Ainda há ... Hope

1 - Acidente

Não revisado. (Música do capítulo: Not About Angels - Birdy )

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Hope E. Waters

Meu rosto está roçando a grama molhada do sereno noturno. Um breve arrepio corre minha espinha, minha cabeça lateja, minhas costas punicam e eu sinto calor nelas, meus olhos lacrimejam pela fumaça. Não consigo me mover...

Um estranho cheiro de cabelos tostados passa em meu rosto junto com a brisa, me fazendo olhar para o lado, na direção do clarão laranja, vermelho e amarelo. Nosso carro agora é apenas um grande emaranhado de ferro, fogo, e uma fumaça tão espessa e intensa que machuca meus pulmões. Toda a rodovia por agora está encoberta por essa nuvem cinza e quente. Olho para o carro.

Ele está ali dentro, preso no cinto de segurança, eles estão. Thereza e Marvin Waters. 

Mas a visão dele, meu pai me fere mais... sua cabeça pende sem vida de seu tronco. Pai! Quero gritar, mas não consigo.

Sinto minha língua estranha e gosto de sangue na boca.

-Fai... fãe... -balbucio. Não era isso que eu queria falar.

Algo estranho me machuca, tento me mexer pra tirar de mim o que me fere. Sinto frio e calor ao mesmo tempo. Dói.

Alívio momentâneo me atinge, assim que minhas costas tocam a grama, com meus últimos resquícios de força pra me virar. Meu rosto se volta para o céu, pequenas gotas de chuva caem e rolam, um céu negro azulado com poucos pontos negros cintilantes, disformes, ironicamente formando uma noite perfeita de outono. Ou que deveria ser. Não sei quantas vezes perco a consciência, mas tenho certeza que foram muitas. Ouço o burburinho ao longe. Muitas vozes, pessoas. Sirenes...

-Tem um sobrevivente, é uma garota! -alguém grita. -Céus! Que tragédia!

Desta vez minha visão vai perdendo o foco aos poucos, minhas pálpebras vão se fechando mais pesadamente, mas ainda ouçoas vozes dos paramédicos me pedindo para manter os olhos abertos. Tento... mas tudo a minha volta agora não passa de vultos negros, vez ou outra iluminados por um vermelhos intenso.

Não consigo mais, pontos escuros piscam na frente dos meus olhos. Aos poucos tudo, se torna nada há minha volta e o cansaço me suga para uma escuridão que dura... horas? Dias talvez?