Capítulo - 7

46 5 1
                                    

Acordando na manhã seguinte, ainda de olhos fechados, virou-se na cama e procurou Isaac pelo colchão, tocando apenas o lençol desarrumado e um travesseiro.

- Isaac? - murmurou, abrindo os olhos e não o vendo no quarto. A luz do sol se infiltrava pelas frestas da janela imunda, e a porta estava aberta. - Isaac! - gritou, não ouvindo nada em resposta.

Teve vontade de chorar ao lembrar-se das palavras da amiga: "Tudo que acontece no esconderijo, fica no esconderijo". Ele tinha deixado-a lá, sozinha? Aquela noite que passaram juntos morreria lá como tudo que Isaac passou?

Sentou-se, enrolando o lençol em seu corpo. Andou até o banheiro, onde viu seu uniforme arrumado em cima da pia e seus produtos de higiene dentro do boxe e no armário. Sorriu ao ouvir o som de panelas e assovios vindo da cozinha.

Tomou um banho rápido e colocou o uniforme: uma saia xadrez (que, sinceramente, Alice achava ridícula.), uma camisa branca e a gravata vermelha, além das meias brancas três-quartos e os sapatos pretos obrigatórios. Odiava aquela escola por ser tradicional demais.

Com passos lentos e saltitantes, chegou à cozinha, onde Isaac preparava torradas e Nescau ouvindo música nos fones de ouvido. Deu uma leve risada, abraçando-o por trás e beijando seu ombro.

- Bom dia. - a garota murmurou, sentando na mesinha da cozinha, que não tinha visto na noite anterior. - Não sabia que cozinhava.

- Bom dia. - Sentou-se à frente dela. - E eu não cozinho. Comprei tudo isso na padaria aqui do lado. Só sei fazer miojo.

- Certo. - Deu uma mordida na torrada com manteiga. - Podemos dizer que fez uma excelente compra.

- Obrigada. - Tomou um gole do achocolatado. - Está preparada?

- Preparada?

- É. Quero dizer, seu pai me acha um encrenqueiro, e, pelo o que você me contou, sua "futura madrasta", ou seja lá o que ela for, é a coordenadora da escola. Provavelmente ela nos verá juntos e contará tudo para o seu pai. Ele pode te levar de volta para casa. - Seu sorriso louco sumiu.

- Meu pai não pode me tirar de você. - Alice levantou-se e caminhou até o colo de Isaac. - Nem se ele quiser, o que eu duvido.

- Não pode? - Beijou-a.

- Isaac... Você me transformou em mulher. - Sorriu para ele. - Fiz dezoito anos ontem.

- Isso... - O garoto engasgou com o achocolatado. - Está falando sério?!

- Mais sério do que nunca.

- Ah meu Deus! - exclamou, levantando-se e girando Alice no ar. - Nada vai te tirar de mim?

- Terá que me aturar por muito, muito mais tempo. - Sorriu, enquanto ele a colocava no chão. Enlaçou os braços no pescoço dele. - Só espero que não enlouqueça.

- Nós dois já somos loucos, pode ficar tranquila. - A beijou delicadamente. - Vamos logo para o inferno?

- Claro. - Riu, pegando a mochila e a colocando nas costas.

(...)

Isaac estava com Alice na porta da sala dela, os dois abraçados, encostados na parede. A garota percebia olhares indiscretos de horror das outras pessoas, afinal, os dois eram considerados os loucos da escola. Dois malucos juntos?

- Acho que perderam alguma coisa com a gente. - Alice murmurou, enquanto beijava Chapeleiro. - Não param de nos encarar.

- Isso é só... Inveja. - Sorriu. - Querem um pedacinho de mim, entende?

Apenas AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora