"Enzo,
eu queria poder falar isso em particular, mas dado a situação em que me encontro, é melhor por esta carta em que estou te enviando. Saiba que neste momento em que lê isto, eu estou desejando ardentemente estar contigo... Nos teus braços.
Mas eu não escrevi isso para falar de nós, e sim de uma coisa que precisas saber: Logo após chegar a Florença, fui notando algo estranho com Cecília. Ela estava muito pálida, com aspecto preocupado, e notei que nos olhos dela estava o desespero. Com o passar do tempo, nós dois ficávamos mais amigos um do outro, até que ela me confidenciou que estava grávida, e me implorou para que eu não contasse a família dela. E pela as minhas contas, o filho que ela espera é seu Enzo. Bem, a princípio eu iria sim pedir a anulação do noivado, por que assim viveríamos juntos.
Porém percebi que não podia abandoná-la, afinal Cecí é minha prima e como tal, sangue de meu sangue. Se contasse ou os pais dela a jogariam nas ruas, ou na pior das hipóteses em um prostíbulo como uma devassa, ou iriam te matar por ter se "aproveitado" dela. E mesmo com toda a dor que estou sentindo, tive que optar por uma saída que era a salvação de todos, mas a destruição de minha própria felicidade: ficar ao teu lado.
Enzo, a vida aparentemente quer ser cruel comigo... Eu não tenho como escolher, dado que a escolha que faria bem a mim seria a destruição de alguém. Posso ser egoísta, mas cruel, não. Escolhas certas são sempre as mais dolorosas e difíceis... Oh céus, o que eu não daria para te ter ao meu lado? O que eu não faria só para te sentir segurando a minha mão, ou eu acordando com tu todos os dias, e ver o teu sorriso? Tu foste o primeiro em tudo: Meu primeiro e único amor, meu primeiro beijo, minha primeira vez. Uma vez disseste-me que nunca poderia me sacrificar por alguém... Bem, por tu faria isso sim.
Eu te amo com todas as minhas forças, e saiba que é por esse amor que fiz isso, por que somente ele foi capaz de minimizar o meu desejo de deixar tudo de lado. Eu serei sempre seu, de corpo, alma e coração. Não sei se vale alguma coisa, mas mesmo assim fique com eles. Cuidarei de vosso filho como se fosse meu, afinal é um pequeno pedaço seu, meu e de Cecí. Encontrarei-te sim na catedral, e caso tiveres algum plano, irei segui-lo fielmente.
Não se esqueças de mim... Eu te suplico... Cada dia de minha vida irei sempre lembrar de tu. Isso é uma promessa.
Com todo o meu amor,
Louis"
As palavras aqui escritas, eram como uma surra a medida em que as lia... Meu sangue parecia que endureceu nas veias, obrigando o coração aumentar os batimentos, esmagando com força de dentro para fora. Minha mente tentava processar esse novo excesso de informações, que havia simplesmente quebrado todos os muros de minha calma.
Nesse tempo... Nesse tempo todo... Ele... Ele me... Respirei fundo, tratando de me concentrar, colocando as ideias em ordem precisa. Louis nunca me abandonou... Ele apenas salvou a minha vida... A de Cecília... E a de minha... Minha filha.
Por quê? Ele nunca foi uma pessoa com grandes qualidades... Sempre tão egoísta, mimado, infantil e histérico... E faz alguma coisa desse gênero... Mas ele fez. Ele teve que abrir mão de sua própria felicidade, para cuidar de uma criança que nem era dele, e de uma prima que mal conhece. "Por amor... Só isso". Essa era a resposta. Simples e precisa. Louis fez o que fez por um amor a mim.
Nesse tempo todo, só agora eu compreendi como ele era grandioso. Desde o primeiro momento em que eu o vi, soube que ele tinha um quê a mais... Mesmo com as mãos entrelaçadas pousadas no colo, ou da expressão facial que demonstrava calma e paciência como convém a um cavalheiro elegante, seus olhos demonstravam um brilho faiscante, como fogo atrás de vidro verde, onde a rebeldia e a alegria de viver pareciam gritar, mesmo ele estando em silêncio.