Meow

3.3K 177 18
                                    


Hoje o começo da manhã esteve linda, e eu tinha decidido que iria para a escola, ainda que Katherine tivesse protestado firmemente. E como eu me sentia muito bem, decidi deixar o carro na garagem e ir caminhando, aproveitando a brisa e o sol da manhã.

Terrível erro.

Do meio da manhã para a tarde, do nada, o tempo tinha fechado e adivinhem só? Pois é, chuva; mas não qualquer chuva, era o tipo de chuva forte com ventania que ninguém quer encontrar na saída da escola.

Por que diabos eu não escutei Katherine?! Se eu a tivesse escutado, então provavelmente numa hora dessas eu estaria entre seus braços no sofá, assistindo algum programa especialmente ruim, mas pelo menos não estaria correndo na chuva como agora. Meu cabelo, minhas roupas e meu sapatos já estavam molhados o suficiente, e então eu decidi que iria parar no Mystic Grill. Uma hora ou outra essa chuva iria passar, ou no pior dos casos eu poderia ligar para Katherine vir me buscar com o carro e escutaria o "Eu te avisei" de Katherine, que, geralmente, terminava em briga. E briga terminava em alguma de nós duas dormindo no sofá, dependendo de quem estava errada na discussão.

Eu parei debaixo do toldo do Mystic Grill, respirando mais calma, mas a ventania continuava trazendo a chuva contra mim então eu apertei meu cardigan um pouco mais forte e dei a volta, pronta para entrar no Mystic Grill, quando um som capturou minha atenção. Não era a chuva, nem o vento. Parecia mais com...

Meow

Meow

Eu olhei à minha volta até que vi num canto da porta principal uma caixa de papelão. Com a água da chuva, a caixa parecia estar prestes à se desfazer, e as palavras "Me adote" estavam levemente borradas. Eu franzi as sobrancelhas enquanto me agachava, abrindo a caixa e logo em seguida encontrando exatamente o que eu pensei que encontraria. Só que um pouco menor do que eu esperava.

Eu coloquei minhas mãos dentro da caixa e levantei um filhotinho de gato branco, que estava deitado em um dos cantos da caixa, tremendo de frio.

Eu deixei que ele enfiasse as garrinhas no meu cardigan, e entrei no estabelecimento, me sentando na primeira mesa que vi. O calor que o lugar emanava foi mais que bem vindo, e eu parei um pouco para observar a coisinha que estava mordendo meu cabelo. Era um filhote bem pequeno, eu não saberia dizer quanto tempo ele tinha, mas eu chutaria apenas algumas semanas, e ele não parecia se importar comigo, nem quando eu comecei à acariciar suas orelhas. Seus olhos eram extremamente azuis, e ele tinha manchinhas nas patas.

Com um pouco de dificuldade, consegui fazê-lo se soltar da minha roupa e o levantei um pouco, constatando que era uma fêmea, mas não tive muito tempo até que ela conseguisse se grudar novamente em mim.

Quando olhei pela janela, a chuva já estava passando e eu respirei aliviada. Sem brigas por hoje.

Depois de meia hora, finalmente a tempestade tinha parado completamente, e eu voltei para casa em passos rápidos. Mal podia esperar para ver a expressão de Katherine quando visse o filhotinho.

Assim que abri a porta de casa, escutei a voz de Katherine vindo da cozinha.

—Eu só queria deixar bem claro que eu tinha te avisado, Elena. —Eu revirei meus olhos e tranquei a porta. Eu sei.

Eu tentei ir para a cozinha sem fazer barulho nenhum, mas assim que entrei no cômodo, o bichinho no meu colo miou, e eu travei.

Droga.

Não era bem assim que eu pretendia contar à ela.

Katherine se virou lentamente, deixando a comida que ela estava cozinhando de lado, e passando seu olhar crítico do meu colo para mim algumas vezes.

—Por favor, me diga que é você que está miando e não trouxe nenhum animal para a casa.

Mudança de planos. Acho que é a hora adequada para implorar.

—Kat, por favor...

—Não, nada de Kat! De onde você tirou um gato?!

—Ela estava numa caixa de papelão no meio da tempestade. Eu não podia deixar ela lá, Katherine!

—Você nunca pode, Elena.

—Só olhe para essa coisinha! —Eu estendi a gata para ela, e minha namorada revirou os olhos. Foi quando o filhote espirrou, fazendo seu pequeno corpo inteiro tremer, e Katherine comprimiu os lábios abafando uma risada. —Viu? Não é tão terrível.

—Vai se trocar, você está molhando a casa toda. E deixe essa coisa aqui, não quero pelos pela casa.

Eu deixei o filhote no chão, e subi para meu quarto. Não me apressei em me secar e me trocar porque queria deixar que Katherine se aproximasse da filhote sem que eu estivesse por perto. Katherine era do tipo que não gostava de demonstrar nenhum tipo de emoção nova na frente de ninguém, mesmo que esse alguém fosse eu. Era um velho costume, e eu não iria julgá-la por isso.

Quando já estava seca e devidamente vestida com um pijama, eu desci as escadas tentando fazer o mínimo de barulho possível. Ao me aproximar da cozinha, escutei a voz de Katherine e parei, tentando ouvir o que ela dizia.

—... Também não me quiseram, e eu nunca pude ter uma segunda chance, até conhecer Elena. Foi ela que decidiu que valia a pena ficar comigo, que eu valia a pena. —Eu fechei meus olhos e sorri. Eu faria tudo de novo se fosse necessário. —E talvez ela tenha visto a mesma coisa em você, coisinha peluda. Você consegue me entender? Ou está mais interessada em morder meu dedo?

Eu entrei na cozinha como se não tivesse ouvido nada, e me deparei com Katherine debruçada na bancada, com a pequena gata enroscada em seus dedos. Na mesma hora ela olhou para mim e sorriu, provavelmente sabendo que eu ouvi tudo. Ou quase tudo.

—Ela está grudada em você porque está com fome.

Eu abri o armário e retirei um pote, colocando leite e deixando no chão. Katherine desceu a gatinha com todo o cuidado e na mesma hora a pequena avançou no leite. Enquanto isso eu dei a volta na bancada, e abracei Katherine por trás, com meus braços em volta de sua cintura.

—Então... —Eu comecei, até ser interrompida.

—Ela fica.

Eu a apertei um pouco mais forte e beijei sua bochecha, em meio à minhas risadas de felicidade. Então eu lembrei que ainda faltava algo.

—Já que você não pode chamá-la de coisinha com pelos para sempre, acho que deveríamos escolher um nome, não acha?

Katherine riu e virou-se no meu abraço, me encarando.

—Afrodite, porque é a gata mais bonita que existe. E porque eu gosto desse nome também.

—Afrodite... —Eu testei o nome em meus lábios, enquanto olhava a pequena gata.

Eu apenas sorri em confirmação e beijei seus lábios em um silencioso agradecimento, que foi rapidamente interrompido pelos miados de Afrodite, fazendo Katherine se separar de mim com um sorriso tímido. 

Nossa família estava completa.

Kelena DrabblesOnde histórias criam vida. Descubra agora