Uma mulher de quarenta anos de um rosto sofrido pelo tempo, cabelos em mechas loiras e brancas, encarava sua imagem diante do espelho. Seu olhar parecia vago e demonstrava uma autoridade e uma segurança de que suas atitudes podiam fazer diferenças. Aqueles olhos encaravam o pelo espelho e a fazia voltar no tempo. Um tempo que lhe fazia lembrar-se de um passado amargurado que insistia sempre em voltar.
Quantas escolhas ela já fez para poder chegar naquele lugar e a liderança? Quantas escolhas ela deveria tomar daquele dia em diante?
Aquelas respostas estavam guardadas no fundo da sua alma, camuflado por sua ignorância, ditadura e um coração de pedra que a não deixava se arrepender e quiser mudar. Diante do espelho, parecia uma eternidade que ela estava ali até que uma voz que vinha do outro lado da porta irrompeu seus pensamentos:-Senhora, o que está acontecendo? Já tem horas que está nesse banheiro, se sente bem?
-Saia daqui, Hellen Vitória! Deixa-me em paz!
-Mary me deixa te ajudar, sei que teve uma briga com sua filha, mas...
-Saia, eu já disse! -Interrompeu-a com uma voz esganiçada - Vai embora! Eu não preciso do seu serviço hoje, tira o dia de folga.
A voz do outro lado calou-se distanciando até seus passos serem abafados pelo som da porta sendo fechada. Mary voltou sua atenção para o espelho, uma pequena lágrima escorria pelo seu rosto, rapidamente com as costas da mão esquerda ela limpou.
Sua respiração estava acelerada, fazendo a suspirar muito rápido.
Ela inspirou mais uma vez e com uma voz esganiçada gritou:-Por que Deus? Minha própria filha!...Por quê... Em?
Subitamente uma raiva subiu pelo seu corpo todo fazendo a socar o espelho e inchar sua mão esquerda.
Ignorando a dor que sentia e voltando a encarar aqueles olhos vermelhos de raiva naquele espelho trincado, ela recomeçou a pensar em voz alta:-Filha... Ingrata! Eu dei tudo para ela e assim que ela me agradece? Eu ensinei tudo, mostrei as leis que redige essa cidade e ela traz um homem para dentro Isso é um absurdo! Há... Se ela soubesse o que eu fiz por ela, não me desafiaria desse jeito.
A dor começou a ficar mais aguda com a mão direita ela ligou a torneira e deixou a água escorrer na sua mão inchada. A sensação de alívio tomou conta dela e fechando a torneira, caminhou lentamente até passar pela porta do banheiro fechando-a em seguida.
A luz do luar banhava a sala da delegacia, sombras faziam nas fotografias de Mary e Lorena, sorridentes e alegres, fotos dela abraçada com sua filha. Uma mesa de metal estava posta no centro da sala, onde várias fotografias se espalhavam pela mesa em quadros enfeitados de lacinhos, além de várias anotações e papeladas.
Um vento fraco fazia as janelas rangerem e o luar mostrava as paredes azuis.
Mary contornou a mesa e abriu à porta fechando a em seguida, um corredor levava até a porta de saída. Lentamente ela caminhou por aquele piso de ladrilhos marrom até a porta, antes de fechá-la, dando uma última olhada naquela delegacia que há pouco tempo ela havia assumido como líder e delegada da cidade. Trancando-a ela seguiu de cabeça baixa por aquela rua que descia silenciosamente até perder de vista.
Suspirando ela olhava para cada casa que via diante dos seus olhos, casas azuis, rosas, amarelas, brancas, algumas com jardins, outras de dois e até três andares. O que será amanhã quando cada habitante descobrir que tem um homem abrigado em nossos muros? Pensava Mary olhando para cada casa. Naquele momento ela nem queria imaginar o que poderia acontecer.
A lua cheia a acompanhava cada passo, iluminando cada centímetro no seu caminho. Só havia uma pessoa naquela cidade que poderia entender e ajudar naquele momento, com aquele pensamento Mary desceu a rua disposta a receber conselhos de quem sempre a ajudou em momentos complicados como aquele.Descendo a rua Mary lembrou de um momento do seu passado, uma lembrança que sempre insistia em voltar na sua mente constantemente. A lembrança estava tão viva na sua mente que ela parou um segundo para deixar seu pensamento voar para esse momento do seu passado.
Sua lembrança começava por um dos pontos mais lindo da cidade de Ivnis, um jardim esplêndido com corredores de flores de todos os tipos: tulipas, margaridas, rosas brancas e vermelhas.
Um imenso jardim labirinto com abelhas beija flores, borboletas de todos os tipos voando de um lado para o outro.
No meio desse jardim labirinto um parque para as crianças com balanços, pula-pula, escorregadores, banquinhos de areia e piscinas de bolinhas.
Um lugar maravilhoso onde e circulado por seis corredores de flores, três levando a saída do jardim labirinto e as outras três que levavam a lugares diferentes como a fonte de água em forma de anjo, um corredor sem saída e um corredor onde ninguém arriscava ir (devido ao terrível passado que estava presente naquele corredor), mas no momento dessa história o corredor não encontrava bloqueado.
Muitas mães levavam suas crianças naquele jardim labirinto para brincar naquele parque.
E exatamente há dez anos que essa cena se passa.
Sentadas em uns dos banquinhos que formavam um círculo em redor do parque.
Encontrava duas mulheres que conversavam alegremente olhando suas filhas brincarem no balanço.
A mulher sentada do lado direito tinha o cabelo loiro e sedoso e aparentava ter 30 anos. A segunda mulher de cabelos cacheados e olhos azuis sorriam abertamente.-Que lugar lindo, Liana!
-É mesmo Mary - Disse a mulher de cabelo cacheado -Amo vim aqui nos finais de semana, uma tranquilidade após um dia cansativo de liderança.
-Fico feliz de ver nossas filhas brincando - Disse Mary.
As duas olhavam para duas meninas sorridentes que brincavam no balanço.
A mais velha de 11 anos, olhos castanhos, semblante um pouco sério e cabelo preto. Empurrava o balanço para uma menina de 10 anos, cabelo sedoso loiro, olhos azuis e sorridentes.
A menina de cabelo preto parou de empurrar o balanço e disse:-Veja como nossas mães estão tão felizes.
Dizendo isso retribuiu o aceno de mão de sua mãe.
-Sempre vamos continuar amigas? -Disse a menina de 11 anos parando o balanço com os pés na areia - Vamos continuar amigas não importa o acontecer, você me promete?
-Sim, Lorena eu prometo.
-Obrigado, Safira!
Após esse breve momento de diálogo as duas retornaram a brincar no balanço.
As duas mulheres desviaram a atenção de suas filhas e fixando o olhar em Liana, Mary falou:-Nunca pensei ver o sorriso no rosto da minha filha, depois do que aconteceu há seis anos. Obrigado Liana por me abrigar nessa cidade há cinco anos.
-Todas nós temos o direito de recomeçar nossas vidas, por isso essa cidade existe para que nós mulheres possam seguir sem que o passado insista em voltar.
-Eu não sei o que seria de mim, se você não tivesse aparecido em minha vida - Disse Mary com lágrimas no rosto.
-Levante a cabeça, amiga! -Exclamou a outra com um sorriso no rosto - Não se culpe do que aconteceu no passado, viva a sua vida e cuide de sua filha.
-Obrigado! - Falou a com forças renovadas e um sorriso no rosto.
-Vou indo tenho que organizar as papeladas que deixei na delegacia.
.Dizendo isso levantou e gritou:
-Minha filha vai! Depois você brinca com Lorena - Virando o rosto para Mary perguntou - Você não vem?
-Não, vou brincar um pouco com minha filha.
Assim que Liana se afastou, Mary levantou e caminhou até o balanço para brincar com sua filha.
Seus pensamentos estavam no pesadelo que o perseguia há seis anos.
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Cidade dos Segredos: Descobertas
Mystery / Thriller"Queime uma flor e suas cinzas perfumarão a terra." Para elas que já tiveram suas almas manchadas e seus corpos violados, jamais conseguiram novamente ser quem costumavam. Invinis se tornou o lugar perfeito para repousar seu coração quebrado. ...