Sábado, 16 de julho de 2016
Eram 13h. Nina Guerra almoçava no restaurante de seu melhor amigo, Davi Moreira. Em sua opinião, o melhor cozinheiro de todos. Comia macarrão com o molho especial da casa e bebia um vinho gostoso cujo nome não conhecia — e nem procuraria tão cedo saber. Apesar de gostar de vinho, não se importava em reconhecer seus nomes. Para ela, vinho bom tinha que descer bem pela sua garganta e proporcionar um calorzinho gostoso, era o bastante.
Nina era jornalista, trabalhava na redação de um jornal conceituado de Curitiba e há duas semanas havia se envolvido em um caso particularmente simples: uma mulher, de 32 anos, esfaqueou o marido, de 50, enquanto ele dormia. Porém, o casal era muito conhecido no meio empresarial da região e toda a população estava querendo saber o que motivou a esposa do homem a matá-lo.
Ela se encarregou de pegar o relato de Andressa Albuquerque e conseguiu uma entrevista no final da semana anterior. Durante a conversa, a mulher confidenciou à jornalista que o marido, Roberto, a traía e muitas vezes batia nela. Falou que o casamento já não era mais como antes e pelos telefonemas que o cônjuge andava recebendo, ele a abandonaria em breve.
A matéria completa sobre o caso foi publicada quatro dias atrás, porém, naquela manhã de sábado, a jornalista recebeu a notícia de que Andressa apareceu morta em sua cela. Pensando em toda a situação dos Albuquerque, Nina foi interrompida por Davi.
— Vamos sair hoje?
— Para que lugar?
— Aquele bar de sexta passada, estou afim de encontrar a Maria.
Maria era a companheira regular de Davi, uma das mais simpáticas que ele já teve, na opinião de Nina. Ela torcia pelo casal e vivia mandando o amigo pedir a moça em namoro.
— Davi, não estou muito bem para sair hoje, fiquei sabendo que a Andressa... se lembra dela?
— A que matou o marido?
— Essa! Então... ela apareceu morta ontem à noite.
— Como assim? Disseram a causa da morte?
— Não me disseram. Só fiquei sabendo disso porque o Ricardo, aquele meu amigo policial, escutou o delegado falando sobre o caso com alguém. Nem mesmo a equipe ficou sabendo da causa.
— Que estranho!
— Muito! Assim que eu sair daqui irei ligar para o delegado e investigar. A Andressa me confidenciou que o marido estava recebendo muitas ligações e que planejava viajar para San Diego. Ela me olhou de uma forma estranha durante nossa conversa... e se não for uma amante e realmente exista um motivo para terem matado a mulher?
— Nina, mas isso que você está falando não faz noção! Ela pode ter cometido suicídio.
— Se fosse suicídio teriam me ligado informando, assim como já aconteceu antes. Davi... Andressa me olhava nos olhos de uma forma muito estranha ao fazer o depoimento, principalmente quando me falou das ligações que o marido recebia. Ela não conseguiu se prolongar no que dizia, só me olhou fixamente antes do delegado interromper nossa conversa. Eu vou começar a investigar melhor essa história, não acredito que não me toquei antes de tudo isso. O delegado interrompe a nossa entrevista e agora fica de segredinho seja lá com quem for?
— Pode ser perigoso.
Nina apenas o encarou sem dar resposta alguma, o que fez o homem suspirar quando escutou seu nome ser chamado por um de seus cozinheiros.
— Preciso ir agora, mas me diga que vai tomar cuidado. Eu sei que é impossível te proibir de fazer algo, só quero que me prometa que quando achar que está ficando perigoso demais, desista dessa história toda. Se há algo sendo escondido é porque não querem que descubram nada.
. . .
Chegando em casa, Nina ligou para o delegado. Não poderia colocá-lo contra a parede e perguntar sobre a morte da Andressa descaradamente, ele perguntaria quem contou e não seria certo prejudicar o policial Ricardo. A jornalista, então, decidiu apenas pedir notícias de Andressa para arrancar alguma informação dele.
~Início da ligação~
— Olá, boa tarde, Delegado. É a jornalista Nina, lembra-se de mim?
— Lembro sim. O que gostaria?
— Gostaria de notícias da Andressa Albuquerque, senhor.
— Da senhora Albuquerque? Algum motivo em especial?
— Eu queria marcar outra entrevista, busc...
— Outra entrevista? Nina, querida... Hm, como posso te dizer? A senhora Albuquerque cometeu suicídio dentro de sua cela.
— Suicídio? Por qual motivo ninguém me ligou para avisar?
— Possivelmente passou batido, senhorita. Peço perdão. Se você preferir, pode noticiar hoje mesmo a morte da senhora Andressa Albuquerque. Ela estava muito agitada nos últimos dias, provavelmente se culpando por ter matado o marido, então era de se esperar que ela quisesse tirar a própria vida.
Era de se esperar!?
— Irei noticiar sim, Delegado. Posso fazer mais uma pergunta?
— Se você me desculpa, senhorita Nina, eu tenho bastante trabalho para fazer. Infelizmente, não há mais nada o que resolver, ela morreu. Faça sua notícia e parta para outros casos. Até mais.
— Até mais, Delegado.
~Fim da ligação~
Após a ligação, ela resolveu noticiar a morte da Andressa no jornal. Porém, nada tirou de sua cabeça as respostas estranhas do delegado e passou o resto da tarde escutando novamente a gravação da entrevista com a Andressa para tentar lembrar das feições dela enquanto falava sobre o assassinato. A parte ruim das entrevistas nas quais apenas o áudio é gravado, é não poder olhar as feições. Se alguém quiser analisar algum detalhe facial, terá que depender da memória e da audição para captar as oscilações de quem estava sendo entrevistado. A jornalista tinha um desafio em mãos.
Nina se sentiu culpada por não ter notado de antemão que Andressa estava escondendo algo. As mãos se esfregando, a palidez, os olhos que olhavam como se tivessem mais algo a dizer não eram sinais apenas de uma esposa que matou o marido por traição e estava com medo do julgamento. Se alguém matou Andressa, ela sabia de algo sério e Nina descobriria tudo.
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Antonina
Mystery / ThrillerNina. Uma jornalista curiosa e audaciosa. Antonina. Uma versão de si mesma da qual não se orgulha.