Capítulo 9

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A academia e o mercado não eram longe da minha casa, aliás nada em Imperial era muito longe de nada, era como se as casas e o comércio fossem centralizados, e o restante da cidade eram reservas naturais, então distância não era um grande problema, nada que uma hora de ônibus não resolvesse.

Pegamos um carrinho de compras e notei que ele não havia falado mais uma palavra sequer.

– Jasmim, você prefere panquecas ou estrogonofe? – não estava acreditando, era um sonho?! Estávamos mesmo ali, juntos?!

– Panquecas – ele riu. – O que foi? Era para ter escolhido estrogonofe?

– Não. Claro que não. Eu também escolheria panquecas.

Compramos todos os ingredientes que Gabe disse que eram necessários. Eu tinha dinheiro suficiente para pagar a conta, mas ele teve um ataque de cavalheirismo e me impediu de pagar – menos mal porque eu não teria mais nada até terça, quando meu pai chegaria de viagem.

Caminhamos algumas quadras e enquanto ele carregava todas as sacolas, conversamos um pouco, entretanto a maior parte do tempo foi preenchido apenas com nosso silêncio.

Ao chegarmos à minha casa, graças a Deus, estava tudo no lugar. Ele levou as sacolas até a cozinha e começou a abrir a geladeira e os armários, provavelmente procurando as panelas.

– Caramba, Jasmim! O que você come? – Tive que rir disso, porque Ana sempre falava a mesma coisa. Que preocupação era essa?!

– Comida.

– Comida? Não tem salada nem legumes aqui! Não tem nada saudável... Seu pai não se preocupa com a sua saúde? – hum, pegou no ponto fraco.

– Provavelmente não.

– Bom, ele deixa dinheiro, não deixa?

– Sim... – respondi.

Meu pai me dava trinta reais por semana. No final do mês ele pagava todas as contas e fazia uma compra grande, mas hoje em dia trinta reais não compram muita coisa em um mercado. Talvez fosse a hora de pedir um aumento de mesada. Eu acho justo.

– Então use melhor o dinheiro e compre coisas saudáveis... Não entendo por que ele te deixa tão sozinha – primeiro foi o Danny, agora é a vez de Gabe questionar a ausência do meu pai.

Ele fechou os olhos e fez que não com a cabeça, como se tentasse se acalmar ou afastar ideias ruins.

– Bem, vamos preparar um jantar descente para você! – olhei para o relógio, ainda eram seis e meia, estava muito cedo para comer.

– Está muito cedo Gabe! Nunca janto nesse horário...

– Sim, mas hoje não posso demorar. Vou embora cedo.

– Ah. Claro – com certeza ia correr atrás da ruiva monga.

Ele lavou as mãos e pegou o liquidificador. Eu não sabia exatamente o que fazer, sabia cozinhar, mas sempre detestei. Prendi meus cabelos e fui para perto dele ajudá-lo, ou ao menos tentar.

– Já disse que gosto do seu cabelo solto – ele me puxou para perto de si e tirou o elástico dos meus cabelos.

Gabe encostou seu corpo junto ao meu na bancada da cozinha americana, mexeu em meus cabelos, beijou meu rosto... E voltou à culinária. – Hoje você só vai olhar.

– Quero ajudar – falei, quase ofegando. Ele tinha uns ataques deliciosos de vez em quando.

– Já disse que não – até parece que iria obedecê-lo em minha própria casa. Voltei em direção ao balcão onde estavam os condimentos e ele me empurrou até a parede, colando minhas costas contra ela. – Por que você é tão teimosa?

O Último BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora