Capítulo 2

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Que coisa mais estúpida morrer aos 23 anos! Às vezes nem acreditava, parecia que a qualquer momento ela ia reaparecer como se nada tivesse acontecido e dizer: "Gente, que que há, não se pode sumir por uns dias que vocês logo inventam que eu morri?" Sentia muita falta dos papos, da companhia, até das discussões. A morte do Rildo foi um raio que caiu bem perto dele, sacudiu-o brutalmente e desarrumou sua cabeça e sua vida. De vez em quanto, como naquele momento em que a lembrança voltava, sentia de novo as entranhas se contraírem dolorasamente.
De chofre, viu-se diante da verdade intolerável que era a sua própria mortalidade, até então uma noção genérica, teórica, quase tão impessoal como o fato de que a Terra era redonda. Se Rildo pôde morrer, ele também podia. Aliás, estivera perto disso aquela noite. Que coisa precária, a vida! Um freio defeituoso, um pedregulho que rolasse da montanha, um mergulho de mau jeito, un caroço maligno em alguma parte do corpo, uma agulha infectada do um vírus na corrente sanguínea e pronto, a vida acabava. O mundo às vezes lhe parecia um lugar absurdo, onde as pessoas caminhavam, riam, se agitavam, faziam planos, lutavam por migalhas, totalmente esquecidas da ameaça sempre presente. Inevitável, a morte esperava a todos. A única incógnita era o memento de sua chegada.

O Trem Dos Mortos Where stories live. Discover now