CAPÍTULO 1 UM HOMEM CAíDO NO MEIO DA NOITE

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   Na serenidade de uma noite estrelada, duas mulheres trocavam alegres palavras. A primeira, de cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, contemplava o céu com seus brilhantes olhos castanhos, exibindo um sorriso inocente. Seus lábios se moviam graciosamente, enquanto sua voz ecoava de forma doce e empolgante:

- Olha, Lílian, que noite maravilhosa para observar! - exclamou, virando-se para sua amiga ruiva e cacheada, que usava um piercing estilo "touro" no nariz e um batom preto chamativo. - É incrível ver a cidade daqui de cima, você não acha?

Lílian olhou para sua amiga com o mesmo sorriso estampado no rosto. Seus olhos se fixaram na cidade estendida logo abaixo delas. Ambas se encontravam em uma torre feita de pedra, formando um cilindro, com uma escada de emergência de ferro ao lado esquerdo, já enferrujada pelo tempo e falta de manutenção. No topo da torre, onde estavam as duas, havia duas cadeiras e uma pequena mesa com uma jarra de água, alguns copos, frutas, biscoitos, binóculos e sanduíches pela metade. O teto da torre era coberto por telhas, com duas pequenas pilastras, servindo como abrigo em dias de chuva ou calor intenso. O espaço ali não era espaçoso, e as duas estavam encostadas nos pilares opostos, admirando o céu estrelado.

Desviando o olhar da cidade silenciosa, repleta de segredos e histórias fascinantes, Lílian respondeu:

- Sim, está uma noite linda e incrível, Lorena. Parece um sonho.

Ao pronunciar o nome de sua amiga, que a observava com um olhar sorridente antes de voltar a atenção para o céu, Lílian se lembrou de algo importante, uma lembrança sempre presente quando estava com Lorena.

A lembrança era de que, se não fosse por Lorena, ela não teria conseguido realizar o sonho de se tornar uma vigia. Desde pequena, Lílian desejava passar as noites vigilante naquela cidade que a acolheu tão bem. Ela se recordava de quando chegou, aos seis anos, trazida por sua mãe. Tentava lembrar o motivo de terem ido parar naquela cidade, mas sua mãe sempre evitava falar sobre isso, desviando da pergunta. Lílian aprendeu desde cedo que certas questões eram melhor não serem feitas.

O que lhe chamava a atenção eram as vigilantes, mulheres com olhos atentos como águias nas noites. Certa vez, ela perguntou à sua mãe o que significava aquilo. Essa lembrança permanecia vívida em sua consciência.

Era uma tarde linda e ensolarada em Ivnis, quando Lílian tinha doze anos. Sentada na varanda de sua casa, ela observava sua mãe balançando na rede, com um dos pés apoiados no chão. Sua mãe estava radiante naquele dia, com seus 32 anos e cabelos ruivos, que se mantinham incríveis mesmo aos quarenta anos, sem muitas mudanças em sua aparência. Seus olhos azuis e lábios finos destacavam seu rosto pálido. Depois de mais uma balançada na rede, sua mãe quebrou o silêncio com uma resposta cheia de ensinamentos:

- Minha pequena flor, essas mulheres ajudam a proteger a cidade, vigilantes durante o dia e a noite, mantendo nossas mentes tranquilas, sabendo que estamos seguros e longe de olhos maliciosos ou pessoas que ameacem nossa paz.

Lílian adorava a forma como sua mãe explicava tudo, e, a partir daquele momento, tinha absoluta certeza de que realizaria seu sonho de se tornar uma vigilante.

Um pensamento mais recente aflorou em sua mente, oito meses atrás, quando ela participou de uma seleção para o cargo de vigilante, mas não obteve um bom desempenho. Os testes práticos, que incluíam passar uma noite vigilante em dupla, aprender a confiar e conviver com o parceiro, e tomar as decisões corretas em situações delicadas, não foram a seu favor. Lidar com escolhas difíceis não era o seu ponto forte, e essa foi a razão de seu fracasso. Ela poderia ter desistido e tentado novamente outro dia, mas Lorena, sua amiga e filha da líder da cidade, não permitiu. Ela convenceu sua mãe a lhe conceder o cargo e se tornou sua companheira nas noites de vigilância.

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