Marina chegou à garagem de casa às 16h30, abriu a porta do carro e recebeu o olhar crítico de Rodrigo.
— Nem adianta reclamar do meu atraso, eu só estou te fazendo um favor.
— Ok — ele ligou o carro. — Muito obrigado por me fazer mais esse grande favor. Agora se você puder entrar logo, o caminho até o Shopping Iguatemi é longo, e eu já estou em cima da hora.
Ela forçou um sorriso, sentou-se no banco do carona, bateu a porta e estendeu a mão à frente do volante.
— Já se esqueceu que precisa me dar dinheiro para o táxi?
— Eu vou te trazer de volta.
— Quando? Depois de curtir o resto da tarde e a noite inteira com sua nova amiguinha? Eu não vou esperar.
Rodrigo rosnou, estava explicado por que depois de Sérgio Marina não conseguia mais arrumar um namorado.
— Tudo bem então. Se você quiser voltar para casa logo, eu te pago um táxi, satisfeita? Agora vê se põe o cinto.
— Já botei, imbecil.
— Ô, Marina, vem cá, você bebeu vinagre em vez de água hoje, foi?
— Não, querido, por quê? Acaso está querendo que eu desça do carro? — ela o fitou, piscou os olhos repetidamente e sorriu em ironia.
Silêncio, enfim o carro cruzou o portão da garagem.
— Não quer ligar o som? — Rodrigo perguntou como se os dois não tivessem acabado de soltar faíscas, sua voz tão mansa quanto um filhote recém-nascido.
— Claro, Rô — Marina sorriu com triunfo. — Assim é bem melhor.
Aninha estava sentada em frente ao restaurante Lamparina, como havia combinado com Rodrigo, e não parava de olhar o visor do celular. Quem seria tão idiota a ponto de se atrasar exatamente no primeiro encontro? Olhou para todos os lados e fez menção de se levantar, mas... Hey! Aquela não era...
— Marina? — perguntou, arrebatando a mão da garota que perambulava atrás de si feito uma criança perdida na praia.
— O-oi... — a palidez em sua face denotou que ela não fazia ideia de quem a tocava.
— Nossa, quanto tempo! — Aninha levantou-se para abraçá-la.
— Hey... — disse Rodrigo, aproximando-se delas. — Você está aí!
— Claro que estou, foi o que combinamos — Aninha respondeu e, confusa, afastou-se um pouco para fitar os dois. — Nossa... Será que eu conheço vocês mesmo?
Rodrigo e Marina entreolharam-se. Sim, era claro que ela e Rodrigo se conheciam, e não, absolutamente, Marina não se lembrava de ninguém tão bonita quanto aquela "Aninha".
— Bom, eu continuo sendo o Rodrigo e essa é minha irmã...
— Marina — Aninha completou. — Eu sei.
— Sim — ele olhou para as duas. — Vocês já se conhecem?
Marina deu de ombros e torceu a boca em sinal de completa incerteza.
— É claro que sim — Aninha respondeu. — Não acredito que você tenha se esquecido de mim, Mari.
Zero lembrança na cabeça de Marina.
— Primeiro semestre de 2005, Colégio 2 de Julho, Shopping Barra, Subway, Tatá, Taí. Tem certeza de que isso tudo não te diz alguma coisa, hã?
Os olhos de Marina ficaram miúdos. Oh my Gee! Aquela Aninha era mesmo...
— Poliana?!
Para a surpresa de Rodrigo, o que deveria ter sido um encontro romântico terminou se transformando numa sessão chatíssima de "recordar é viver".
— Olha só — Poly disse —, eu adorei saber que Rodrigo é seu irmão, Mari. Quer dizer, a gente não se via há quase cinco anos, mas amizade feito a nossa não se acaba por causa da distância ou do tempo, não é mesmo?
— Ah, por favor, é claro que não — Marina confirmou animadamente, quando na verdade queria dizer "tenha santa paciência! Eu quase não me lembro de você". — E pode ficar tranquila, Poly, Rodrigo é meu irmão, mas... se ele pisar na bola, conto tudo a você — piscou.
— Ok — ele suspirou entediado, não poderia aguentar nem mais um minuto daquele clima chato de clube da Luluzinha. — Fico contente que vocês se conheçam. Pra mim é como se fosse um sinal.
— De que vocês estão destinados um ao outro? — sugeriu Marina, e Poliana, muito menos tímida do que cinco anos atrás, arregalou os olhos para o pretendente. Oh sim, ela acreditara naquela conversa fiada!
— É-é... — ele confirmou, tentando esmagar o pé da irmã por debaixo da mesa.
— Jura que você também pensa nessas coisas? — Poliana fitou os olhos de Rodrigo, que quase vacilaram até os de Marina.
— É-é claro.
— Então... — Marina intrometeu-se, como se fosse a nova Tatá, sua melhor e mais encrenqueira amiga em comum. — Parece que vocês precisam conversar um pouco a sós, não é?
Rodrigo sorriu apavorado. E como seria diferente, depois de saber que a garota dos seus sonhos não passava da amiguinha ingênua de adolescência da sua sarcástica irmã?
Poliana, todavia, adorou.
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Simplesmente Você - Livro 2
Chick-LitO que fazer quando o tempo passa e mesmo assim a gente não consegue arrancar aquela pessoa do pensamento? Altair, um rapaz de vinte e um anos, bate os olhos em Marina, uma garota de quinze, e nunca mais a tira da cabeça. Cinco anos e muitos acontec...