O silêncio é assustador!

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ED POV

Sabe quando a gente comete um erro, ou melhor, uma burrada tão grande e você quer pedir desculpas para a pessoa, mas não sabe como?

Eu quase nunca peço desculpas para alguém, mas quero muito pedir para Katherine. Queria pedir desculpas por tudo o que eu fiz desde que nos conhecemos, mas ela não deixa eu me aproximar. E eu nem sei como pedir desculpas para ela.

Desde que voltou para casa, há uma semana atrás, ela vem me ignorando o máximo que pode. Só dirige a palavra para mim quando é extremamente necessário.

O silêncio dela é tão assustador!

Hoje vamos sair para jantar com meu tio e Elizabeth, nossa primeira saída depois de tudo aquilo.
Ainda falam do que aconteceu. Os fofoqueiros de plantão já inventaram mil teorias para ela ter me deixado.

Meus tios chegam aqui em casa, me cumprimentam e Elizabeth sobe as escadas para encontrar Katherine no nosso quarto.
Ela já está pronta, mas não queria ficar perto de mim, então ficou no quarto com a desculpa de que tinha que ligar para a mãe dela.

- Como anda as coisas com Kathy? - Mark me pergunta sentando ao meu lado no safa.
- Ela continua um gelo comigo e nada mais. E sim, estou me esforçando para não fazer merda outra vez. E saiba que isso é uma prova e tanta, viu?! Esse silêncio dela me tira do sério. Às vezes me dá uma vontade louca de gritar com ela.
- Ela mexe com você! E isso é muito bom. - Ele diz isso com uma serenidade no olhar que chega a me dar raiva.
- Ela não mexe comigo. Não da forma como você insinuou. Eu não gosto dela!

Eu não consigo enganar ninguém com isso. Nem a mim mesmo.
Katherine mexe comigo de uma forma assustadora, e isso não é bom. Não quero um novo erro na minha vida.

Erro Katherine 2.

Isso não!

Tia Elizabeth e Katherine descem as escadas sorrindo, conversando alegremente.
Aquele sorriso radiante está ali outra vez e minha mente voa para Paris. Para os nossos passeios "românticos".
Então os olhos dela encontram os meus e aquele brilho dos seus olhos castanhos se transforma em uma tempestade de gelo. Seu sorriso some. E agora minha mente se teletransporta para a noite anterior. Quando eu tive a infeliz idéia de fingir que estava dormindo e abraçá-la. Para ela sair do quarto e não voltar mais.
Confesso que 30 minutos depois de ela ter saído e não ter voltado, saí para procurá-la, mas não a encontrei.

Gostaria de saber onde é o seu esconderijo nessa casa.

Tio Mark dá um beijo na testa dela e depois toma sua mulher nos braços.

- Vocês vão no seu carro ou com a gente? - tio me pergunta.
- Acho que no meu. - respondo e Katherine dá de ombros.

Entramos no carro e coloco numa rádio qualquer. Ela encara o céu pela janela. Seus olhos vazios. Penso que talvez esteja pesando no ex dela. Já flagrei ela duas vezes suspirando o nome dele.

Uma mulher canta uma música que não conheço, Katherine suspira no banco do carona.

"E eu só quero te abraçar, te abraçar, te abraçar agora
Você é o único que me mantém, me mantém no chão..."

Katherine interrompe o Refrão da música, desligando o rádio.

- Não gosta dessa música? - pergunto e ela me encara. - Parecia boa. Bem, não é o tipo de música que escuto, mas não era ruim.
- A música é ótima. Na verdade... Eu ouvia muito essa música quando Ethan foi embora. Ela diz exatamente o que eu estava sentindo naquela época.

Eu realmente não gostaria de ficar ouvindo ela falando desse cara, mas isso é melhor que seu silêncio. Pelo menos ela disse alguma coisa.

- Parece que se encaixava perfeitamente com o momento que você estava vivendo.
- É. Acho que a Nina Nesbitt a compos inspirada naquele momento da minha vida. - Ela sorriu. Isso me fez sorrir também, pois há muito tempo ela não sorria quando eu estava por perto.

Eu até tentaria uma conversa agradável, mas ela voltou sua atenção para o céu. E foi então que eu vi algo que nunca tinha visto ela usando antes.
Ela pegou uma correntinha de prata entre os dedos e levou o pingente de um coração com as letras E e K até os lábios e depois a deixou cair em seu colo, ficando entre o decote do vestido. Apesar de ser pequeno o pingente, dá para ver perfeitamente de onde estou. Tem uma pedrinha vermelha nas duas letras, o que dá uma corzinha para a correntinha toda de prata.

Durante todo o jantar eu fico observando Katherine. A forma como ela coloca uma mexa de cabelo atrás da orelha quando vai falar, e o leve vermelho em suas bochechas quando meus tios elogia seu desempenho na faculdade a deixa tão adorável.

Eu fico mais calado durante o jantar, apenas respondo perguntas quando são dirigidas a mim. A verdade é que aquele momento no carro não sai da minha cabeça.
A forma como ela beijou aquele pingente e depois sorriu...
Não tenho dúvidas de que ela ainda ama o ex.

- Andei conversando com Daniel sobre você. - Mark diz para Katherine e ele tem um sorrisinho nos lábios. - E como você já está no penúltimo período do seu curso, acho que você já pode ocupar sua vaga na Sheeran Engenharia.
- Katherine trabalhando na empresa? - pergunto alto demais.
- Sim. Está no contrato que ela teria um cargo na empresa quando terminasse a faculdade, mas como ela está cada vez melhor no curso, eu e Daniel achamos que ela já pode ocupar esse cargo.
- Daniel? - pergunto negando com a cabeça. - Quando esse cara vai parar de se meter onde não é chamado? Afinal, o que ele quer com Katherine? Porque ele só pode tá querendo algo. Ele não desgruda dela.
- Rivalidade da adolescência agora não, né? - Elizabeth me lança um olhar de reprovação. Pego minha taça de vinho e bebo todo o conteúdo.
- Mas vou começar com estágio, certo? - Katherine está feliz.
- Não.
- Mas eu gostaria de começar como todos os outros.
- Só aceite e pronto. Você é a protegida dele mesmo. - percebo que falei merda quando ela olha para mim com incredulidade. - Quer dizer, você é da família agora então não precisa passar por estágio. - tento corrigir.
- Se você insiste em começar por estágio, tudo bem, né amor? - meu tio concorda com a mulher.
- Mas você terá uma sala para você e salário. E isso não tem discussão. Você começa daqui duas semanas, pois semana que vem todos nós viajaremos para Martha's Vineyards.
- Todos nós quem? - pergunto já sabendo a resposta.
- Todos nós. Menos Daniel que vai viajar com alguns amigos para o México. As meninas entraram de férias semana passada e Kathy entra essa semana, então passaremos uma semana do verão lá.
- A propósito, sua mãe gostaria de ir conosco querida? - Elizabeth pergunta tocando a mão de Katherine.
- Ela não gosta de sair do país. Mas irei perguntar se ela quer ir também.

Eles continuam conversando sobre a viajem e a única coisa que penso é eu e Katherine naquele paraíso. Talvez lá, longe de Londres e toda a minha vida fodida, não possamos começar de novo?

E o melhor: sem Daniel para atrapalhar minha vida outra vez.

Chegando em casa, Katherine está normal. Parece que a notícia de trabalhar na empresa a deixou muito feliz.

- Por que te incomodou saber que vou trabalhar com vocês? - ela pergunta quando estamos subindo a escada.
- Não me incomodou... E você não vai trabalhar com a gente, vai trabalhar com Daniel. Nem sei porque fiquei surpreso. Já devia saber disso.

É bem a cara dele.

- Se te incomoda...
- Não encomenda. Vá em frente e desfrute o fantástico mundo que é a Sheeran Engenharia. Você vai adorar... Diferente de mim.
- Não entendo porquê você odeia aquela empresa.
- Ninguém entende mesmo. - digo abrindo a porta.
- Você é complicado! - ela sussura encostada à porta, com os braços cruzados. Chego um pouco mais perto e passo meu polegar por sua bochecha. Ela se afasta.
- Eu realmente estava falando sério quando disse para você nunca mais tocar um dedo em mim.
- Esquece aquilo. - Ela não está prestes a ter um ataque ou qualquer coisa. Ela só quer manter distância.
- Não... Eu nunca vou esquecer nada do que já aconteceu desde que te conheci.
- Seria mais fácil começarmos do zero.
- Seria mais difícil fingir que nada aconteceu. - Ela diz indo para o banheiro. - E minha cota de palavras com você já se esgotou por hoje. - diz como se não se importasse com nada além de ferir o meu ego.

Tenho a sensação de que essa cota de palavras dela vai ficar zerada por mais algum tempo.

Silêncio e aquele olhar de raiva e indiferença.
É, eu mereço isso.

Love Me AgainOnde histórias criam vida. Descubra agora