decepção

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- Ei garota são dez da manhã - a voz de Gabriel estava bem calma para um doido.
Abro os olhos, estou enrolada em um lençol azul, em uma cama muito melhor que a minha, e Gabriel está colocando pães na minha bolsa.
- Desculpa te expulsar assim, mas, já é quase onze horas, seus pais me conhecem e podem brigar comigo se descobrirem que dormiu aqui.
Análise cada parte do meu corpo, a procura de alguma prova que ele arrancou meus órgãos para o mercado negro, mas, estou com a mesma roupa, do mesmo jeito e observando agora, reparo que tem um colchão no chão.
Ele dormiu no chão, e acho que não fui estuprada, que sorte, agora aprenda Liz.
- Tá... Eu já estou indo par casa - levanto, calço os sapatos - você não fez nada estranho comigo enquanto eu dormia não né?
- você é mesmo muito desconfiada, mas, desculpe te desapontar, eu só te deitei na cama e tomei meus comprimidos também - ele nem demonstra raiva enquanto eu desconfio dele.
- Hum, ok tchau - já estou pegando a bolsa e indo para a saída.
- Tchau Liz, talvez eu passe na sua casa para...
Estou andando e nem escuto o resto da frase, só quero ir para casa e talvez dormir de novo.
Bem, ao contrário do que dizem, não foi nada ruim aceitar drogas de um quase estranho e dormir na casa dele, talvez esse povo só não saiba aproveitar nada da vida.
A vida só é boa quando se arrisca.
A porta de casa está aberta, será que meus pais brigaram de novo e mamãe se foi com suas malas para voltar logo depois?
- Pai? - digo fechando a porta e deixando a bolsa na mesa.
Olho o bilhete na geladeira - vou para a noite das garotas, só volto amanhã meio dia, assinado Marta.
Mamãe e suas noitadas, se eu não tivesse dormido fora teria que aguentar o papai a noite toda, reclamando enquanto assiste novela chata.
E mais uma vez fico pensando em como foi bom aceitar drogas do Gabriel, foi ate legal.
-Pai cadê você ? - já estou cansada de chamar - pai?
Ando ate o quarto e no chão vejo seringas, comprimidos e garrafas.
Parece que papai também passou a noite chapado.
Entro no quarto e ele está caído no chão do lado de varias garrafas de vodca, que com certeza eu queria que estivessem vazias por minha causa.
- Você bebeu de mais hein, vai ter uma ótima ressaca, e não vou nem te dar remédio - falo com ele, mas, ele não responde deve estar dormindo.
viro seu corpo para que ele não fique de cara no chão e também para dar um belo sermão, ou não obvio quem sou eu para falar algo.
Mas, sua boca esta meio torta e acho que no canto de sua boca tem algo meio como baba, seus olhos meio sem vida, eu não sei, eu mal consigo pensar agora.
- Paaaai? Paai? - eu enfim percebo que ele está gelado e com uma seringa enfiada na veia - não, não, não.
Eu testo seu pulso porque já aconteceu antes, em uma família como a minha se vê overdose toda semana, quem sabe papai só tivesse dado PT.
Porém, ele não tinha pulso e estava muito gelado, meu deus, talvez eu devesse ter chamado à ambulância, mas, eu só conseguia chorar e chorar, por quê? Realmente porque logo hoje? Logo quando eu não estava em casa pai?
Em um momento eu olho para o meu celular, talvez essa seja a hora que eu cheguei mais próximo de pedir ajuda e, onze chamadas perdidas do papai.
Eu, eu deveria gritar?
Eu deveria chorar até não aguentar?
Por que Liz? Por que você não faz nada mais que chorar encima do corpo do papai...?
Ou melhor, por que eu aceitei drogas? Eu deveria estar em casa, eu o veria ter ataque, eu podia ter... Eu talvez tivesse... Feito algo.
Usar as drogas não atrapalhou a mim, mas, na hora que eu mais precisava estar consciente, elas me arrastaram para seu mundo prefeito que na verdade, de perfeito não tem nada, hoje foi meu pai... O meu pai cara, e amanhã minha mãe? Quem sabe seja eu.
Eu não quero mais estar à mercê das possibilidades da vida, não quero ser a idiota que não controla a própria vida.
Agora quem sabe eu esteja lá quando alguém precisar.

Apenas mais um dia ruimOnde histórias criam vida. Descubra agora