pm

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        O sol já havia sumido do céu, e junto à ele, todo meu sossego também.

       O dia estava uma merda para mim, quero dizer, depois de toda a conversa que tive com minha mãe pela manhã e da troca de olhares com Thomas eu tive simplesmente uma das piores aulas da minha vida.

       Eu estava triste, estava triste de verdade, devastado, e a faculdade de letras que eu cursava decidira inciar o semestre com uma das fases do romantismo europeu. Eu voltei de lá ainda mais miserável do que antes.

       No almoço eu assisti através da janela da sala Thomas se despedir com um selinho do loiro que eu vira com ele hoje de manhã. Então aquilo queria dizer que ele havia deixado de ir para a aula da faculdade para foder? Ótimo. Desejei profundamente que ele reprovasse em ao menos duas matérias diferentes por conta daquilo, mas era impossível. Porque Thomas era irritantemente inteligente.

       Desejei também que mamãe estivesse em casa naquela hora para que visse o quanto o amiguinho dela era ridículo, mas ela não estava.

       Agora, já eram quase oito horas da noite e eu continuava sozinho em casa, mas diferente de antes, eu não assistia a uma série qualquer na netflix, eu assistia, através da janela e da chuva rala, a forma como Thomas fumava um de seus cigarros, sentado despreocupadamente na sacada da casa em frente a minha. A casa de Teresa.

       Eles eram amigos, ok. Melhores amigos, na verdade. Melhores amigos que eventualmente se beijavam e eu costumava odiá-la quando eu e Thomas estávamos juntos. O importante é que independente do que eles fossem, Thomas gostava de pau e no final do dia, ele sempre recorria ao meu. Ou costumava recorrer.

       Não que isso fosse de alguma importância agora.

       Ou ao menos, não deveria ser, mas era para mim. E toda a situação pela qual eu passara mais cedo não estava colaborando em nada com o meu humor e muito menos com a dor que eu sentia em meu peito.

       Era horrível, era torturante. Era como se meu cérebro, meu coração e todas as minhas veias gritassem para que eu não desistisse de Thomas sem lutar uma última vez.

       Não que eu tivesse lutado antes. Ao menos, não para valer. Eu ligara para ele quatro ou cinco vezes depois de tudo, e quando eu me dei conta de que ele não me atenderia, eu desisti.

       Afinal, ele era só mais um, não era? Mais um relacionamento fodido por mim, mais uma foda boa e mais um que eu superaria sem grandes danos.

       Era isso que eu achava que Thomas era na época, mais um, mas ele estava tão longe de ser mais um por simplesmente estar perto de mais de ser o único. O único que fazia meu coração palpitar todas as vezes em que eu o via, mesmo que fosse passando pela janela da minha cozinha enquanto caminhava tranquilamente até o campus da faculdade onde estudava; o único que me fizera sofrer por não retornar minhas ligações; o único que me fazia sorrir apenas com lembranças; o único que me fizera ser capaz de imaginar um futuro; o único por quem eu me apaixonei; e também, o único o qual amei.

       Eu o amava. Merda, eu estava completamente e fodidamente apaixonado por Thomas O'Brien, e se eu não fizesse nada, ele nunca saberia.

       Ele nunca saberia porque o tempo o qual estivemos juntos não foi o suficiente, não foi o suficiente para que trocássemos o famoso "eu te amo", não foi o suficiente para que eu provasse que um beijo dado ao acaso em uma festa significava o mesmo que nada para mim, não foi o suficiente porque à três meses atrás, não era amor. Era paixão, era construído a base do desejo carnal, da atração física e das fodas inusitadas. Era por puro prazer e não por amor, oh, não, eu não o amava ainda, mas não estava longe de amar.

       O amor veio depois, quando estávamos separados.

       Quando eu o via passar pela rua e sentia o coração apertar em saudade; quando eu lembrava de sua risada e queria ouvi-la; quando eu queria estar abraçado à ele sem antes termos passado por uma noite de sexo; quando eu passava em frente à sua casa e sentia falta de estar lá dentro, deitado junto à ele assistindo um filme qualquer; quando eu sentia o sangue queimar em ciúmes quando o via com outro homem; quando eu adiantei o despertador do celular para conseguir vê-lo todas as manhãs; quando tudo isso aconteceu, eu descobri que o que eu sentia por Thomas ia além de paixão, eu descobri que o que eu sentia era amor.

       E se eu queria provar para ele que nosso amor valia à pena de se viver, eu teria que correr atrás. De verdade, desta vez.

       E era exatamente o que eu faria. Daria a cartada final, me entregaria ao tudo ou nada. Se desse certo, ótimo. Se não desse, Thomas ao menos saberia como eu me sinto, e passaria o resto de seus dias se lamentando por ser o culpado pelo meu coração partido.

       Levantei-me depressa do sofá, corri até o meu quarto e vesti a primeira roupa que me apareceu, eu sabia exatamente o que fazer a partir dali.

       Eu sabia o que fazer porque Thomas gostava de flores, entendia de flores e trabalhava com flores.

       Já vestido, andei depressa até a cozinha, escrevi um bilhete sem capricho para mamãe, avisando que eu iria até a floricultura do bairro, dei até mesmo a referência "onde Thomas trabalha no período da tarde, quando não está na faculdade (ou faltando da mesma para foder seus namoradinhos)" e deixei-o sobre a mesa.

       Quando saí de casa, a chuva já não estava tão fina assim quanto antes, mas eu não me importei. Senti um olhar pesar sobre mim e olhei para cima depois de fechar a porta de casa. Thomas estava ali, me encarando diretamente da sacada da casa de Teresa, e eu sorri para ele.

       Eu sorri porque eu o amava e iria provar.

       Eu sorri porque o amor nos faz de bobo e eu era um bobo por Thomas.

       Eu sorri, mas ele não sorriu de volta. E eu nem ao menos me importei, não me importei porque a expressão confusa de Thomas me valeu o sorriso, ele estava mexido, e talvez, ele também me amasse.

       Sorri ainda mais e saí em disparada na direção da floricultura, não era muito longe de casa, cerca de dez ou quinze metros.

       Quando eu entrei no estabelecimento, ouvi o sininho soar estridente, avisando ao atendente que eu estava ali, e quando rodei o olhar no local, vi Minho sair detrás do balcão e sorri ainda mais feliz. Sorri feliz porque ele saberia como me ajudar, sorri porque da mesma forma que o beijo não significava nada para mim, não significava nada para ele também, sorri porque quando Minho me viu sorrir sua careta confusa e apreensiva diante minha presença se transformou em um sorriso também. E nós sorrimos juntos porque é isso que o amor faz, o amor contagia.

       - Eu preciso de flores, Minho! - cantarolei feliz. - Algo que sirva como um pedido de desculpas e tenha a cor viva do amor. - expliquei enquanto assistia Minho caminhar até uma das prateleiras da loja. - Porque eu o amo.

       - Eu recomendaria Ciclames Vermelhos para você. - o atendente apontou a flor e eu achei-a encantadora, como tudo à minha volta passara a ser do nada. Talvez fosse a adrenalina em meu corpo, ou apenas o amor. - Elas servem como pedido de desculpas e as vermelhas são para namorados. Ele gosta muito delas também. - Minho se referiu ao melhor amigo, entendendo para quem eu pretendia enviá-las.

       - Thomas gosta? - perguntei feliz.

       - Sim. - o moreno sorriu.

       - Então eu vou levá-las! - exclamei.

       - Quantas?

       - Muitas.

       - Muitas, quantas? - ele insistiu.

       - Muitas, muitas.

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