Sua segunda carta chegou e eu sei bem o que responder e sentir. Eu espero que você continue esquecendo a motivação para essas cartas que eu sequer estava esperando. Eu também não esperava que você fosse querer me ver uma última vez ou dizer últimas palavras. Nunca pensei que pudéssemos ter uma última vez para qualquer coisa. Não pense em uma última palavra, por favor, nem em virar as costas para mim.
Eu não vou te deixar dizer o que você planejou. Vou desviar o assunto, mudar meu caminho, me atrasar cinco minutos pra não precisar te ver e te ouvir dizendo coisas que não quero ouvir. Se você quiser mesmo falar, te calo com um beijo. Não quero que você me esqueça, que apague da memória momento nenhum que vivemos juntos.
Não é que eu queira que você sofra, meu bem. Eu não sei o que está se passando pela sua mente agora e estou tentando juntar os fragmentos de informações que você me dá pra tentar te entender. Vem, vamos tomar um café e tentar entender melhor isso tudo. Sei que desistência não é algo que se faça a dois, mas me dá a chance de fazer algo antes de te perder?
Espero que você se lembre de como nos conhecemos, de como nos perdemos e acabamos juntos. De como entendíamos bem o silêncio entre nós e de como eram confortáveis as tardes de domingo em que ficávamos no seu sofá assistindo a primeira coisa que a netflix sugerisse. Eu espero que você se lembre disso e não esqueça de mim, porque eu não vou esquecer de você. Não quero. Não quero. Estou procurando formas sutis de dizer que não quero perder isso que temos, tivemos, podemos ter. Formas mais sutis de pedir que não desista, talvez. Do que você está desistindo? Não desiste de mim!
Percebi que estou tendo um pouco de dificuldade em responder às suas perguntas. O problema é bem básico, como minha memória falhando ao lembrar qual de nós dois desligou primeiro a chamada na última sexta-feira que nos falamos ou o sabor da pizza que pedimos da última vez que fomos naquele restaurante aqui perto de casa. Minha memória é bem ruim e essas coisas eu não saberia mesmo te responder, mas não é isso que você tem me perguntado, é? Você tem me perguntado sobre o que eu sinto, como eu te vejo, se eu me lembro de você. Olha, eu posso lidar com todas as dúvidas que você tiver sobre nós, mas me mata um pouco a cada vez que eu percebo que você duvida da intensidade dos meus sentimentos. Duvida da veracidade deles também? Eu não duvido nada, e não consigo acreditar que eles fossem tão invisíveis ao ponto de você não perceber. Todos percebiam, sabe? Era fácil pra qualquer um dizer que a minha vida girava por você. Não ao seu redor, não, mas por você. Se você não percebeu, eu me pergunto para o que estava olhando. Talvez para uma versão antiga de mim, a primeira que você decidiu amar.
Eu não quero ser a pessoa que impede de ir embora quem quer ir. Se você quer mesmo sair da minha vida, deixar tudo pra trás e excluir o número do meu telefone, vá em frente. Mas se não, se está se forçando a fazer isso, se não é fácil nem necessário, por favor, dá meia volta. Dá meia volta, porque eu pretendia mesmo te ligar hoje à noite e não queria receber um frio "quem é?" como resposta.
Você disse que não queria voltar para a segunda-feira. Hoje é quarta e eu estou respondendo com um dia de atraso mais uma vez. Você quer esquecer, mas as segundas-feiras vão voltar. Toda semana você vai lembrar, mesmo depois de apagar as minhas músicas e playlists. Mesmo depois de apagar as conversas e mentir pra si mesmo dizendo que me esqueceu. Você vai lembrar até um dia acordar e perceber que não lembra mais. Se você quiser, é isso que vai acontecer. Mas, é, poderia ser bem pior.
Eu não quero desistir.
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Seis e Meia
RandomSão sete as cartas espalhadas no chão do meu quarto. Você começou a escrever sobre os sete estágios da sua desistência, mas a verdade é que já tinha se decidido na primeira. Quanto a mim, eu te entendi e respondi o máximo que consegui. Não cinco ca...