Capítulo 5

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Todo o meu corpo provava de um estado de inércia ao cruzar o portal que marcava a saída do bosque. Algo dentro de mim estava pegando fogo, minha vontade era correr de volta e bater nele, ou correr sem rumo por aí até os meus pulmões explodirem por conta da minha bronquite.

Não havia ninguém por ali, além dos dois guardas encostados na guarita na entrada do parque. Olhar para eles fez com que me sentisse uma idiota. Por que não me lembrei deles ontem, quando achava que estava sendo atacada?!

Cheguei em casa, meu pai ainda não havia voltado, fui direto para o quarto e notei que meu MSN estava aberto e piscando, era Ana. Não contei nada, mesmo ela me questionando sobre o motivo de eu ter demorado quase meia hora para responder. Expliquei que estava lá embaixo fazendo algo na cozinha e que havia esquecido o MSN aberto, mas acho que ela não acreditou muito. Provavelmente desconfiava de que fui ao bosque encontrar Gabe. Conversamos um pouco e decidimos que no dia seguinte, depois do colégio, iríamos ao shopping. Eu precisava me distrair mesmo, estava torrando meus neurônios.

Coloquei o pijama e deitei na minha cama. Fechei os olhos sem me permitir pensar em absolutamente nada, porém os meus sonhos não eram controláveis, nunca foram. Aquele pesadelo me assombrou novamente:

Está chovendo, acordo no meio da noite e sinto que há algo de errado. Desço as escadas correndo, descalça. Saio na rua, um carro está parado bem no meio, com todas as portas abertas. Me encharco inteira, mas não ligo. Corro até o carro, uma mulher está estirada lá, há sangue por toda parte. Ela apenas diz: "cuide do meu bebê". Olho em volta e não criança alguma. Digo a ela: "não consigo encontrar seu filho!". De repente, ela se transforma em Gabe com seus olhos brancos, que agarra meu pulso e diz: "te achei".

Acordei assustada e suando, como sempre. Essa era nova, Gabe literalmente havia virado meu pior pesadelo. Respirei fundo e disse a mim mesma: "é só um maldito sonho", e voltei a dormir. Ou tentar.

* * *

Na escola tudo correu bem, Gabe não foi à aula e flagrei a mim mesma olhando para seu lugar vazio um milhão de vezes. Obviamente, sua namorada Glitter me pegou olhando para lá e não pareceu gostar muito desse fato.

Ana e eu fomos ao shopping depois da aula, como combinamos. O pai dela nos levou de carro até lá, era legal andar de carro de vez em quando, mas mais legal ainda era fingir que ele era meu pai. Entramos em várias lojas e Ana comprou um monte de coisas. Ela simplesmente surtava em locais como aquele, definitivamente os pais dela iriam pirar quando vissem a fatura do cartão de crédito. Eu, porém, só fiquei olhando e concordando com as roupas que gostava, embora a maioria não fizesse meu estilo.

– Acaiah, você não vai levar nada?

Não é que meu pai ganhasse mal ou que não me desse dinheiro, mas o que ele me dava não era suficiente para comprar as roupas de marca que minha amiga adorava usar... Roupas eu tinha, elas só não eram muito legais, na opinião da Ana.

– Não trouxe dinheiro, Ana. Outro dia levo alguma coisa.

– Não, senhora! Já é um parto te arrastar para o shopping, ainda não entendi como você concordou tão fácil.

– Até parece – disse revirando os olhos.

– Vamos! Eu compro alguma coisa e depois você me paga – ela sabia que isso era desculpa, não me deixaria pagar depois, mas discutir também não era uma opção, não com Ana.

O Último BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora