Capítulo 2 - Reflexos de Solidão

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ELLA GRIFFEN

Sentada sobre meus travesseiros, eu encarava aquele livro. A curiosidade de ver se ele iria aparecer mais uma vez estava presente o dia todo e agora, na madrugada, a sensação de que deveria tentar novamente estava me atormentando. Meus pensamentos diziam que eu estava louca e que apesar de ter ficado com marcas de unha em meu braço, não significava nada.

Fechei os olhos e respirei fundo, tentando me decidir de uma vez. Em um ato de coragem, eu abri o diário e encarei todos os cantos daquele quarto, esperando que ele aparecesse em algum canto. Mas eu estava errada! Ele não estava ali, era algo que minha cabeça havia criado para me perturbar.

Me levantei da cama e fui até meu guarda-roupa, puxando de lá mais um edredom. Dormir de baixo de várias cobertas parecia a melhor opção, ainda mais quando o vento forte do lado de fora, junto com os feixes de luz que atravessam o céu, denunciam uma breve tempestade.

— Você fechou o livro. — O som daquela voz, apesar de ter soado em um tom baixo, fez eu me arrepiar por inteira.

Deixei com que o edredom caísse aos meus pés e me virei, apoiando minhas costas contra a parede. Ele se encontrava sentado no canto do quarto, ao lado da janela, estava com os braços em volta das pernas e encarava o chão.

Parecia não haver perigo, mas minha respiração estava pesada, e minha voz havia sumido, junto com todas as palavras que haviam em minha mente.

Ao perceber o silêncio, o garoto levantou gentilmente a cabeça e passou seus olhos pelo quarto, até me encontrar, ali, naquele canto, com medo de me mover e acabar morrendo por qualquer criatura que estava presente naquela casa. Ele pareceu perceber meu desconforto, sorriu de canto e se levantou.

— Eu não vou te machucar, garota! — Cada passo, um de cada vez, mas em minha direção, me deixando mais nervosa, eu podia pensar que a qualquer momento meu coração irá atravessar meu peito de tão nervosa que estou. — Não no primeiro instante.

Ele estava próximo demais, só pude sentir seus dedos gelados tocando a lateral do meu rosto antes de ver todo o quarto girar rapidamente e ser tomado repentinamente por uma escuridão.

[...]

Abri meus olhos lentamente, passando a ponta dos dedos na cabeça por senti-la doer. Pude ouvir os grunhidos baixos de Dark na ponta da cama, mas ao me sentar percebi que ele estava apenas brincando com aquele... garoto.

Me levantei em desespero, abraçando-me a um travesseiro. Vasculhei cada espaço do quarto com o olhar, não havia nada para que pudesse usar para me defender.

— Quem é você? — Questionei alto, fazendo ele me olhar de soslaio e sorrir, acariciando a cabeça do felino que miou quando ele parou de acaricia-lo.

— Deveria ficar sentada, você tomou um remédio forte pra dormir e se cair mais uma vez, só vai piorar a dor de cabeça.

Dark parecia se divertir, parecia mais um cachorro do que um gato normal que só faz barulhos estranhos e dorme onde cair.

— Me responda. Quem é você?

— Gasparzinho, o fantasminha camarada. — Ele respondeu debochado, ignorando-me, o que me fez bufar sem paciência.

Sair correndo até a cozinha e pegar uma faca parecia uma ideia ótima, porém burrice minha, ele é algum demônio, fantasma, talvez o próprio Lúcifer em carne e osso. Ou não tanto, precisava ter certeza antes. Joguei o travesseiro em minhas mãos em sua direção, atingido sua cabeça, fazendo-o se levantar. Certo, as coisas não o atravessavam.

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