2- Hospital

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Quase um mês depois...

Desperto como quem desperta de um sono profundo depois de um dia cansativo. Mas meus músculos doem e formigam como se esse sono tivesse me mantido imóvel por um longo período de tempo.

Minhas extremidades formigavam geladas. Movo-me, dedos dos pés e das mãos pra recobrar os sentidos. Estou deitada de lado, levanto um pouco a cabeça e constato, estou num leito de hospital. Vejo do outro lado do quarto uma jarra de água e instantaneamente minha boca saliva. 

Sinto-me perdida entre aquele breve momento de atordoamento quando se acorda e tudo parece perfeitamente normal, levo um tempo para entender porque raios estou num leito de hospital. Mas em segundos a ficha cai, como uma pedra. Grande e difícil de suportar. Pisco de olhos marejados, minhas bochechas esquentam. Sinto uma leve picada no braço, soro, quando tento esfregar os olhos. Meus pais não iam gostar de me vem chorar.

Meus pais...

Meus pensamentos são interrompidos pelo médico entrando no leito. Aliás. Um leito requintado de mais para uma garota humilde que acabou de ficar órfã -minha família nunca teria grana suficiente pra pagar por algo assim. O médico grisalho e sorridente se aproxima.

-Bom dia senhorita Hope! Eu sou o Dr. Jack Fills, vejo que sua recuperação vai bem. Como se sente? -ele pergunta ainda sorridente olhando para a grande tira de papel que a máquina ao pé da cama solta, junto com um barulho estridente de bip. 

Faço força pra falar mas só consigo tossir. Alto e dolorosamente. Sinto uma pontada aguda na altura das costelas que me faz arquear um pouco o corpo e soltar um gritinho estridente. O médico se aproxima rápido e pressiona meus ombros contra a cama macia. 

-Senhorita Hope, precisa respirar devagar e com calma. -ele alerta. -Você passou por uma cirurgia complicada no pulmão esquerdo, tivemos que fazer uma intervenção cirúrgica pelos ferimentos causados por uma fratura em duas costelas. -ele me solta e mexe no caterer no meu braço. 

-Você vai tossir assim por algum tempo. Pela quantidade de líquido que havia em suas vias respiratórias. -ele explica categórico. 

Meu quadro clínico não parece ser dos melhores. E eu sinto dor por todo o corpo, mas em alguns pontos específicos a dor é mais latente.

Suspiro baixinho, e penso em meus pais.

-Meus pais... -Não concluo a pergunta por que já sei a resposta, afinal eu vi com meus proprios olhos e na situação que se desenrolou a tragédia não havia nem possibilidade de salva-los, mesmo se tivessem sido socorridos naquele momento. Vejo passar pelo semblante do médico pesar.

-Sinto muito senhorita. -foi tudo o que ele disse, mas agora ele não sorria e seu olhar estava perdido em um canto qualquer do leito.

Sinto-me fraca por dentro e por fora. Sinto-me só.

Espero as lágrimas e, elas vem tímidas e silenciosas. Afundo o rosto no travesseiro o máximo que meu corpo cheio de fios, dolorido e dormente permite. Uma dolorosa lembrança daquela noite me atinge, bem fresca.

-Querida venha, nós vamos nos atrasar! -minha mãe me chama no andar de baixo. 

-Já estou aqui, mamãe. -digo correndo escadas abaixo, usando vestido e all star. 

-Por eu tenho que ir? Meu padrinho nunca nos convidou para fazer nada. Aliás, eu só me lembro de ele vir nos visitar uma única vez. -retruco, meus pais se entre olham. Meu pai suspira. 

-Achamos importante que você vá conosco a esse jantar na casa do seu padrinho, ele é sua família tanto quanto nós querida. -meu pai diz. Meu pai olha para os meus pés e ri pelo nariz. -Você está linda filha. -ele pega as chaves do carro.

Ainda há ... HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora