Capítulo 1 - Escreva-me

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ELLA GRIFFEN

Andando com a cabeça baixa, olhar focado nas fendas que se formavam na calçada quebrada por conta do tempo; o uniforme do colégio estava rasgado após ter sido empurrada propositalmente em um dos corredores pelas garotas da minha nova classe, não havia o que fazer naquele instante e agora tudo que faço é apressar meus passos ao saber que elas me perseguiam pelo caminho de volta para minha casa.

Eu não estou fugindo, apenas evitando.

Corri pela calçada, abrindo o portão da minha casa e correndo em direção a porta de entrada, caindo nos últimos degraus da escada da varanda, mas me levantei rapidamente e corri para dentro de casa, fechando a porta com força.

Estava cansada daquele colégio, da cidade nova, da casa nova. Estava cansada de tudo aquilo.

Há quase três anos eu convivia com. O habito de mudanças a cada cinco meses. Escola novas, amigos novos, vizinhos novos e a paisagem em volta sempre diferente.

Apoiei minha testa na porta de madeira e suspirei, relaxando os ombros enquanto sentia meus olhos se encherem de lágrimas. A vontade de chorar apareceu, não pelas garotas, mas por lembrar o motivo de tantas mudanças.

— Como foi a aula, querida? Fez amigos novos?

A voz do meu pai ecoou no andar de cima e logo em seguida pude escutar o ranger dos degraus da escada, passei as mãos em meu rosto e me virei de frente para ele, que tinha um sorriso enorme no rosto mesmo vestindo um macacão azul, sujo com algo preto. Meu pai ocupava sua mente com trabalho, durante o dia trabalhava como mecânico e a noite ajudava em um bar no centro da cidade; o via quando chegava da escola e pelas manhãs, em finais de semana eu se quer saia do quarto, preferia me manter isolada em meio as cobertas que pareciam me dar mais afeto que qualquer outro ser.

— Bem, tenho professores que fumam durante a aula e colegas ricos que falam durante todos os períodos como é bom trocar de carro, roupas ou joias a cada dez dias.

Tirei minha mochila do ombro e a joguei ao lado do sofá, me sentando em seguida e tirando os tênis e os deixando jogados no meio da sala.

— Você está indo apenas a três dias no colégio novo e já está a odiar, e se resolvermos ficar na cidade, como vai lidar com eles?

— Não paramos em uma única casa por mais de seis meses desde que a mamãe morreu a três anos atrás, acho que não vai ser agora que você vai querer ficar definitivamente em uma. — O encaro, vendo-o sem expressão depois de minhas palavras. — Três anos seguidos, várias escolas, várias casas, vários vizinhos e vários colegas. Entretanto, nenhum amigo verdadeiro e nenhuma paixão, acha que é isso que uma adolescente de 17 anos quer para si no ano de formatura?

O tom de minha voz era sereno, mas sabia que isso o atingiria, porém, assim como das outras várias vezes que disse a mesma coisa, o silêncio foi minha resposta durante alguns minutos, faltava apenas ele mudar de assunto e pronto, ali estaria Richard Griffen, meu pai.

— Notei que há alguns livros no sótão, provavelmente o morador não quis os levar.

— Depois que eu levar as minhas duas últimas caixas da mudança para o meu quarto, eu irei lá e quem sabe tenha alguns novos companheiros de final de semana.

— Não se esqueça de alimentar Dark...— Ele deu alguns passos em direção a cozinha, mas pareceu se lembrar que esqueceu de falar algo e se virou de novo para mim. — E de mantê-lo no seu quarto durante a noite já que ele pulou em cima de mim pela madrugada.

— Ele gosta de ficar com você.

Ri ao ver meu pai fazer careta, ele se aproximou e depositou um beijo em minha testa antes de sair, me deixando sozinha na sala.

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