulso de desligar na sua cara... Eu estou louca, louca. — Mia.
— Não precisa dizer seu nome, eu só tenho uma filha, Mia e é você.
Graças a Deus por isso. Sorte da criança que nunca precisou nascer no seio dessa amada família, eu cogito lhe dizer.
—É só um jeito de falar, mãe. — Justifico me afastando de Chloe e indo para o quarto para ter mais privacidade. — Como você está?
— Bem e você? — ela pergunta, desinteressada.
— Bem também. — Afirmo sem muita convicção. Eu não sei o quão bem estou agora ou ficarei pelas próximas semanas.
Ficamos em um constrangedor silêncio, enquanto eu penso em uma forma de abordar o assunto, falar lhe sobre Chloe... Sinceramente, não sei por onde começar.
— Você quer alguma coisa, Mia? — Minha mãe indaga, quebrando a quietude.
— Eu não posso te ligar? — devolvo um tanto ofendida.
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Minha Doce Menina CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO
RomanceMia viu o pai poucos vezes ao longo da vida, a última delas há mais de cinco anos. Então não sabe qual a razão de receber um telefonema em seu nome, no meio da noite pedindo para ir até a delegacia mais próxima. Depois do choque inicial, de várias n...