CAPÍTULO 3 - VIAGEM

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Terça, 19 de julho de 2016

No dia anterior, depois de acordar na casa do Davi, Nina voltou para o seu apartamento e abriu o envelope. Dentro tinha uma passagem para San Diego com data marcada para o dia 4 de julho, dois dias depois da morte de Roberto¹. Havia também um contrato para a abertura de uma casa de strip-tease chamada Afterlife², a sede ficava nos EUA e isso explica a viagem que o Albuquerque faria. O negócio era de longa data pela força que tinha de virem para o Brasil, além de terem o apoio do Delegado e muito provavelmente de gente mais importante.

Quando terminou tudo, a jornalista teve certeza que não se tratava apenas de uma casa de strip-tease. O espaço servia apenas de fachada para um poderoso esquema de tráfico de drogas pesadas e prostituição, envolvendo inclusive meninas menores de idade. A ideia era chamar a atenção de homens ricos que dessem dinheiro para assistir as danças sensuais, e de quebra ter uma noite prolongada, ao mesmo tempo em que lhes era oferecido drogas. Alimentariam vícios e enriqueceriam a partir da desgraça alheia aqui no Brasil.

Ficava claro para Nina o motivo de Andressa ter matado o marido, não queria ser cúmplice de um esquema sujo que corrompia jovens e nem o queria lidando com esse tipo de coisa. As traições e agressões podem sim terem sido motivo o suficiente para o assassinato de seu marido, mas nada tirava da mente da jornalista o olhar de Andressa e a sua repentina morte logo após a entrevista.

A mulher, de uma forma ou de outra, salvou a vida de meninas brasileiras que seriam corrompidas e acabou com os planos ambiciosos de muita gente. Ela falaria sobre isso na entrevista se não fosse o delegado a interromper, Andressa sabia que morreria de uma forma ou de outra.

Os contratos deixavam muitas brechas, nos papéis não falavam como eles conseguiriam as meninas, por exemplo. Provavelmente assuntos como esse seriam tratados quando Roberto se reunisse com eles. Nina estava convicta de que ainda havia mais coisa por trás dessa sujeirada, para isso, precisaria se infiltrar na sede de San Diego para investigar de perto e começar a montar o material para incriminar quem quer que comande tudo.

A primeira decisão da jornalista foi ligar para o seu chefe dizendo que necessitava de um tempo fora do país e que quando voltasse teria material o suficiente para uma matéria bomba. Como nos mais de dois anos trabalhando para ele, ela nunca havia o decepcionado, ele colocaria outra pessoa em seu lugar no tempo que Nina passasse fora.

Antes de se despedir, ela lembrou de pedir ao seu chefe para não falar o motivo da sua viagem para ninguém. Ele concordou e disse que falaria para quem perguntasse que a jornalista havia tirado um tempo de férias.

O fato é que Nina estava um pouco temerosa, notando o seu sumiço, o Delegado com certeza iria atrás de saber notícias dela no jornal. Sabendo de sua viagem, procuraria saber para onde, com certeza descobriria que era para San Diego e correria para avisar a quem estava acima dele nessa história.

Se fossem espertos, procurariam saber de seu passado, isso se já não soubessem, e notariam que ela morava lá antes de vir para o Brasil. Talvez ficassem com um pé atrás, mas sabia que para eles Nina era um peixe pequeno e que, sozinha, não era páreo para desvendar o que quer que fosse. Logo ignorariam a sua existência e ela poderia se infiltrar na Afterlife em paz, sem levantar suspeitas.

Ela havia comprado a passagem no dia anterior quando ainda estava na casa do Davi e iria para San Diego hoje pela tarde, o plano já estava montado em sua cabeça e só faltava agir. Faltavam duas horas para o seu voo, então ela arrumou as malas e foi para a casa de Davi, tinha que se despedir. Chegando lá, a tia Bia atendeu.

— Nina! Entre.

— Oi, mãe... Vim me despedir. Queria deixar a chave do meu apartamento e a do meu carro com vocês.

AntoninaOnde histórias criam vida. Descubra agora