"Eu tinha apenas dezoito anos quando tudo aquilo ocorreu, me lembro de pouca coisa daquela noite, era uma madrugada de sexta-feira, uma fria madrugada, acordo com os berros desesperados da minha mãe na sala. Quando fui até ela já temerosa do que pudesse ter acontecido, a encontrei cercada de policiais, que tentavam acalmá-la, caminhei assustada ao encontro deles. - O que está acontecendo? – me dirigi aos policiais. - Senhora, seu pai e o seu irmão sofreram um grave acidente na Avenida Bela Vista, eles tiveram uma colisão frontal com uma árvore... – nem esperei o policial acabar de falar. Apertei a minha mãe e nós choramos juntas. - Meu marido, meu marido, meu tudo morreu, Juliana. Ele morreu. O que será da gente? – ela disse agarrada em mim, e senti meu peito apertar, contive minhas lágrimas e decidi no meu íntimo que seria forte, que arrumaria um emprego para ajudar minha mãe nem que para isso eu tivesse que largar a faculdade de moda que eu acabara de ser aprovada. Suspirei. - Calma mãe, por favor. Nós temos uma a outra, e ainda temos o Rapha, ela precisa de nós. – disse tentando parecer o mais forte possível. - Raphael está internado, ele teve pequenas escoriações, nada grave. – ele deu uma pequena pausa. – Mas, alguma de vocês precisa reconhecer o corpo.
Saí de pijama da forma que estava e os policiais nos deixaram onde o Rapha estava internado. Aquele lugar era assustador, frio, gélido, pessoas abatidas e sombrias, minha mãe não teve condições de entrar no quarto em que o corpo do meu pai estava.
~~~~~~
Ele estava machucado, não aguentei ao vê-lo daquela forma, me debrucei sobre seu corpo e chorei, chorei com todas as minhas forças, minhas lágrimas o molharam.
- Pai, por quê o senhor fez isso comigo? Eu te pedi tanto pra não sair de casa!!! – disse em meio a soluços.
– Me olha daí de cima, eu preciso ser mais forte do que nunca, preciso cuidar do Rapha e da mamãe. – eu alisava seu rosto, e tentava me acostumar com o fato de que aquela seria a última vez que faria carinho no meu pai.
- Eu te amo tanto, pai. Tanto, o senhor foi o melhor pai do mundo, estava tão orgulhoso de mim. – dei uma pausa, e o beijei o rosto. – Vá com Deus, meu pai. Olha por nós aí de cima.
Não aguentei mais ficar naquele quarto e saí antes que desmaiasse, nunca imaginei que veria meu pai morto, eu sei que é a lei da vida, mas é difícil aceitar."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os dois lados da moeda
RomansaSinopse. Juliana é uma mulher marcada por tragédias em sua vida, aos vinte e nove anos, já passou por diversas situações difíceis na sua curta trajetória. Há 11 anos, perdeu o seu pai em um violento acidente de carro, e ela como filha mais velha pre...