A Carta

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FERIDAS DO CORAÇÃO

Por favor, não me leve a mau, não me jugue, porém eu sei que é exatamente isso que deve estar passando pela mente de quem quer que esteja lendo esta carta no momento. Olha, não fique nervoso (a) comigo, não pare de ler o que escrevi, por favor não me condene pelo que fiz, abandonando o meu próprio filho. Sei que não é certo o que fiz, mas estou em profundo desespero, não aquentava mais ver o meu filho sofrendo, não tinha nenhuma outra alternativa, foi por isso que tomei essa decisão. Por favor não me condene, estou cansada dessa vida de desespero e tantas humilhações, não encontro ninguém que me estenda a mão, só me dão o desprezo e abandono. A você que agora estar lendo esta carta, com certeza estará também com o meu filho, não se preocupe comigo, eu só quero que cuide bem de meu filho para mim. Se por acaso já tenha filhos, trate do meu como se fosse também o seu. Talvez o senhor ou a senhora esteja indagando a respeito da minha pessoa, eu não sei o que fazer da minha vida, pois estou muito arrasada e amargurada, se pudesse escolher, escolheria a morte, mais isso não posso fazer. Na verdade o que eu mais queria é ter condições, uma vida digna para viver e cuidar de meu querido filho, e te-lo sempre em meus braços . Olha, tenha só um pouco de paciência, pois vou contar um pouco de minha vida, mas antes só quero lhe fazer um pedido, o meu filho precisa muito de você, se eu não puder vê-lo mais, guarde esta carta para que quando ele estiver crescido e entendendo a realidade da vida ele possa ler e entender, fale de mim para ele, e mesmo que não venha a entender diga que o amo e sempre o amarei.

Meu nome é Cleonice Felex Cruz, o nome do meu filho é, Filipe Felex Cruz, é o meu único filho, talvez você esteja muito intrigado com tudo isso, esta é a realidade de minha vida enquanto estou escrevendo isso as lagrimas molham o meu rosto. Eu tenho apenas 18 anos de idade, não tenho onde morar, pois quando estava grávida, no quarto mês de gestação meu pai e minha mãe me mandaram embora de casa, pois descobriram tudo o que estava acontecendo comigo, sai de casa expulsa sem ter para onde ir, pedi desculpa pedi perdão, até implorei meus pais por misericórdia mas de nada adiantou, não tive nenhuma oportunidade para concertar a minha vida.

Enquanto estava em casa tudo bem comigo eu estava bem com minha família, todos gostavam de mim e diziam que me amavam, mas depois que vim para as ruas, procurei por meus tios e outros parentes, mas ninguém quis me acolher, nem o pai do meu filho que dizia estar apaixonado por mim, ele e sua família me trataram como uma cachorra, disseram que não tinham certeza de que ele era realmente o pai de meu filho. Mas eu tinha certeza, pois ele foi a única pessoa que eu conheci, porem ele afirmou que de maneira nenhuma assumiria esta criança. Desde então não tenho rumo certo, procurei serviço em muitos lugares bati em muitas portas, mas todos me desprezaram. Todos me abandonaram desde então ninguém quis me emprestar um ombro amigo, há dois meses eu tive essa criança, eu, o amo de verdade, mas não posso te-lo em meus braços, nem lhe dar tudo quanto ele merece. Também não sei quando é que poderei cuidar do meu filho ou se terei ele de volta nos meus braços , enquanto eu viver carregarei comigo a esperança de um dia poder novamente abraça-lo e saber que ele  se deu bem na vida.

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Tanto Rogério como Marlene, ambos estavam com lagrimas nos olhos, o pequeno Filipe dormia tranquilamente no colo de Marlene, não tinha em sua mente infantil a mínima ideia do que se passava em sua vida e na vida de sua mãe.

- Há, como é triste a vida nesse mundo, quantos desprezo, quantas desigualdades, quantos sofrimentos e tragédias que acontecem nesta grande metrópole! – disse Rogério com o seu braço sobre o ombro de sua esposa.

- São coisas muito difíceis de serem aceitas, eu na verdade nunca vi isso acontecer tão de perto assim, como estar acontecendo conosco nesta noite, sempre acompanhei estas coisa nos jornais e noticiários da teve, mas agora estar acontecendo nas nossas vidas. - Disse Marlene enquanto suas lagrimas caiam sobre a criança que dormia em seu colo.

 Na verdade, Marlene não conhecia como era a vida lá fora, pois fora criada com todo o conforto de uma família muito rica e muito bem sucedida em seus poderes aquisitivos, isso não lhe permitiu que ela viesse a saber o que era miséria, desprezo, e sofrimentos vividos pelas pessoas menos favorecidas e que conviviam com grandes pobrezas no mundo afora. Alias era filha de um grande e respeitado engenheiro.

Já Rogério, seu esposo, também filho de um advogado renomado muito bem conceituado e reconhecido por suas grandes vitórias nos casos fretados por ele. Por esse motivo Rogério igualmente fora criado debaixo de muito luxo e conforto, de um lar milionário, nuca soube o que é levantar de manhã para ir a escola e não ter nenhum pedaços de pão ainda que seja duro para comer. Assim como sua esposa sempre teve o mundo aos seus pés, sempre frequentando os lugares mais nobres, não sabia  o que significava, pobreza. Porém Filipe entrava na vida dessa família para lhes trazer uma mudança inimaginável a partir daquela noite, eles veriam o mundo com outros olhos. A carta de Cleonice causou um grande impacto sobre o casal. E após, terem comentado um pouco sobre a carta, e enxugarem as lagrimas, Rogério e Marlene continuaram a leitura.

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Olha mesmo antes de ter dado à luz a Filipe, algum tempo depois de ter sido expulsa de casa, tenho tentado encontrar um serviço onde eu pudesse trabalhar como babá, faxineiras ou cozinheira, pois estava disposta a fazer qualquer coisa para me sustentar e também o meu filho, mas por ser uma moradora de rua ninguém me dava uma oportunidade, por isso continuei sendo uma moradora de rua, foi então que tomei essa decisão de abandonar o meu filho, pois não quero que ele também seja um morador de rua como eu.

Outras donas de casas não me deram serviço alegando que o motivo é porque eu estava grávida, depois do nascimento do meu filho ficou ainda pior.

Se tiver de passar fome, quero passar sozinha a criança não tem culpa de ter vindo ao mundo. Tenho andado sem rumo, por onde passo, de um lado para outro, batendo de porta em porta, pedindo que me deem serviços, se não,  peço um prato de comida, restos ou até um pedaço de pão ainda que esteja velho não me importo, até mesmo roupas velhas que me derem eu aceitaria. Mas a desigualdade a descriminação nesse mundo é demais, ha muita falta de carinho e amor nos seres humanos, quando a gente passa pela rua nos lugares mais luxuosos olham desconfiados, só porque estamos sujos e mal vestidos, muitos chegam pensar que somos ladrões, porem muito se enganam porque ser pobre não é ser ladrão e não é crime, pois se for já estou condenada. Se alguém por acaso me estivesse estendido a mão, se meus pais não tivessem me mandado embora de casa, hoje eu não estaria nessas condições, meu filho não seria abandonado. Sei que errei por não obedecer meus pais, na verdade estou pagando o presso do meu erro, por isso não posso me justificar.

Fernando foi o meu único namorado, e com ele eu me dei mau, pedi que os meus pais me perdoassem principalmente o papai, pois ele foi mais duro e rígido comigo, me disse palavras que feriram o meu coração profundamente. Não me justifico, mas sempre fui obediente aos meus pais, como irmã mais velha ajudava a cuidar da casa e de minhas irmãs mais novas, mais para a minha infelicidade me deixei ser levada por palavras de amor falsas e traiçoeiras, só agora entendi que a paixão que Fernando expressava ter por mim não passaram de palavra vazias e sem nenhum fundamentos, mas agora é tarde demais para lamentar sobre isso.

 Bem, esse é o meu relato da realidade de minha vida, talvez o senhor (a), já esteja cheio destas minhas palavras e de meus problemas, e de certa forma agora passa a ser também seu, pois deve estar com o meu filho em algum lugar. Vou tentar sobreviver, vou lutar tenho que vencer, apesar de já ter sofrido uma grande derrota de perder o meu filho.

Será que podes imaginar como isso dói? ADEUS...

Assinado CLEONICE FELEX CRUZ

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Agora as lagrimas verdadeiramente desciam dos olhos de Marlene e seu esposo Rogério. Sem que eles tivessem percebido suas vidas já havia passado por uma transformação, pois, não seria mais a mesma até minutos antes de encontrar Filipe

Rompendo as Barreiras do Desprezo  e da DorOnde histórias criam vida. Descubra agora