VI. | A Única Saída

452 77 55
                                    

Caminhei em sua direção com passos calmos. Sem pressa.

Tinhamos e teríamos, de fato, todo o tempo do mundo em nossas mãos.

Como eu imaginara no passado.

Tudo estava da forma que eu sempre sonhara.

Tudo igualzinho aos meus sonhos de menina.

Nossas famílias reunidas, nossos amigos, a igreja decorada com tons delicados de um amarelo clarinho, flores diversas e perfumadas em todas as direções...

E havia ele.

O homem da minha vida.

Olhar em seus olhos ainda causava um rebuliço em meu ser.

Seu sorriso era o mesmo de quando nos conhecemos, meses atrás. Seu carisma e charme sempre seriam encantadores.

A felicidade refletia em seu rosto, tal como no meu.

Aquele era o dia mais feliz de toda a minha vida. Com ele. E graças a ele.

O homem que mudara a minha vida.

Que me amara e me aceitara como sou, que aceitara todos os meus defeitos e traumas, que curara todas as minhas feridas e me ajudara a reaprender a viver.

O homem que salvara a minha vida.

Que me ensinara que milagres acontecem.

Que me salvara, arriscando-se, mesmo sem me conhecer. Que me tirara do vazio em que eu estava.

Que me resgatara do tormento de sentir a vida abandonar o meu ser, na mesma rapidez em que a água invadia o meu corpo.

O homem que me trouxera de volta a vida.

Que, sem querer, tornara-se o centro dela.

Que, por querer, ajudara a prender aquele que me fizera sofrer.

Sorri para a minha família e amigos que nunca desistiram de mim, mesmo quando eu mesma não tinha mais esperanças.

O amor deles, combinado ao amor que desenvolvi pelo homem que me esperava no altar, salvara minha vida.

O amor daqueles que eu tentara deixar para trás fora o meu alicerce, a base do sonho que há anos eu havia sonhado para mim.

Sobretudo, percebi algo que também nunca me ocorrera.

Por mais que a culpa não fosse minha, eu me submeti àquela situação.

Fui fraca. Sofri. Desejei morrer.

E quase morri.

Mas a culpa não fora minha. Não pedi por aquilo, não escolhi sofrer. Escolhi viver cada dia com uma dose a mais de dor porque havia esquecido o que de fato era viver.

Agressões físicas, psicológicas, depressão... Não escolhi nada disso.

Contudo, foi o que me fora reservado.

Não estava preparada para viver aquilo. Nunca sequer imaginara tal possibilidade. Não soubera o que fazer.

E não fiz. Apenas continuei ali, à espera de um milagre.

Até que não suportei mais e imaginei se a melhor maneira de acabar com aquilo não seria acabar comigo mesma.

Pensei que havia tomado a melhor decisão naquela situação. Refleti por meses antes daquele natal. Avaliei todos os prós. Não haviam contras.

Até estar ali, eu não havia pensado na minha família. Até sentir o frio das águas daquele lago tomando o meu ser, eu havia pensado que naquela situação não haviam vítimas.

A ÚNICA SAÍDA [CONTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora