A perda

19 2 2
                                    

Ela não parecia muito feliz com o que vinha acontecendo em sua vida, sempre triste e cabisbaixa com suas mentiras guardadas bem no inteiror de seu coração,  as noticias se espalhavam pela cidade multiplicando - se de forma rápida, a reação das pessoas ao vê - la era sempre a mesma, olhavam e diziam palavras doces para amenizar a dor da sua perda, mas sabemos que quase nada apazigua esse tipo de sentimento e essa é forma de se sentir as vezes poora ficando apenas uma tristeza profunda, que se transforma em um ódio sem chances de conformidade devido as lembracas do que poderia ter sido, não existe no mundo a possibilidade de viver o que já aconteceu, e nem mudar o que já foi feito, a dificuldade de entender essas coisas que acontecem frustam a expectativa das pessoas que enfrentam essas realidades, as pessoas olhavam para ela com pena, e não era isso que ela queria, necessitava de um motivo para saber o porque? mas ninguém nunca lhe falaria, ela já sabia que não, ficaria ali esperando e flutuando nas lembranças dos momentos de dias  ensolarados onde acariciava com amor o seu pequeno? não há resposta para isso.
O marido chegava em casa cansado do trabalho, olhava a casa  pequena e abastada de bagunça e nada falava pois não encontrava palavras para fazê - lo, levantava os olhos e continuava simplesmente. Tentava encontrar um motivo que a fizesse entender que os filhos não brincavam mais, que os brinquedos ficavam espalhados pelo jardim não por desleixo, era que eles retratavam 3o afeto desmedido que em outros dias menos complexos havia existido ali, eles pensavam que os dois ficando ali parados um ao lado do outro ainda existiria algum sorriso da maneira como era antes, não refletiam que talvez só por aquelas lembranças ninguém queria mais ficar naquele jardim que lhe traziam aquelas lembranças as quais sabemos que nos vem nos piores momentos e se exibem como um filme em nossas mentes.
Para ela era difícil esquecer, para ele dificil ver e mesmo se estivessem longe, em outra cidade, país, hemisfério e por que não pensar em outro planeta ou dimensão, ela não se sentiria diferente naquele momento e ele não veria outra coisa senão o que sempre viu, mas nunca teve a coragem de enxergar. Alguns parentes tentavam ajudar fazendo ligações diárias, e visitavam - na durante a dilacerante semana, isso fazia alguma diferença animava-os, depois das visitas ela sentia-se mais entusiasmada ficando algumas horas com um brilho em seu semblante, entretanto logo aquilo ia-se embora, ele nem se iludia mais, mas permanecia o mesmo, levantava-se e ia dormir.
Dias se foram, as noites vieram frias como ninguém conseguiria descrever, em uma dessas noites ela se levantou ficando algumas horas sentada em sua varanda, foi até um quarto e pegou umas roupas que lá estavam dobradas e bem engomadas, dirigiu-se até o jardim e enterrou os brinquedos, sem gritar ou chorar como havia feito no ano anterior, apenas manteve seu silêncio, voltou para o quarto dormiu mais alguns dias ; Quando levantou em uma tarde de sábado onde o sol brilhava, foi direto para o banho, vestiu-se bem naquele dia, recolheu todos os objetos que uma vez estavam lá jogados e esquecidos, arrumou a casa, deu ordens aos filhos que logo as cumpriam de imediato, o marido observava aquela cena estarrecido e sem reações, ela continuava, a casa já estava pulsando novamente, os filhos sorriam, o marido também, todos percebiam que ela havia superado sua perda.
Em uma manhã próximo sua casa ouviu-se um grito alarmante vindo de sua própria rua em uma casa próxima, passados alguns dias ela foi até lá, deparou-se com uma cena triste e sem notas para algum comentário pessoal de sua parte, a mulher que lá se encontrava, uma conhecida da sua vizinhança como dizem no informal, entrou em um estado de choque pois havia sofrido uma perda também, ela disse algumas palavras que talvez fizessem diferença para a mulher ali, naquele momento, ou que talvez trouxesse algum consolo para ela e seus familiares, saiu pela porta, atravessou o jardim da enferma sem tropeçar nos brinquedos lá deixados pelos filhos dela, atravessou a rua sem pressa, chegando em sua casa foi para o banheiro e chorou, contudo não conseguiu deixar de sorrir ao fim de sua própria tristesa que de alguma forma agora se refletia naquela outra mulher, naqueles outros filhos, e naquele outro marido, daquela outra perda, que agora estava là, naquele outro jardim

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 16, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

O diárioOnde histórias criam vida. Descubra agora