Como eu me vejo?

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Não sei se vou ter coragem de contar essa história.
Ela não é bem feliz, ta mais pra uma lição de vida.
Vocês não me conhecem, eu sou insignificante até pra minha mãe, que tenta me ajudar me criticando.
Sou alta, magra, cabelos castanho-sem-graça-médio e olhos pretos, meu rosto é fino e eu sou... Bem... Eu sou só eu.
Nada que faça muita diferença.
Tudo começou quando minha mãe comentou, como quem não quer nada, sobre minha barriga. Eu estava tranquila com tudo ao meu redor, mas o comentário dela e a concordância do meu pai infiltraram na minha mente de um modo que, sem conseguir ver outro jeito de conseguir resultados rápidos e satisfatórios, comecei a usar e abusar das mias. Anemia e bulimia, primeiro uma e depois a outra.
Só anos depois eu fui entender que eu não queria me machucar, eu estava tentando somente matar aquilo que estava me machucando por dentro - os comentários que, a essa altura, haviam aumentado de frequência e já estavam entranhados na minha carne, doendo como algo físico. Eu ficava nervosa porque não conseguia parar de comer e comia mais, isso fazia minha mãe me repreender e eu passei a alternar entre um e outro. Eu não senti mais fome, ou sede direito, e comecei a perder peso. Mas toda vez que me olhava no espelho, encontrava uma imperfeição pela qual chorar e lutar ainda mais contra. Ate o momento que eu desmaiei trancada no meu banheiro.
Foi desesperador, acredito eu, pra todos aqueles que fingiam gostar de quem eu era por dentro e por fora. Eu sabia que todos eles mentiam (ou então era assim que eu achava). Fui parar no hospital desidratada e o médico ficou assustado com o meu estado, disse que eu teria que ficar internada no soro e perguntou se minha mãe andava me prendendo sem comida pois também apresentava um quadro de desnutrição. Fiquei envergonhada e jurava que minha mãe ia me dar um sermão por eu não conseguir fazer nada direito, mas aí foi o estopim dos meus julgamentos errados. Ela saiu do quarto particular onde eu estava e buscou meu pai, e eu fiquei esperando de cabeça baixa pela bronca que viria.
Uma bronca que não veio.
Quando olhei pra eles, os dois choravam contidamente me olhando. Não entendi nada.
"O que fizemos com você?" Papai perguntou e eu olhei pra minha mãe. Ela só sabia chorar.
Me pediu perdão e disse que não sabia quando aquilo tinha começado - fiquei tentada a abrir a boca e dizer que eu me lembrava das exatas primeiras palavras dela que começaram toda aquela rebolia em mim, mas me mantive calada - mas que esperava que ainda houvesse tempo de ser reparado. Meu pai concordou e pela primeira vez em muitos meses - não contei ao certo, mas acho que foram cerca de 13/14 para que chegasse ao estágio que me encontrei - eu me senti amada.
É triste, né? Uma filha sabe que os pais a amam, mas aquele único comentário em um fatídico dia que sua auto estima está baixa, entra na corrente sanguínea e te dá um falso motivo pelo qual lutar: sua mudança.
Hoje eu entendo.
Não devemos mudar quem somos por alguém, por um comentário, uma crítica, uma ofensa que seja.
Também não devemos nos aceitar como somos porque não há jeito de mudar.
Nós podemos, e devemos mudar, se isso nos fizer crescer interiormente. Mas o que não deve mudar, é nosso caráter. Do momento que você se machuca, por dentro ou por fora, está pondo em prova seu caráter e sua integridade. Você não sabe mais quem você é? Procure dentro de si mesmo. Olhe para dentro de si e veja o que gosta em si mesmo, e se decidir que não gosta de nada, espero que olhe uma segunda vez.
Todos somos lindos, se assim quisermos.
Não precisamos ser perfeitos para sermos lindos. Não precisamos seguir padrões ou regras para nos enquadrarmos onde quer que seja.
Seja você, e isso basta.
Essa foi a lição que ficou para mim: jamais deixe que alguém mude o modo como você se vê. E goste do que veja.

// Não é história pessoal, somente me inspirei em conversas e histórias reais de pessoas reais. Qualquer semelhança é mera coincidência. Por favor deixem nos comentários se gostaram ou não. Beijos! 😘

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